LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, CONTROLE DOS CORPOS E REPRODUÇÃO SOCIAL EM TEMPOS DE FASCISTIZAÇÃO POLÍTICA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/rf.12.2.62562

Palavras-chave:

aborto; direitos reprodutivos; feminismo; materialismo; extrema-direita

Resumo

O controle sobre os direitos reprodutivos está no centro da disputa sobre a reprodução social no capitalismo. A falta de autonomia para decidir sobre uma gestação é, após o feminicídio e a violência de gênero, uma das expressões mais extremadas da apropriação da máquina-força-de-trabalho feminino (Guillaumin, 1992), que permite a manutenção da divisão sexual do trabalho (Kergoat, 2009) e, consequentemente, de uma forma específica de exploração-dominação estruturante para a sustentação do sistema capitalista. Desde a Nova República, o acesso aos direitos reprodutivos no Brasil tem sido moeda de troca em negociações políticas no campo progressista, e, mais recentemente, com a intensificação da agenda neoliberal, alvo de ataques pela extrema-direita. Neste artigo, trataremos da ofensiva conservadora ao aborto legal considerando o entrelaçamento entre o backlash atual e o neoliberalismo.

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Biografia do Autor

Maíra Kubik Taveira Mano

É graduada em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo, pela PUC-SP (2003) e pós graduada em Gênero e Comunicação pelo Instituto de Periodismo José Martí, de Havana, Cuba (2011). É mestra em Ciências Sociais pela PUC-SP (2010) e doutora em Ciências Sociais pela Unicamp (2015), na linha de pesquisa de Estudos de Gênero, com doutorado sanduíche no Centre d Enseignement, de Documentation et de Recherches pour les Etudes Féministes (CEDREF) da Université Paris 7 - Diderot. Visiting scholar no Departamento de Ciência Política e no The Gender and Sexualities Studies Institute da New School for Social Research (2021). Investigadora visitante no Instituto Interdisciplinarios de Estudios de Género da Universidad de Buenos Aires (2022). Especialista em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana pela Fundação Visconde de Cairu em parceria com o Instituto de Psicanálise da Bahia (2023). Como jornalista, foi editora do jornal Le Monde Diplomatique Brasil e da revista Sem Terra. É professora adjunta da área de Teorias Feministas, do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (FFCH/UFBA), do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM/UFBA) e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais. É pesquisadora do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher), na linha de Gênero, Poder e Políticas Públicas

Eliane Vieira Lacerda Almeida

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia. Atuou como Pesquisadora Externa do Observatório de Desenvolvimento Econômico e Social da Baixada Fluminense. Mestra em Direito pelo Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGD/UNIRIO). Concluiu a graduação em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Possui Ensino Médio integrado com o curso técnico em Gestão em Serviços de Saúde, cursado na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, pertencente à Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV-FIOCRUZ). Atua como advogada nas áreas de direito criminal, de gênero e de família, com ênfase no atendimento a mulheres.

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Publicado

2024-12-11

Como Citar

MANO, M. K. T.; VIEIRA LACERDA ALMEIDA , E. . LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, CONTROLE DOS CORPOS E REPRODUÇÃO SOCIAL EM TEMPOS DE FASCISTIZAÇÃO POLÍTICA. Revista Feminismos, [S. l.], v. 12, n. 2, 2024. DOI: 10.9771/rf.12.2.62562. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/62562. Acesso em: 19 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Mulheres e Lutas Políticas na América Latina: Perspectivas Materialistas