Vida universitária e saúde mental
A produção coletiva de cuidados na contramão da medicalização do sofrimento
DOI:
https://doi.org/10.9771/re.v11i3.42147Keywords:
vida universitária, sofrimento, produção de cuidados, racismo, orientação acadêmica.Abstract
Este artigo pretende contribuir para a compreensão e o enfrentamento do aumento de situações de sofrimento e adoecimento psíquico, especialmente de estudantes, no ensino superior. Busca-se analisar a produção de sofrimentos discentes e de fracasso acadêmico em uma universidade pública, de uma perspectiva crítica à medicalização dos sofrimentos, à meritocracia e ao produtivismo que vigoram nas universidades e no mundo neoliberal. Apesar da vigência de políticas afirmativas que democratizaram o acesso de segmentos sociais historicamente marginalizados ao ensino superior brasileiro na última década, práticas excludentes ainda atravessam o cotidiano universitário. Discute-se uma pesquisa-intervenção em um curso de graduação, articulando dados sobre o perfil de alunos/as ingressantes e os desafios por eles/as vividos, a uma experiência de grupo com docentes, discentes e técnicos daquele curso. A Orientação Acadêmica enquanto mote para um Ciclo Formativo grupal revelou-se dispositivo capaz de propiciar trânsitos entre o instituído e o instituinte, engendrando, no campo da educação, a produção coletiva de cuidados. A experiência grupal permitiu reconhecimentos recíprocos e elaborações coletivas para o enfrentamento de situações associadas ao sofrimento e ao fracasso acadêmico, tais como: sobrecarga, avaliação e racismo estrutural. Dialogando com contribuições teóricas da psicologia escolar crítica e do pensamento decolonial, o texto desvela potencialidades na escuta, na troca de saberes e experiências, bem como na mobilização de responsabilizações coletivas que trafegam na contramão da medicalização, do silenciamento e da despolitização de sofrimentos deflagrados pelo racismo e outras opressões estruturais.
Downloads
References
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural, Pólen Livros, São Paulo, 2019.
BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Iray Carone, Maria Aparecida Silva Bento (Organizadoras). Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58)
BOAL, Augusto. Jogos teatrais para atores e não atores, Cosac Naify, São Paulo, 2015.
BRUM, Eliane. Brasil Construtor de Ruínas Um olhar sobre o país de Lula a Bolsonaro. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2019.
COULON, Alain O Ofício do Estudante: a entrada na vida universitária. In: Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 1239-1250, out./dez., 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ep/v43n4/1517-9702-ep-43-4-1239.pdf
FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas, Edufba, Salvador, 2008.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Giachini, Enio Paulo. Vozes, Petrópolis, 2017
INEP. Sinopse Estatística Educacional Superior 2016. [online]. Brasília: INEP, 2017. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-superior>. Acesso em: 25 nov. 2018.
KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.
LEÃO, Thiago Marques; IANNI, Aurea Maria Zollner; GOTO, Carine Saiuri. Individualização e sofrimento psíquico na universidade: entre a clínica e a empresa de si. Revista Humanidades e Inovação, v. 6, n. 9, 2019, p. 131-143. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/1250. Acesso em 20 ago. 2020.
MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. Edições Feminismos Plurais. São Paulo, Pólen, 2019.
MUNANGA, Kabenguelê. As facetas de um racismo silenciado. In: SHUARCS, Lilia Moritz e QUEIROZ, Renato da Silva (Orgs.) Raça e Diversidade, Edusp, São Paulo, 1996. p. 212-229
PATTO, M.H.S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
SOUSA SANTOS, Boaventura. A Cruel pedagogia do vírus. São Paulo: Boitempo Editorial, 2020.