Vida universitária e saúde mental

A produção coletiva de cuidados na contramão da medicalização do sofrimento

Authors

  • Thaís Seltzer Goldstein FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (FACED-UFBA) https://orcid.org/0000-0003-4995-6559
  • Sáshenka Meza Mosqueira Universidade Paulista - UNIP
  • Irene Guillien Demouliere Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.9771/re.v11i3.42147

Keywords:

vida universitária, sofrimento, produção de cuidados, racismo, orientação acadêmica.

Abstract

Este artigo pretende contribuir para a compreensão e o enfrentamento do aumento de situações de sofrimento e adoecimento psíquico, especialmente de estudantes, no ensino superior. Busca-se analisar a produção de sofrimentos discentes e de fracasso acadêmico em uma universidade pública, de uma perspectiva crítica à medicalização dos sofrimentos, à meritocracia e ao produtivismo que vigoram nas universidades e no mundo neoliberal. Apesar da vigência de políticas afirmativas que democratizaram o acesso de segmentos sociais historicamente marginalizados ao ensino superior brasileiro na última década, práticas excludentes ainda atravessam o cotidiano universitário. Discute-se uma pesquisa-intervenção em um curso de graduação, articulando dados sobre o perfil de alunos/as ingressantes e os desafios por eles/as vividos, a uma experiência de grupo com docentes, discentes e técnicos daquele curso. A Orientação Acadêmica enquanto mote para um Ciclo Formativo grupal revelou-se dispositivo capaz de propiciar trânsitos entre o instituído e o instituinte, engendrando, no campo da educação, a produção coletiva de cuidados. A experiência grupal permitiu reconhecimentos recíprocos e elaborações coletivas para o enfrentamento de situações associadas ao sofrimento e ao fracasso acadêmico, tais como: sobrecarga, avaliação e racismo estrutural. Dialogando com contribuições teóricas da psicologia escolar crítica e do pensamento decolonial, o texto desvela potencialidades na escuta, na troca de saberes e experiências, bem como na mobilização de responsabilizações coletivas que trafegam na contramão da medicalização, do silenciamento e da despolitização de sofrimentos deflagrados pelo racismo e outras opressões estruturais.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Thaís Seltzer Goldstein, FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (FACED-UFBA)

Tem Aprimoramento em Saúde Mental Multiprofissional (CAPS Itapeva / PIDA-USP, 2000); é Mestre em Antropologia (FFCH-UFBA, 2007); Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IP-USP, 2013); Professora Adjunta do Departamento 1 da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Faced-UFBA, desde 2016); Coordenadora da Equipe de Pesquisa e Extensão: "Sankofa: Pedagogias Marginais e Diversidade" (Faced-UFBA, desde 2017)

Sáshenka Meza Mosqueira, Universidade Paulista - UNIP

Mestre e Doutora em Psicologia (IP-USP), Professora Adjunta da Universidade Paulista (UNIP-SP), ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2019-3113

Irene Guillien Demouliere, Universidade Federal da Bahia

Psicóloga (IPS-UFBA) e Licenciada em Letras-Francês (ILUFBA). Colaboradora Técnica da Equipe de Pesquisa e Extensão: "Sankofa: Pedagogias Marginais e Diversidade"(Faced-UFBA)

References

ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural, Pólen Livros, São Paulo, 2019.

BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Iray Carone, Maria Aparecida Silva Bento (Organizadoras). Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58)

BOAL, Augusto. Jogos teatrais para atores e não atores, Cosac Naify, São Paulo, 2015.

BRUM, Eliane. Brasil Construtor de Ruínas Um olhar sobre o país de Lula a Bolsonaro. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2019.

COULON, Alain O Ofício do Estudante: a entrada na vida universitária. In: Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 1239-1250, out./dez., 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ep/v43n4/1517-9702-ep-43-4-1239.pdf

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas, Edufba, Salvador, 2008.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Giachini, Enio Paulo. Vozes, Petrópolis, 2017

INEP. Sinopse Estatística Educacional Superior 2016. [online]. Brasília: INEP, 2017. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-superior>. Acesso em: 25 nov. 2018.

KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.

LEÃO, Thiago Marques; IANNI, Aurea Maria Zollner; GOTO, Carine Saiuri. Individualização e sofrimento psíquico na universidade: entre a clínica e a empresa de si. Revista Humanidades e Inovação, v. 6, n. 9, 2019, p. 131-143. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/1250. Acesso em 20 ago. 2020.

MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. Edições Feminismos Plurais. São Paulo, Pólen, 2019.

MUNANGA, Kabenguelê. As facetas de um racismo silenciado. In: SHUARCS, Lilia Moritz e QUEIROZ, Renato da Silva (Orgs.) Raça e Diversidade, Edusp, São Paulo, 1996. p. 212-229

PATTO, M.H.S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

SOUSA SANTOS, Boaventura. A Cruel pedagogia do vírus. São Paulo: Boitempo Editorial, 2020.

Published

2022-12-13

How to Cite

Goldstein, T. S., Meza Mosqueira, S., & Demouliere, I. G. . (2022). Vida universitária e saúde mental: A produção coletiva de cuidados na contramão da medicalização do sofrimento. Revista Entreideias: Educação, Cultura E Sociedade, 11(3). https://doi.org/10.9771/re.v11i3.42147

Issue

Section

Artigos