OS LUGARES DE CONTRASTE DO SÉC. XIX EM SALVADOR DA COMPANHIA DO QUEIMADO (1852-1905)
Palavras-chave:
água, Salvador, QueimadoResumo
Neste artigo problematizamos a estratégia na qual a Companhia do Queimado desenvolveu a distribuição de água potável de Salvador. Privilegiamos a temporalidade de atuação da Companhia, de 1852 a 1905, fundada com o objetivo de lucratividade através da venda d´água nos espaços coletivos da cidade e “pennas” domiciliares. Através de “casas de vendagem”, chafarizes monumentais e “pennas” domiciliares, a Companhia desenvolveu espaços de contraste entre a tecnologia e os seus hábitos de consumo. Inserida no contexto de transição do regime escravocrata para o liberal, os ganhadores, aguadeiros, agora se encarregaram do abastecimento através da revenda d´água. Ocupando os chafarizes monumentais, importados da europa, que pretendiam ser espaços de representação, ocuparam estes espaços que espelharam a imagem negra da cidade que tanto se tentou esconder. As “casas de vendagem” como espaços alternativos de venda tentaram retirar os aguadeiros das principais praças e foram instaladas em espaços precários, de apenas uma porta, cuja insalubridade foi denunciada por médicos da Faculdade de Medicina. O descontentamento com o serviço da Companhia foi uma constante devido à irregularidade do abastecimento por frequentes secas, por questionamentos relativos à qualidade d´água, preço de venda da Companhia e revenda pelos Aguadeiros. Salvador inscreveu esta dinâmica nos seus espaços através de relações compensatórias decorrente da carência deste elemento de primeira necessidade nos poços de seus quintais, nos seus hábitos de consumo e vivência dos espaços coletivos das praças. Os chafarizes foram progressivamente desarticulados, desmontados e suprimidos do espaço da cidade num processo contínuo do séc. XX, formalizando a continuada carência persistente da oferta d´água potável no espaço coletivo