A DINÂMICA DO AXÉ NA MATERIALIDADE DOS BENS MÓVEIS E IMÓVEIS DOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ
Palavras-chave:
Candomblé, Patrimônio Cultural Afro-brasileiro, Arquitetura de Terreiros, Terreiros de Salvador, Brasil.Resumo
Atualmente, mesmo com os consideráveis progressos obtidos através dos diálogos sobre a gestão do patrimônio cultural dos Terreiros de Candomblé pelas instituições preservacionistas, ainda vigora, no contexto de preservação desses órgãos, o pensamento que tende a uma estetização desse bem cultural. Resultando em uma petrificação e engessamento dos processos que constituem a dinâmica desses territórios. Essa prática preservacionista parece objetivar uma ressignificação das Casas de Santo que se encontram sob a tutela dessas instituições, como ícones ou símbolos de um passado sacralizado, no sentido de algo que deve permanecer intocado, inalterado, de modo que essa imutabilidade seja projetada no futuro para a fruição da posteridade. Em contrapartida, existe o risco da fossilização do seu presente volátil e transformativo. Ainda assim, sistematicamente, as congregações religiosas dos Terreiros de Candomblé tentam, num esforço contínuo, atender ao discurso conceitual dos órgãos preservacionistas, estando atentas às questões relativas a valores históricos, ao patrimônio cultural e a outros conceitos e ideais de preservação fundamentados no axioma do “patrimônio de pedra e cal”[1] que favorece, a monumentalidade, a singularidade histórica e artística, e a imutabilidade arquitetônica. Conceitos diametralmente opostos à realidade das comunidades de Terreiro, que concebem seus territórios, edificações, objetos e espaços como elementos dinâmicos e mutáveis, em perene processo de transformação. A partir dessa problematização é que buscaremos desvelar e elucidar as relações, os conceitos e os significados desses artefatos. Tendo como estudos de caso a Coroa de Xangô do Terreiro da Casa Branca, e a Casa de Omolu do Terreiro do Afonjá.
[1] Expressão que designa os bens tombados ou passíveis de tombamento, cujos valores estão basicamente centrados no seu caráter formal, estilístico, histórico, artístico e arquitetônico, e que aludem aos grupos sociais de tradição europeia, que, no Brasil, são aqueles identificados com as classes dominantes.