Editorial
Resumo
C@ros leitores,
Aproveitamos este editorial da terceira edição de 2017 para reforçar o convite para o Fórum Comemorativo 25 anos da O&S, que ocorrerá em 2018, intitulado “A questão racial no mundo empresarial”. Proposta pelos pesquisadores Pedro Jaime, Paula Barreto e Cloves Oliveira, os quais também são os editores da referida edição, retoma e atualiza uma questão que há mais de um século preocupa as ciências sociais no Brasil. No entanto, tem sido esquecida pelo campo da administração no país.
Esta edição da O&S, número 82, volume 24, envolve uma diversidade de temas, como de costume. Notamos palavras-chave como estas: interlocking directorates, liberdade econômica, gestão social, mundo-da-vida, relações de classe, vigilância eletrônica, pesquisa empírica, aprendizagem individual e de grupos.
O primeiro artigo, intitulado “As liberdades no capitalismo de laços”, de Davide Carbonai e Carlo Drago, procura relacionar dois tipos de liberdade econômica, a partir de uma análise de redes sociais dos principais capitalismos europeus. O primeiro tipo de liberdade econômica (negativa) depende de fatores externos ao sistema empresarial. O segundo tipo (liberdade positiva) refere-se a fatores propriamente internos, especificamente à liberdade da empresa de atuar no mercado de forma livre e independente de outras empresas. Esse segundo tipo de liberdade depende do uso e da difusão dos interlocking directorates e das redes por estes criadas.
O segundo artigo do número, “Transparência orçamentária: razões do descompasso entre os estados brasileiros”, foi publicado por Robson Zuccolotto e Marco Antonio Carvalho Teixeira. Os autores buscaram identificar porque descompassos entre transparência e democracia ocorrem nos municípios, dado que estão todos sob o mesmo arcabouço legal. Os resultados contrariam, em parte, a literatura internacional e nacional sobre o tema, ao apontar que receita corrente, superavit e partidos políticos não são razões para o descompasso. Os autores destacam que há fatores não explorados na literatura, como rating, crises, vontade política, enforcement legal e outros.
“O locus da gestão social no contexto das inter-relações e tensões entre mundo-da-vida (lebenswelt) e sistema (system)” é o terceiro artigo deste número. Os autores Valderí de Castro Alcântara e José Roberto Pereira problematizam os loci da gestão social no contexto das inter-relações e tensões entre o mundo-da-vida e o sistema, à luz de Jürgen Habermas e sua recepção crítica. Dessa forma, as tensões da gestão social que se materializam entre Estado, mercado e sociedade civil são ressaltadas. Os autores propõem que o locus da gestão social seja compreendido a partir dos processos intersubjetivos entre o mundo-da-vida e o sistema, no intuito de superar a compressão dicotômica que situa a gestão epistemologicamente e socialmente em polos excludentes.
O quarto texto, de autoria de Elcemir Paço Cunha e Leandro Theodoro Guedes, intitulado “Recepções do ideário marxista pelo pensamento administrativo: da oposição indireta à assimilação relativa”, tem o objetivo de explicitar criticamente as formas pelas quais o ideário marxista se apresentou para Taylor, Mayo, Drucker, Fayol e Etzioni como importantes expoentes do pensamento administrativo. A pesquisa mostra que as formas de recepção foram a de recusa indireta, de recusa direta, de aceite indireto e de assimilação relativa. Chama a atenção o fato de persistir o movimento de oposição em relação ao ideário marxista.
O quinto texto do número é “Vigilância eletrônica e resistência em centrais de atendimento”, de Rômulo Andrade de Souza Neto e Anatália Saraiva Martins Ramos. Nesse artigo, os autores identificam as atividades monitoradas eletronicamente pelos gestores de centrais de atendimento e descrevem os comportamentos de resistência informal à vigilância eletrônica percebidos por eles em seus subordinados. Fundamentando-se na literatura de resistência ao controle, os resultados mostram o uso intenso das tecnologias para monitorar os operadores. A maioria dos gestores identificou situações de resistência em seus subordinados.
Carolina Saraiva Maranhão e José Ricardo de Paula Xavier Vilela publicaram nesta edição o artigo “A imanência entre a teoria crítica e a pesquisa empírica: contribuições para os estudos organizacionais”. Para os autores, pesquisas no campo da administração têm se baseado no referencial da teoria crítica para balizar estudos de natureza teórica e ensaística. Diante disso, o objetivo do artigo é revelar a imanente relação entre teoria crítica e pesquisa empírica. Os autores resgatam o projeto empírico da teoria crítica, em especial em Adorno.
O sétimo artigo deste número, intitulado “Mídias sociais e administração pública: análise do sentimento social perante a atuação do governo federal brasileiro”, publicado por Daniel José Silva Oliveira e Paulo Henrique de Souza Bermejo, busca identificar como a análise de sentimento pode ser um instrumento de mensuração da opinião pública sobre a atuação do governo de forma a contribuir para a avaliação da administração pública. Trata-se de um estudo aplicado, interdisciplinar, exploratório, qualitativo e quantitativo. Foram coletadas, processadas e analisadas, aproximadamente, 130 mil mensagens postadas no Facebook e no Twitter sobre temas escolhidos.
O oitavo e último artigo do número 82 da O&S, “Revisão bibliográfica de escalas de aprendizagem organizacional com focos em seus processos e resultados, em seus enablers ou em aprendizagem e desempenho”, foi publicado por Bruno Chaves Correia-Lima, Elisabeth Loiola e Cláudio Bezerra Leopoldino. Nesse artigo, os autores analisam escalas utilizadas para investigar a aprendizagem organizacional, tomando-se como referência as clivagens existentes no campo. As 24 escalas selecionadas, classificadas e revisadas não estimulam a associação das evocações dos entrevistados com experiências concretas de aprendizagem. Tratam sempre de aprendizagens genéricas, sugerindo que os respondentes aprendem de forma contínua. Consequentemente, o uso dessas escalas sugere que inexistem fronteiras entre situações de trabalho e de aprendizagem.
Boa leitura!
Ariádne Scalfoni Rigo
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