Administração e a questão social: Entre o “robinsonismo” e o “étiennismo”
Palavras-chave:
Ensino da administração, Questão econômica, Questão social e ser socialResumo
Nas últimas décadas de hegemonia liberal econômica ou, como alguns desejam denominar, neoliberal, o determinismo de mercado se sobressai à sociedade. Tal leitura de mundo - o mercado não como um enclave da sociedade, mas desejando substituí-la - tem influenciado, sobremaneira, as instituições de ensino superior (IES), notadamente aquelas dedicadas às ciências sociais aplicadas, como é o caso da Administração. Desejando sair do marasmo predominante nos textos acadêmicos, recorremos à estética desde os romances Robinson Crusoé e Germinal para inferir que as teses centrais dessas ficções - individualismo e coletivismo - podem ser facilitadores da interpretação das matrizes curriculares praticadas nas IES dedicadas ao ensino e à pesquisa em Administração. Parece ser, com as exceções de praxe, que o ensino e a pesquisa, nesta área de conhecimento, têm reforçado a relação senhor-escravo em detrimento de perceber o trabalhador como um ser social, portanto político, com potencial decisório no processo produtivo. Desse modo, Robinson Crusoé, como amo de Sexta Feira, guarda coerência com as práticas gerenciais contemporâneas em oposição ao desejo emancipatório de Étienne Lantier. O deus mercado, com o seu potencial fetichista que tudo transforma em mercadoria através do valor de troca, deve ser exorcizado por meio da intersubjetividade dos seres sociais, referenciado pelo valor de uso. Assim, no texto, os personagens Robinson e Étienne são personagens antitéticos sem, contudo, reconhecer que o primeiro exprime a realidade do mundo do trabalho, do sistema, e o segundo delineia uma sociedade gerencialmente compartilhada desde o mundo da vida.
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