Chamada de trabalhos número 5!

2021-08-16

Aberta chamada de trabalhos para o número 5 da 

Metamorfose Revista Interdisciplinar de Arte, Ciência e Tecnologia

Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos

Dossier sonho e pesadelo

Recebemos contribuições nos formatos de artigo científico, ensaio artístico, manifesto, poema, entrevista e diálogo.

Cronograma Edição n. 5:

15.08.2021 a 01.10.2021 - Chamada aberta para submissão de trabalhos

15.09.2021 a 31.10.2021 - Avaliação cega por pareceristas indicados

31.10.2021 a 15.11.2021 - Correção e ajustes pelos autores

15.11.2021 a 15.12.2021 - Editoração e design

21.12.2021 - Lançamento 

 

“O sono é um hiato incontornável ao roubo de tempo ao qual o capitalismo nos submete” escreve Jonathan Crary em seu seminal “Capitalismo tardio e os fins do sono”.  Através da descrição de pesquisas do departamento de defesa dos Estados Unidos, que têm como objetivo principal estudar formas de treinar soldados capazes de ficar dias sem dormir, o autor analisa como tecnologias desenvolvidas no âmbito militar não tardam a ser estendidas em aplicações diversas em nossas vidas, submetidas à lógica produtivista e extrativista de esgotamento dos recursos naturais - no caso a nossa própria capacidade de dormir, nesta sociedade do cansaço.

Dormir, contudo, não representa apenas uma pausa para regeneração de forças produtivas, mas a produção de um espaço/ tempo de imaginação, pensamento e formas de comunicação que escapam às condições impostas pela consciência e a razão. Desde as reflexões sobre os aspectos fisiológicos, psicológicos ou metafísicos dos sonhos, propostas pelo filósofo Henri Bergson, passando pelas teorias freudianas e junguianas do inconsciente, ou pelos devaneios do filósofo da ciência Gaston Bachelard, muito se tem escrito a respeito no último século. Recentemente o neurobiólogo Sidarta Ribeiro definiu o sonho como um espaço de simulação, onde articulamos pensamentos e memórias livremente, favorecendo a produção de novas ideias e a resolução de problemas por ângulos não imaginados no estado de vigília. 

No estágio do tecnocapitalismo cognitivo no qual nos encontramos, são nossos próprios sonhos que estão sendo colonizados e ocupados por estruturas extrativistas que trabalham para nos expropriar tempo, tranquilidade e liberdade. Não seria exagero considerar o reino dos sonhos como um terreno de contraataque nesta guerra híbrida, que opera no plano do biopoder e controle de nossos corpos e subjetividades. Neste sentido o movimento de descolonização das subjetividades passa por uma descolonização do dormir e do sonhar, uma liberação do inconsciente para que potências criativas livres possam emergir.

Poesia de Francisco Mallmann / Faixa-ação realizada por Marina Persegani, Luísa Lopes, Oriana Di Monaco, Giovanna Pazin, Luísa Barrichello, Thallyta Piovezan, Mayara Brasil, Nath Walz, Gabriel Vitor, Fernanda Paludo, Roberta Sartor e Milena Cramar / Fotografia de Thallyta Piovezan

A recente disseminação de um vírus mutante de alta letalidade em escala global, onde cada um de nós converte-se em virtual vetor de contaminação configura uma situação extrema que atinge o imaginário de forma tão ou mais abrangente do que os corpos. Muitas pessoas têm relatado que os sonhos se tornaram mais intensos com a situação do isolamento social. Mas se a restrição à livre circulação como medida de controle sanitário significou reclusão e isolamento para algumas de nós, para muitas outras significou o risco habitual, quando não acirrado, como o pesadelo do aumento nos casos de violência doméstica contra as mulheres no Brasil, observado em todas as classes sociais. É assim que o universo da doença nos coloca a um só tempo diante do medo de contágio que a proximidade entre corpos, respirações e hálitos representa, e da dimensão do cuidado de si e do outro (tema abordado em nosso número anterior) que nos conecta como comunidade.

Se para determinados sujeitos e corpos o próprio conceito de progresso significa o pesadelo concreto de políticas de morte e extermínio, nosso tempo de catástrofes parece estender o medo de ser morto e a impossibilidade de respirar à todos nós. Desastres-crimes ambientais e sociais provocam crises de refugiados, enchentes, incêndios e secas de proporções devastadoras em diversos pontos do planeta e as respostas dos governos neoliberais nos mantém imersos em um pesadelo constante, uma espécie de assombração contínua, como um “coma colonial”, para tomar emprestada a expressão usada pelo artista Wapichana Gustavo Caboco.

Em 1963 Martin Luther King discursava para mais de 200 mil pessoas sobre o sonho de uma sociedade igualitária, onde as pessoas não fossem julgadas pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter. Quase 60 depois, quais os sonhos pelos quais estamos dispostas a lutar? Quais as imaginações técnicas e políticas se tornam necessárias?

Encorajamos a publicação de trabalhos que tratem dos temas relacionados abaixo, mas não necessariamente restritos a eles:

  • Cosmosonhos, onirocracia e oniropolítica;
  • Imaginação ativa e sono REM;
  • Insônia e distúrbios de sono;
  • Capitalismo cognitivo e sonhos sequestrados;
  • Utopias, distopias e heterotopias;
  • Visões de mundo porvir e ficções especulativas;
  • Algoritmos, agouritmos e algorrítmica: tecnologias preditivas e simuladoras de realidades;
  • Realidades mistas, realidades virtuais, realidades vegetais e realidades aumentadas;
  • Machine learning, inteligência artificial e redes neurais;
  • Neurologia, neuroquímica e terapias do sono;
  • Surracionalismo e surrealismo; 
  • Vigilia, vigilância e controle;
  • Intuição, vidência e futurologias;
  • Devaneio e pensamento autônomo;