AS CORES DO LENÇO VERDE: BRANQUITUDE E PSICANÁLISE EM TRÂNSITO PELOS FEMINISMOS
The colors of the green scarf: whiteness and psychoanalysis in transit through feminisms
DOI:
https://doi.org/10.9771/rf.12.2.62170Palavras-chave:
identidade; aborto; psicanálise; justiça reprodutiva; feminismoResumo
Quem somos nós, as feministas, que portam o lenço verde na luta pela legalização do aborto? O presente artigo se dá a partir de um corpo brasileiro em trânsito por Buenos Aires. Um corpo atravessado pela categoria mulher, pela branquitude e pela psicanálise. Trânsito cuja afetação produz efeitos na posição de escuta, acionando, neste ensaio-testemunho, a análise de discurso possível a respeito das textualidades que compõem os feminismos e seus territórios. O ensaio, como recurso metodológico, é entendido, aqui, como escritura que coloca autora e mundo em questão. Das Madres da Plaza de Mayo, em Buenos Aires, ao coletivo Sister Song, em Chicago, a reinvindicação pelo direito aos filhos vivos se amplia para a luta pela vida das mulheres, meninas e pessoas que gestam, ou seja, reivindica-se também o direito às filhas vivas. Concluímos, com as contribuições da linguística, que a noção de identidade (quem somos nós?) carrega o traço da diferença em sua constituição e em sua composição com outras identidades. Identidades feministas essas que não se apaziguam pois há algo que sempre resta de inassimilável, irrepresentável, forçando a passagem rumo à criação da resposta para a pergunta que move o ensaio.
Palavras-chave: identidade; aborto; psicanálise; justiça reprodutiva; feminismo
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