O conservadorismo distópico à brasileira: Direitos sexuais e direitos reprodutivos e a pandemia da COVID-19 no Brasil

Autores

  • Paula Gonzaga Universidade Federal de Minas Gerais
  • Letícia Gonçalves Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Claudia Mayorga Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

A pandemia do novo agente do coronavírus é considerada a maior crise sanitária da história do Brasil. Em meio às reverberações econômicas, políticas, psicológicas e sociais que remodelam o cotidiano dos sujeitos, o rol dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos tem sido alvo de sucessivos ataques, muitas vezes eclipsados pelos alarmantes números de óbitos decorrentes da Covid-19. Contrariando orientações da Organização Mundial da Saúde que considera os serviços de saúde sexual e saúde reprodutiva, serviços essenciais e que devem ser garantidos em meio a pandemia, o Estado brasileiro, seguindo uma tendência conservadora internacional, tem negligenciado essa agenda e destituído de legitimidade direitos já garantidos. O objetivo desse texto é apresentar, a partir das lentes analíticas do feminismo decolonial, algumas interpelações acerca da obliteração que os atores políticos têm imposto à pauta dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos a partir de uma instrumentalização da pandemia e das suas vítimas. Alinhando setores progressistas e conservadores em torno do argumento de pretensa defesa da vida e suas variáveis, o racismo estrutural e a política anti-mulher seguem legitimando a negação de direitos e mortes evitáveis em prol de um projeto eugenista de brasilidade que cada vez mais, explicita suas premissas de quais vidas são ou não dignas de defesa.

 

Palavras-Chave: Direitos Sexuais; Direitos Reprodutivos; Pandemia; COVID-19


 

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Biografia do Autor

Paula Gonzaga, Universidade Federal de Minas Gerais

Paula Rita Bacellar Gonzaga é doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, professora do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, co-coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes na UFMG. 

 

Letícia Gonçalves, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Letícia Gonçalves é doutora em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, pela UFRJ, FIOCRUZ, UERJ e UFF, professora substituta do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da UFRJ, onde também realiza estágio de pós-doutorado.

Claudia Mayorga, Universidade Federal de Minas Gerais

Claudia Mayorga é doutora em Psicologia Social pela Universidad Complutense de Madrid (Espanha), professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), co-coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes na UFMG.   


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Publicado

2021-05-09

Como Citar

GONZAGA, P.; GONÇALVES, L.; MAYORGA, C. O conservadorismo distópico à brasileira: Direitos sexuais e direitos reprodutivos e a pandemia da COVID-19 no Brasil. Revista Feminismos, [S. l.], v. 9, n. 1, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/44330. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Justiça Reprodutiva