Um Espaço de Saudade: A Feira da Praçados Namorados em Vitória/ES na Memória de seus Integrantes
Palavras-chave:
Memória, Cotidiano, Espaço Percebido, Etnografia, FeiraResumo
O presente artigo tem por objetivo compreender a influência da construção e reconstrução das memórias a partir das narrativas dos sujeitos na ressignificação do espaço simbólico de uma feira de artesanato. Para tal, buscou-se articular conceitos relacionados à memória organizacional, cotidiano e espaço percebido. A etnografia foi usada como método de coleta e interpretação de dados, além das narrativas dos sujeitos que trabalham na feira há mais de 20 anos, expressas em trechos de diários de campo, elaborados seguindo a técnica de observação participante. Como resultado, evidenciou-se a existência de uma memória coletiva que influencia na percepção do espaço simbólico percebido da Feira de Artesanato e Artes da Praça dos Namorados, da cidade de Vitória/ES. Tal espaço percebido por seus sujeitos como espaço de amizade, cooperação, realização pessoal, espaço de liberdade e saudade, revela um tipo de interação que supera a materialidade física da feira, ampliando seu valor simbólico e mediando as práticas cotidianas nesse contexto organizacional. Este artigo contribui para a ampliação das discussões que envolvem memória organizacional, evidenciando, empiricamente, de que forma as lembranças e memórias influenciam a percepção do espaço organizacional, configurando relações construídas entre sujeitos e o espaço percebido.
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