INTÉRPRETES AFRICANOS E DOMÍNIO COLONIAL FRANCÊS NO SUDÃO OCIDENTAL (1863-1898)
DOI :
https://doi.org/10.9771/rhufba.v10i2.52421Résumé
Este artigo aborda as ações de africanos que desempenharam o papel de intermediários transacionais entre a administração colonial francesa em expansão e as populações do Sudão ocidental. Região de grande heterogeneidade linguística, os intérpretes viabilizaram a comunicação entre militares e administradores franceses e falantes de línguas como fulfulde, uolofe, bambara, diúla e árabe, entre outras. Nessa tradução, os intérpretes operavam a mediação cultural e política entre repertórios distintos em uma relação que se estabelecia assimetricamente. Nosso objetivo é compreender a maneira como estes intérpretes mobilizaram sua posição ambígua e os vácuos existentes entre o desconhecimento e o conhecimento pretendido que os franceses possuíam das populações locais e, de outra parte, o desconhecimento e o conhecimento pretendido que estas populações possuíam dos franceses. Para tanto, recorremos a uma variada documentação produzida pelos franceses, como relatos de viagem, tratados, recolhas de contos ou tradições orais – peças da “biblioteca colonial”. Os intérpretes africanos, que podiam ser formais ou ocasionais, permitem entender a agência de alguns africanos em face da violência do estabelecimento da dominação colonial, bem como as transformações profundas vivenciadas pelas sociedades que lidaram de maneiras diversas com essa modalidade de dominação até então desconhecida.