A CONSTRUÇÃO DA HONRA DAS MULHERES NEGRAS TRABALHADORAS NO PÓS ABOLIÇÃO EM SALVADOR
DOI:
https://doi.org/10.9771/rhufba.v10i2.52405Resumen
Nas primeiras décadas do século XX, com as novas configurações das relações sociais e trabalhistas, a imersão do trabalhador assalariado numa “nova sociedade” passou por dois movimentos essenciais: a construção de uma ideologia atualizada acerca do trabalho, bem como a vigilância e a repressão contínuas exercidas pelas autoridades policiais e judiciárias. Com a abolição da escravidão e a necessidade da burguesia de criar novas formas de trabalho que, de certo modo, ainda carregassem características escravistas para, assim, manter o alto lucro, novos discursos foram construídos, dentre eles, o de que o homem trabalhador é um homem honrado, digno. Mas, eram as mulheres negras trabalhadoras consideradas honradas? Ainda que, desde sempre, elas fossem responsáveis por sustentar famílias inteiras, as mulheres negras sempre lutaram para serem consideradas dignas e para que não fossem perseguidas de acordo com a moral da época, que relegou as mulheres brancas aos espaços privados – ainda que as negras estivessem sempre no espaço público. Neste trabalho, procuro analisar a construção da honra dessas mulheres negras egressas do sistema escravista, agora trabalhadoras livres, e a configuração do mundo do trabalho após a abolição da escravidão em Salvador. Nesse percurso, proponho reflexões sobre o que é necessário, numa sociedade racista e machista, para que uma mulher negra seja considerada digna, ainda que preencha todos os requisitos sociais e morais exigidos pelas classes dominantes, com base na lei da vadiagem (1941).