“MOLHERES DE TANTA VERTUDE, TALENTO E PRUDÊNCIA”
ideais religiosos e práticas devotas no Convento de Santa Clara de Macau, Século XVII
DOI:
https://doi.org/10.9771/rhufba.v10i2.52391Resumen
Erigido entre 1633 e 1634, o Convento de Santa Clara de Macau foi o segundo mosteiro feminino fundado nos domínios ultramarinos portugueses da Época Moderna. Inserido em uma cidade que enfrentava problemas no mercado matrimonial à época, esse mosteiro de clarissas abrigou, entre os anos 1633 e 1688, 41 religiosas professas. Uma instituição desse porte, além de conferir prestígio às cidades coloniais, se constituía como uma opção para as mulheres que viviam nesses espaços. Desse modo, desde aquelas empurradas pelas famílias para esses cenóbios ou as que optaram por fazer os votos e professar na casa, o mundo conventual servia como um ambiente em que conseguiam acessar uma certa autonomia e liberdade para diversas funções que lhes eram de outro modo negadas. A proposta aqui em questão investiga as formas pelas quais as religiosas de Santa Clara se organizaram e foram representadas, em matéria de vivência espiritual, no século XVII, a partir do mosteiro macaense. No centro de análise está um manuscrito anônimo, produzido em finais do Seiscentos, que narra alguns aspectos da vida das que habitaram nesta casa naquela centúria. Embora esse texto visasse construir uma imagem santificada daquele espaço, podemos perceber, ainda que indiretamente, os caminhos espirituais empreendidos por essas religiosas e a circulação de ideais e práticas devotas caras à espiritualidade da Ordem na época, sobretudo por estarem debaixo da Primeira Regra de Santa Clara e, assim, pertencerem ao ramo observante franciscano que buscava, justamente, um retorno aos preceitos do “poverello” de Assis. Comparando os perfis que emergem das narrativas elaboradas sobre essas clarissas com uma parcela da produção biográfica e hagiográfica da Ordem no período, analisaremos os “topoi” recorrentes na literatura produzida sobre, por e para essas mulheres, atentando para como esses discursos se conformaram com movimentos espirituais empreendidos por elas na construção de ideais religiosos modelares.