Assetização dos fluxos de natureza: uma interpretação da conversão das correntezas, ventos e raios solares em ativos financeiros

Autores

  • Lucas Trentin Rech Universidade Federal da Bahia
  • Helena Marroig Barreto Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.9771/rene.v16i2.55496

Resumo

Este trabalho caracteriza a assetização não de um ou outro rio, de uma ou outra porção de terra, mas a assetização do fluxo natural, da correnteza dos rios, do sopro dos ventos e da incidência solar. Para isso apresentam-se as interpretações sobre o fenômeno da assetização presentes na literatura para, a partir das categorias marxianas, reenquadrá-lo enquanto desdobramento ontológico do valor. Conclui-se que a existência do valor na forma de asset exige a homogeneização de diferentes coisas e objetos com diferentes qualidades, em algo abstrato, indiferenciável. Através da assetização, o capital expande seus domínios, projetando seu controle para o futuro de maneira desmedida. O processo de trabalho e o metabolismo entre a humanidade e natureza encontram-se sob a lógica do capital não apenas no presente, mas também no futuro.

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Biografia do Autor

Lucas Trentin Rech, Universidade Federal da Bahia

Doutor pela Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia. Professor do Departamento de Economia dessa mesma universidade. Integrante do grupo de pesquisas em desenvolvimento econômico (GEPODE) tem como foco de pesquisa os desdobramentos contemporâneos do capitalismo e as insuficiências da ortodoxia econômica.

Helena Marroig Barreto, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE-IE).

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Publicado

2023-11-24

Como Citar

Trentin Rech, L., & Marroig Barreto, H. (2023). Assetização dos fluxos de natureza: uma interpretação da conversão das correntezas, ventos e raios solares em ativos financeiros. Nexos Econômicos, 16(2), 38–63. https://doi.org/10.9771/rene.v16i2.55496