Editorial
Abstract
Caros leitores,
Este é o número da O&S que abre 2018, ano em que a revista completa 25 anos de existência superando desafios. Nesse ano, lançaremos uma edição elaborada com base no que chamamos de Fórum Comemorativo 25 anos O&S. Nessa edição, proposta e organizada pelos professores Pedro Jaime (FEI-SP), Paula Barreto (FFCH-UFBA) e Cloves Oliveira (FFCH-UFBA), os artigos apresentarão e discutirão “A questão racial no mundo empresarial”. Aguardamos ansiosos o resultado desse trabalho editorial, que, certamente, marcará o aniversário da revista.
Nos últimos dois anos, os processos editoriais da O&S mobilizaram 275 avaliadores. Ficamos sempre gratos pelo apoio incondicional de tantos colegas e pesquisadores que entendem a importância de realizar essa tarefa e que efetivamente contribuem com nossa revista. Nossos avaliadores nos permitem trabalhar com harmonia e atingir “velocidade de cruzeiro”, como diz nosso ex-editor, professor Sandro Cabral.
Em 2017, pudemos contar com outro tipo de apoio. O apoio financeiro da Capes, que foi imprescindível para manter e melhorar a revista em tempos difíceis como esse em que nos encontramos no Brasil. Além da Capes, agradecemos sempre ao Ibepes e à sua equipe que, gratuitamente, nos apoiam nos vários serviços editoriais que um periódico A2 exige. E, como não poderia deixar passar, é preciso agradecer aos professores da Escola de Administração da UFBA pelo apoio e carinho com a revista. Embora corramos o risco de esquecer alguém, gostaríamos de mencionar os professores Adriano Leal Bruni, Ana Cristina Muniz Décia, Eduardo Davel, Elisabeth Loiola, Denise Ribeiro de Almeida, Diva Rowe, Ivone Freire Costa, José Antônio Gomes de Pinho, Elisabete Santos, Fábio Ferreira, Grace Kelly Marques Rodrigues, Horácio Nelson Hastenreiter Filho, José Célio Silveira Andrade, Leidimar Cândida dos Santos, Marcus Alban, Maria Teresa Franco Ribeiro, Paulo de Arruda Penteado Filho, Raimundo Santos Leal, Rodrigo Ladeira, Roberto Brazileiro Paixão, Tânia Moura Benevides e outros com os quais pudemos contar nos anos anteriores.
Algumas palavras-chave desta edição indicam a diversidade de temas que estão nela publicados, tais como: hermenêutica crítica; ideologia; prática social; sexualidade, LGBTs; processos de organizar; espaço social; favelas; direitos humanos e empresas; papel social; competências profissionais; professor; vida organizada; fãs; potterheads; parceria público-privada; hospital público e outras. A diversidade de assuntos atesta o interesse da revista em publicar temas novos ou releituras importantes no campo dos estudos organizacionais.
Nosso primeiro artigo, intitulado “Empresas, violação dos direitos humanos e ditadura civil-militar brasileira: a perspectiva da Comissão Nacional da Verdade”, de Alessandra de Sá Mello da Costa e Marcelo Almeida de Carvalho Silva, tem por objetivo identificar e destacar a participação de empresas brasileiras em ações e processos de violação dos direitos humanos durante a ditadura civil-militar brasileira. As análises partiram de documentos importantes e atestam que as violações dos direitos humanos ocorreram em frentes como: (1) pelo uso da força repressiva e de controle por meio de perseguições, prisões, torturas; (2) pelo posicionamento do trabalhador como subversivo e inimigo da nação brasileira; (3) pela criação e divulgação das listas negras; (4) pelo apoio político, ideológico e financeiro às estruturas de repressão do regime ditatorial.
O segundo artigo, “Desvelando ‘caixas-pretas’ dos textos de estratégia: uma abordagem baseada na hermenêutica crítica”, de autoria de Valderí de Castro Alcântara, André Luiz de Paiva e Mozar José de Brito, apresenta uma abordagem epistemo-metodológica para o estudo dos elementos interpretativos e ideológicos presentes nos textos que constituem as estratégias por meio da hermenêutica crítica. Os autores consideram que algumas das ‘caixas-pretas’ da estratégia são ideologias, comunicações distorcidas e deformações que “escurecem” os processos de interpretação e crítica.
O terceiro artigo, de Samira Loreto Edilberto Pompeu e Eloisio Moulin de Souza, intitulado “A produção científica sobre sexualidade nos estudos organizacionais: uma análise das publicações realizadas entre 2005 e 2014”, identifica, na área de estudos organizacionais, as principais abordagens contemporâneas sobre sexualidade. Os autores realizaram uma pesquisa bibliográfica em 14 periódicos no período de 10 anos. Os resultados indicam sete eixos de discussão, quais sejam: (1) sexualidade, poder e resistência; (2) heteronormatividade nas organizações; (3) cultura organizacional e homofobia; (4) identidade sexual e homofobia; (5) propostas de não discriminação de LGBTs; (6) espaço e socialização sexual; e (7) crítica aos saberes produzidos na academia. Percebe-se um aumento da diversidade de abordagens sobre o tema nos últimos anos, especialmente por conta dos estudos internacionais.
O quarto artigo, “Quando processos de organizar se chocam: hibridismos no espaço social de favelas”, de autoria de Vanessa Brulon e Alketa Peci, propõe-se a responder: como o encontro entre os processos de organizar de representantes do Estado e os processor de organizar dos moradores de favelas se refletem no espaço social? Para tal, foi realizada uma pesquisa de campo, de inspiração etnográfica, em duas favelas cariocas. As autoras observaram que, enquanto processos de organizar de representantes do Estado seguem padrões de lentidão e descontinuidade, os processos de organizar de moradores de favela seguem padrões de agilidade e funcionalidade. Quando os processos de organizar com padrões distintos chocam-se no espaço social de favelas, podemos observar a expressão de hibridismos no espaço, entendidos como produto das contradições, inerentes ao espaço (SANTOS, 2009)[1], entre processos de organizar com padrões distintos, que se materializam em formatos capazes de refletir as lógicas que ali se chocam.
Amon Barros é o autor do quinto artigo desta edição, intitulado “Empresas e direitos humanos: premissas, tensões e possibilidades”. O autor apresenta reflexões sobre a importância de se abrir mais espaço nas discussões no campo de administração para a reflexão sobre as responsabilidades das empresas em relação aos direitos humanos. Ele pondera sobre a responsabilização das empresas no que concerne ao respeito e à proteção de direitos humanos. Para o autor, a responsabilização moral das organizações por vias legais ou extralegais é importante e um avanço em relação ao campo cinzento em que muitas empresas operam.
O sexto artigo, de autoria de Milka Alves Correia Barbosa, Kely César Martins de Paiva e José Ricardo Costa de Mendonça é intitulado “Papel social e competências gerenciais do professor do ensino superior: aproximações entre os construtos e perspectivas de pesquisa”. O artigo, na forma de um ensaio, tem como objetivo discutir aproximações conceituais entre os construtos “papel social”, “competências profissionais” e “competências gerenciais” do professor do ensino superior. Eles argumentam que os papéis sociais que o professor de ensino superior desempenha (docente, pesquisador, gestor, orientador, etc.) pautam-se em competências profissionais específicas que podem ser efetivas, ou não, dependendo do seu ambiente e contexto de atuação. O texto possibilita iluminar as faces do papel social de professor-gestor e ampliar a discussão sobre esses construtos em um ambiente com atores e dinâmicas bastante peculiares, como o de uma instituição de ensino superior.
“A vida organizada dos fãs de Harry Potter” é o sétimo artigo deste número. De autoria de Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa e André Luiz Maranhão de Souza Leão, o texto mostra como “a saga Harry Potter” afetou sobremaneira os modos de sociabilidade, instaurando uma cultura da convergência, resultante da aproximação entre a cultura, a comunicação e a convergência das mídias, que estabeleceu uma estreita e inédita rede relacional entre tecnologias, produtores midiáticos e comunidades de fãs. Nesse contexto, as práticas dessas comunidades estabelecem verdades, influenciam indivíduos, moldam relações sociais e promovem ativismos, mostrando-se um modo contemporâneo de estar organizado, cuja forma de vida é mantida pelo imbricamento com processos de gestão ordinária e espaços sociais.
O último artigo desta edição, “Accountability em parcerias público-privadas: espaços para avanços em unidades hospitalares sob gestão direta e em regime de parceria”, de autoria de Francisco Marton Gleuson Pinheiro, José Antônio Gomes de Pinho e Adriano Leal Bruni, buscou identificar diferenças entre as práticas promotoras de accountability adotadas no âmbito de uma secretaria estadual de saúde (SES) para uma unidade hospitalar em regime de parceria público-privada (PPP) e para uma unidade hospitalar da administração direta (UHAD). Destacam-se como diferenças as relacionadas à implantação da PPP, caracterizada por avanços diante da fixação de metas, do monitoramento contínuo e da promoção da transparência externa, embora tais avanços apontem para a accountability de resultado; e o fato da governança PPP ter implicado no aumento de instrumentos promotores de accountability, porém, apresentando carência em termos de promoção da transparência pública.
Iniciamos 2018 desejando aos nossos leitores um excelente ano e uma boa leitura da edição 84.
Ariádne Scalfoni Rigo
Editora-chefe
[1] SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.
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