A LINGUAGEM DOS DIREITOS HUMANOS NAS OFENSIVAS ANTIGÊNERO

UM ESTUDO DAS FIGURAS DE VÍTIMA, SELVAGEM E SALVADOR NA ERA FARMACOPORNOGRÁFICA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/rds.v5i1.58695

Palavras-chave:

ideologia de gênero, estudos queer, direitos humanos, fundamentalismo cisgênero

Resumo

Como as campanhas antigênero vêm crescendo em Portugal desde 2018, neste artigo analisarei como os discursos de direitos humanos são implantados em enunciados de dois eventos: um debate realizado na TV e um seminário online transmitido. O objetivo é analisar as figuras da criança, das pessoas trans*, dos pais e do Estado criadas dentro desse discurso. Avalio o discurso antigênero português com a metáfora do selvagem, da vítima e do salvador de Makau Mutua e com a crítica de Paul Preciado à lógica farmacopornográfica para compreender a circulação de afetos. As imagens veiculadas foram: a criança-vítima como necessitada de proteção, os pais como vítima e salvador, e a pessoa trans* como selvagem (junto com o Estado). Os direitos humanos são mobilizados como uma ferramenta bioficcional que posiciona as pessoas dentro dessa equação e reforça próteses de subjetividades para explorar a excitação dos pais pelo controle onipotente por meio da subordinação dos filhos e da abjeção de pessoas trans*.

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Biografia do Autor

Gustavo Borges Mariano, Universidade de Coimbra

Doutorando no programa Human Rights in Contemporary Societies do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra com projeto financiado pela Tokyo Foundation for Policy Research no âmbito do programa Ryoichi Sasakawa Young Leaders Fellowship Fund (Sylff) (2018/2019). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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Publicado

2024-06-30

Como Citar

MARIANO, G. B. A LINGUAGEM DOS DIREITOS HUMANOS NAS OFENSIVAS ANTIGÊNERO: UM ESTUDO DAS FIGURAS DE VÍTIMA, SELVAGEM E SALVADOR NA ERA FARMACOPORNOGRÁFICA. Revista Direito e Sexualidade, Salvador, v. 5, n. 1, p. 113–141, 2024. DOI: 10.9771/rds.v5i1.58695. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revdirsex/article/view/58695. Acesso em: 21 dez. 2024.