MULHERES ENCARCERADAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNERO, FEMINISMOS E RAÇA EM UM CENÁRIO ESPECÍFICO DE ATENÇÃO À SAÚDE

Autores

Resumo

Este artigo propõe uma discussão sobre a saúde das mulheres negras privadas de liberdade, refletindo sobre a necessidade de um olhar diferenciado para a tríade gênero-raça-encarceramento, indissociável na realidade social vivenciada por essas mulheres. Com base na revisão da bibliografia e das políticas de saúde voltadas para o tema, argumenta-se que podem existir barreiras que limitem a abordagem da saúde desse grupo, uma vez não observada esta complexidade, apontando para a necessidade de pesquisas que extrapolem os entraves existentes para a sua abordagem integral e que apreendam as necessidades do grupo além do ciclo gravídico-puerperal, articuladas e integradas a uma possibilidade de restruturação de suas trajetórias e vidas, tendo o cuidado a saúde como ponto de partida.

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Biografia do Autor

Andreia Beatriz Silva dos Santos, Universidade Estadual de Feira de Santana

Médica formada pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Tem Título de Especialista em Medicina de Familia e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Familia e Comunidade. Tem Mestrado em Saúde Coletiva. Médica em uma unidade prisional na Bahia e Docente do curso de Medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana.Pesquisadora do Nucleo Interdisciplinar de Estudos em Desigualdades da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Coordenadora do GT em Saúde prisional da SBMFC.

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Publicado

2020-12-15

Como Citar

DOS SANTOS, A. B. S. MULHERES ENCARCERADAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNERO, FEMINISMOS E RAÇA EM UM CENÁRIO ESPECÍFICO DE ATENÇÃO À SAÚDE. Revista Feminismos, [S. l.], v. 8, n. 1, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/42444. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Justiça Reprodutiva