Gênero e Cuidado em tempos de pandemia – reflexões em perspectiva interseccional
Resumo
Na tessitura da vida social, as relações familiares têm sido submetidas a uma espécie de contrato intergeracional, que determina papéis a serem encenados pelos membros da família, deveres e direitos conforme sua faixa etária e gênero, os quais são incorporados culturalmente, seja de forma involuntária ou resultante de pressões sociais que também incluem atravessamentos de classe, raça/etnia e outros marcadores sociais. No cenário capitalista, a divisão sexual e social do trabalho engendrou o distanciamento dos homens das atividades realizadas no âmbito doméstico, enquanto às mulheres, tradicionalmente, foi e ainda é destinado o papel de cuidadoras dos enfermos, crianças e idosos, seja no cuidado informal assistido à sua própria família, seja no cuidado formal assistido profissionalmente à outras famílias. Assim, há uma expectativa social e familiar de que em momentos de crise ou situações de epidemias, como vivemos hoje, as mulheres sejam quase que exclusivamente responsáveis pelos cuidados e suporte familial, situação que resulta em sobrecarga de trabalho que as exaure, ao mesmo tempo em que são expostas a diferentes sentimentos e situações, desde solidão e angústia, descaso e preconceito, depressão e maior vulnerabilidade, até situações de risco extremo e letalidade, a exemplo do aumento das estatísticas de violência doméstica e feminicídio. Neste contexto, diferentes abordagens, a partir de diferentes áreas de conhecimento, podem promover e aprofundar uma discussão interseccional que articula Gênero e Cuidado e outras categorias, desvelando os problemas associados a esta articulação e propondo possíveis estratégias para o enfrentamento dos desafios enfrentados pelas mulheres.
Serão bem-vindos artigos ou ensaios que discutam diferentes significados do "cuidado", e sua abordagem interseccional (envolvendo as categorias de raça, classe e geração), entendido também como uma categoria com múltiplas dimensões, desde a filosófica (como em Foucault ao discutir o conceito de "cuidado de si"), até o "cuidado em saúde" (discutido como conhecimento disciplinar fundamental ao campo da enfermagem). Também serão bem-vindas propostas de discussão que tragam elementos transversais que articulam o cuidado à categoria gênero e suas interseccionalidades, como a ética do cuidado (campo conceitual onde o feminismo é protagonista); a Bioética Feminista e o conceito de interdependência no cuidado; a formação e as práticas profissionais do cuidar; os processos de exploração e precarização nas relações de trabalho no "cuidado formal"; os processos de opressão e as relações de poder no "cuidado informal", entre outras. No campo da formação profissional e de suas práticas merecem atenção os estereótipos sexistas atrelados ao "cuidar" feminilizado, que atuam na precarização das relações de trabalho, na exploração e na hierarquização em profissões de saúde (enfermeiras no cuidado em saúde), educação (professoras no cuidado de crianças na educação infantil) e social (Assistente Social no cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade).
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