Gênero e Cuidado em tempos de pandemia – reflexões em perspectiva interseccional

Autores

  • Angela Maria Freire de Lima e Souza Universidade Federal da Bahia
  • Francisco Leal Andrade Universidade Federal de Sergipe

Resumo

Na tessitura da vida social, as relações familiares têm sido submetidas a uma espécie de contrato intergeracional, que determina papéis a serem encenados pelos membros da família, deveres e direitos conforme sua faixa etária e gênero, os quais são incorporados culturalmente, seja de forma involuntária ou resultante de pressões sociais que também incluem atravessamentos de classe, raça/etnia e outros marcadores sociais. No cenário capitalista, a divisão sexual e social do trabalho engendrou o distanciamento dos homens das atividades realizadas no âmbito doméstico, enquanto às mulheres, tradicionalmente, foi e ainda é destinado o papel de cuidadoras dos enfermos, crianças e idosos, seja no cuidado informal assistido à sua própria família, seja no cuidado formal assistido profissionalmente à outras famílias. Assim, há uma expectativa social e familiar de que em momentos de crise ou situações de epidemias, como vivemos hoje, as mulheres sejam quase que exclusivamente responsáveis pelos cuidados e suporte familial, situação que resulta em sobrecarga de trabalho que as exaure, ao mesmo tempo em que são expostas a diferentes sentimentos e situações, desde solidão e angústia, descaso e preconceito, depressão e maior vulnerabilidade, até situações de risco extremo e letalidade, a exemplo do aumento das estatísticas de violência doméstica e feminicídio. Neste contexto, diferentes abordagens, a partir de diferentes áreas de conhecimento, podem promover e aprofundar uma discussão interseccional que articula Gênero e Cuidado e outras categorias, desvelando os problemas associados a esta articulação e propondo possíveis estratégias para o enfrentamento dos desafios enfrentados pelas mulheres.

Serão bem-vindos artigos ou ensaios que discutam diferentes significados do "cuidado", e sua abordagem interseccional (envolvendo as categorias de raça, classe e geração), entendido também como uma categoria com múltiplas dimensões, desde a filosófica (como em Foucault ao discutir o conceito de "cuidado de si"), até o "cuidado em saúde" (discutido como conhecimento disciplinar fundamental ao campo da enfermagem). Também serão bem-vindas propostas de discussão que tragam elementos transversais que articulam o cuidado à categoria gênero e suas interseccionalidades, como a ética do cuidado (campo conceitual onde o feminismo é protagonista); a Bioética Feminista e o conceito de interdependência no cuidado; a formação e as práticas profissionais do cuidar; os processos de exploração e precarização nas relações de trabalho no "cuidado formal"; os processos de opressão e as relações de poder no "cuidado informal", entre outras.  No campo da formação profissional e de suas práticas merecem atenção os estereótipos sexistas atrelados ao "cuidar" feminilizado, que atuam na precarização das relações de trabalho, na exploração e na hierarquização em profissões de saúde (enfermeiras no cuidado em saúde), educação (professoras  no cuidado de crianças na educação infantil) e social (Assistente Social no cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade). 

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Biografia do Autor

Angela Maria Freire de Lima e Souza, Universidade Federal da Bahia

Possui graduação em Ciências Biológicas Licenciatura pela Universidade Federal da Bahia (1978), mestrado em Biologia (Botânica) pela Universidade Federal da Bahia (1983) e doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2003). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ciência, Educação e Gênero, atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, educação, ciências biológicas, Ciência, Gênero e Ensino de Biologia. É Pesquisadora Permanente do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher - NEIM. Docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares em Mulheres, Gênero e Feminismos.

Francisco Leal Andrade, Universidade Federal de Sergipe

Possui graduação em Terapia Ocupacional pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (2001) e Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (2006). Mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências pela Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana (2011). Doutor em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos / UFBA. Atua como professor adjunto no Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Publicado

2021-01-07

Como Citar

LIMA E SOUZA, A. M. F. de; ANDRADE, F. L. Gênero e Cuidado em tempos de pandemia – reflexões em perspectiva interseccional. Revista Feminismos, [S. l.], v. 8, n. 3, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/39089. Acesso em: 25 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Justiça Reprodutiva