MINHA VIDA NÃO É FOLHA DE PAPEL EM BRANCO: revisitando memórias de uma trabalhadora rural.

Autores

  • Maria Asenate Conceição Franco INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA BAIANO, campus Governador Mangabeira Ba.
  • Márcia Santana Tavares Universidade Federal da Bahia

Resumo

Resumo

Reflexões críticas sobre memórias subterrâneas e memórias oficiais têm contribuído para fortalecer o debate sob uma perspectiva de gênero e feminista. A partir dessa premissa, propomos analisar e contextualizar a história de vida de Tereza[1] trabalhadora rural que, dentre os papéis sociais desempenhados, foi parteira por longo período de sua vida.  Ela, durante o trabalho de campo na comunidade rural de Pau Ferro- Muritiba- BA, realizado para fins de doutoramento, participou como uma das protagonistas da pesquisa. Gênero, raça, etarismo/geração, memórias, ruralidade e violência são algumas das categorias analíticas exploradas. A escolha da narrativa de sua história de vida para este artigo guarda proximidade com as marcas sociais de diferenciação, cicatrizadas no corpo e na alma ao longo de seu caminhar. A pesquisa, de natureza qualitativa, vale-se da história de vida que, associada à observação participante, possibilitam rememorar e ressignificar as histórias contadas por ela.

Palavras-chave: gênero, violência, memórias.


[1] Pseudônimo utilizado para lembrar Tereza de Benguela, líder do Quilombo de Quariterê e também parteira.

 

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Biografia do Autor

Maria Asenate Conceição Franco, INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA BAIANO, campus Governador Mangabeira Ba.

Assistente social, mestre em Políticas sociais e cidadania pela Universidade Católica da Bahia e doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela UFBA.

Márcia Santana Tavares, Universidade Federal da Bahia

Assistente social, professora associada 1 do Instituto de Psicologia da UFBA; professora da graduaçao e pós-graduação em Serviço Social e do Programa de pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA.

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Publicado

2020-10-17

Como Citar

FRANCO, M. A. C.; TAVARES, M. S. MINHA VIDA NÃO É FOLHA DE PAPEL EM BRANCO: revisitando memórias de uma trabalhadora rural. Revista Feminismos, [S. l.], v. 7, n. 2, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/38667. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Justiça Reprodutiva