Lugares de Memória da Resistência em Salvador: Arte, Ruínas e Descaso

Autores

  • Priscila Cabral Almeida IHAC-UFBA Universidade Federal da Bahia
  • Rodrigo de Carvalho Oliveira IHAC-UFBA Universidade Federal da Bahia

Palavras-chave:

Ditadura Civil-Militar Brasileira, Resistência, Patrimônio, Etnografia, Intervenção Artística

Resumo

Os projetos e processos de construção de lugares de memória da resistência em Salvador, referentes às memórias das vítimas da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), fazem parte de um repertório de políticas públicas de memória construído no contexto de aprofundamento da justiça de transição do país e impulsionado, no início dos anos 2000, pela Comissão de Anistia do Ministério de Justiça. O objetivo deste ensaio é interpretar as expressões construídas e desconstruídas nestes lugares de memória em Salvador, as quais, apesar de representarem uma forma de reparação simbólica às vítimas e de fortalecimento de narrativas pedagógicas em torno da cultura dos direitos humanos, nunca “saíram do papel”. O arcabouço teórico mobilizado neste ensaio faz referência aos debates em torno da memória social, nos quais o conceito de lugares de memória é operacionalizado para compreender as disputas de grupos em torno da patrimonialização e construção de bens culturais nestes espaços.  As primeiras seções do ensaio fazem referência à pesquisa etnográfica sobre os processos de construção dos lugares de memória da resistência em Salvador e sua ressonância quando aplicada no processo de ensino-aprendizagem no componente de Estudos sobre a Contemporaneidade II, no IHAC-UFBA. Na última seção, descreve-se a intervenção artística desenvolvida como desdobramento da experiência em sala de aula, nos lugares de memória da resistência em Salvador (Monumento Tortura, Casa Marighella, Casas do Pelourinho e Quartel do Forte do Barbalho), a partir do entrecruzamento entre fotografias e narrativas. Como contribuição final, aponta-se para novas formas de leitura e expressão sobre a temática sensível da ditadura civil-militar, marcada pela prática interdisciplinar e que visibiliza e cria novas formas de práticas no espaço urbano, assim como acena para os desafios da institucionalização dos lugares de memória da resistência para os campos do patrimônio cultural e da gestão social.

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Biografia do Autor

Priscila Cabral Almeida, IHAC-UFBA Universidade Federal da Bahia

Professora Substituta no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (Ihac-Ufba), onde leciona os componentes Estudos sobre a Contemporaneidade I e II, Organizações e Sociedade, Estudos sobre Sociedades e Oficina de Produção de Textos em Humanidades. Pós-Doutorado em Administração (com ênfase em Estudos Organizacionais e Gestão Cultural), pela Universidade Federal da Bahia. Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas. Mestre em Memória Social e Graduada em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Rodrigo de Carvalho Oliveira, IHAC-UFBA Universidade Federal da Bahia

Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Artes (IHAC-UFBA).

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Publicado

2019-09-02

Como Citar

Almeida, P. C., & Oliveira, R. de C. (2019). Lugares de Memória da Resistência em Salvador: Arte, Ruínas e Descaso. Revista Interdisciplinar De Gestão Social, 8(2). Recuperado de https://periodicos.ufba.br/index.php/rigs/article/view/29286

Edição

Seção

Contribuição Fotográfica