MISIRLOU

um regresso musical para uma memória sexista

Autores

  • Savio Queiroz Lima

DOI:

https://doi.org/10.9771/rhufba.v10i2.52429

Resumo

O trabalho propõe fazer uma viagem de regressão histórica para compreender as apropriações da canção Misirlou, até sua possível conotação de opressão sexista romantizada. O filme Pulp Fiction popularizou uma sonoridade através da canção ao estilo surf music chamada Misirlou, lançada em 1962 por Dick Dale & His Del-Tones e posteriormente sampleada pelo grupo Black Eye Peas para a música Pump It em 2006. Por modernismo orientalista, George Abdo e sua orquestra “chamas da Arábia” atualizou em 1976, no disco The Art of Belly Dacing, a versão “Miserlou” de Anton Abdelahad de 1946, cantada com letra. Antes destes, o refugiado Theodotos “Tetos” Demetriades levou e gravou em 1927, em solo estadunidense, a canção folclórica turco-grega Misirlou. Antes de se tornar rebético grego, foi supostamente gravada em 1919 pelo egípcio Sayed Darwish, com o nome “Bint Misr”, que é a expressão árabe do turco “misirlou”, significando “moça egípcia”. Não apenas no seu título como nas versões diversas da letra cantada, grego, turco e árabe se amalgamam como efeito derradeiro do crepúsculo do Império Otomano (1299-1922). A tensão da letra, nas múltiplas versões, romantiza os desejos amorosos e carnais de um homem grego a uma moça egípcia, entre elogios e galanteios, projetando seu sequestro, de consentimento não declarado. O destaque sobre a singularidade da beleza da cativa sugere a sua condição social de escrava sexual, pertencentes a haréns, atividade econômica centralmente significativa do século XVIII ao XX no cerne do Império Otomano. A proposta analítica aborda o esvaziamento e romantização do significado originário da memória musicada sobre erotização e jogo afetivo no trânsito da música até a atualidade, ofertando seu uso para o ensino de História sob o prisma dos estudos de gênero.

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Publicado

2022-12-30