Demarketing seletivo e “velado” na visão de consumidoras
negras
Selective and “veiled” demarketing from the perspective of black female
consumers
Ana Raquel Coelho Rocha
Doutora
em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio). Pós-Doutora em Administração pelo
Instituto Coppead de Administração da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: anaraquel.rocha@coppead.ufrj.br.
ORCID: 0000-0002-0478-5146
Leticia
Moreira Casotti
Professora
Associada do Instituto Coppead de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
Coordenadora do Centro de Estudos em Consumo Coppead
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora em Engenharia de
Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: leticia@copopead.ufrj.br.
ORCID: 0000-0001-7718-5072
Resumo: Este trabalho traz a visão da consumidora
negra sobre efeitos de ações de marketing, apoiando-se na literatura sobre demarketing. O contexto investigado é sua experiência no
mercado de tratamento e beleza dos cabelos. Informações originadas de
diferentes manifestações midiáticas se somam às entrevistas narrativas para a
interpretação do fenômeno. Os achados revelam um padrão estrutural dominante,
que perpetua a condição marginal dos traços naturais dessas mulheres; aspectos
emergentes do mercado, que apontam movimentos rumo à visibilidade dessa
consumidora, e que essas mulheres se mostram ávidas por consumir, mas se sentem
desencorajadas em sua demanda. Isso sugere que percebem o demarketing
seletivo e velado, como um dos efeitos das ações de marketing. A análise dá
origem a reflexões teóricas sobre demarketing e
racismo velado no Brasil.
Palavras-chave: Demarketing; racismo velado, consumo, cabelo; mulher negra.
Abstract: This study sheds light on the perspective of Black female consumers in regards to certain effects of marketing initiatives
adopting the literature on demarketing as a framework. The context examined is
their experience with the market of hair beauty and care. Media actions are
analyzed along narrative interviews in order to
understand the phenomenon. The findings reveal a structural dominant pattern
which perpetuates the marginalized status of Black women’s natural traits.
Emerging market initiatives point to movements concerning the visibility of
such female consumers, who despite being eager to consume, have their demand
discouraged. This suggests that they perceive a selective and veiled
demarketing, as one of the results of marketing actions. The analysis invites
for theoretical reflections on demarketing and veiled racism in Brazil
Keywords: Demarketing; veiled racism; consumption; hair; black women.
1. INTRODUÇÃO
Negros brasileiros compõem um grupo que
experimenta relações de desigualdade em vários campos da vida social (IPEA,
2013) e o consumo é um deles (MARTINS, 2015; TELLA, 2006). A pesquisa de
Marketing tem destinado pouca atenção ao comportamento de consumo dos negros,
mesmo que sua presença em muitos ambientes de consumo seja incontestável. No
ambiente empresarial predomina uma “lógica branca” que parece dominar tanto as
decisões de oferta de bens e serviços, quanto o posicionamento dessas ofertas
na mídia de massa e especializada (ROCHA; CASOTTI, 2017). Como sinaliza Lázaro
Ramos, em seu romance autobiográfico (RAMOS, 2017, p.126), “o mundo hoje vive
as regras do mercado e uma criança negra que não aprender a lidar com isso terá
muito pouco ou mesmo nada”.
O contexto desse estudo é a experiência de
consumidoras negras em relação ao mercado ofertante de bens e serviços, ligado
ao tratamento e beleza dos cabelos. Informações indicam a importância dessa
indústria para o país, mesmo em cenário de recessão econômica (ABIHPEC, 2015). “Como
consumidoras negras compreendem ações de marketing vigentes, relacionadas à
oferta de bens e serviços para o tratamento e beleza dos cabelos?” Esta
pergunta instigou nossa reflexão acerca de um grupo de consumidoras que começa
a manifestar amplamente suas insatisfações com o mercado e a expor o racismo
que vivenciam em seu cotidiano (ZAMORA, 2012). Para investigar como
consumidoras negras compreendem ações de marketing vigentes no mercado de
higiene e beleza, acompanhamos durante dois anos postagens nas mídias sociais,
grupos virtuais, blogs, vídeos no youtube e outras
manifestações midiáticas que circundam o tema e o contexto. Essas informações
se somam à profundidade de relatos obtidos, a partir de quinze entrevistas
narrativas com mulheres negras sobre o cuidado com seus cabelos.
O conceito de demarketing foi trazido para apoiar a pesquisa, em
decorrência de características do ambiente de mercado em que as consumidoras
negras estão inseridas. Demarketing é um conceito
discutido do ponto de vista das empresas e lida com “o desencorajamento [ao
consumo], dos clientes em geral ou de certa classe de clientes, em particular,
de forma temporária ou permanente” (KOTLER; LEVY, 1971, p. 75). Boa parte dos
bens e serviços disponíveis não é explicitamente direcionada ao consumidor
negro (BARBOSA, 2004; MARTINS, 2015), o que caracteriza a demanda dessa
população como latente (KOTLER, 1973; LENGLER; VIEIRA; FACHIN, 2002). A tímida
presença desse grupo na mídia é também indicação de que não são um público-alvo
importante para a oferta de produtos e serviços (GROSS, 2014; MARTINS, 2015). Lengler et al. (2002, p.89) reforçam a lógica de demanda
latente e demarketing seletivo quando sinalizam que
práticas de segmentação do mercado, amplamente utilizadas pelas empresas,
“guardam em si um apelo discriminatório, oriundo das relações sociais
históricas entre negros e brancos, nas quais os primeiros desempenhavam papéis
secundários ou dominados, enquanto o segundo grupo garantia o status quo de
dominante, ou opressor”.
Como as consumidoras negras vivenciam
experiências no mercado de cuidados com os cabelos? Foi possível identificar
diferentes trabalhos que relacionam cabelos com identidade feminina (HARRISON
et al. 2015; BOUZON, 2008; McCRACKEN, 1995) e outros que
falam das experiências vividas por mulheres negras com seus cabelos (THOMPSON, 2009; NDICHU; UPADHYAYA, 2018). Todavia, não
foram encontrados estudos que investigassem como consumidoras negras veem, ou
não veem, o gerenciamento das ofertas de marketing ou se vivenciam algum tipo
de desencorajamento diante das ofertas de bens e serviços.
Esse estudo inverte a trajetória
tradicional do conceito de demarketing, que tem foco
nas ações das empresas, ao contemplar a visão dos consumidores sobre o
gerenciamento das ações de marketing no mercado ou, especificamente, a visão de
consumidores sobre o demarketing praticado pelas
empresas. A literatura de demarketing apresenta
alguns ensaios (CULLWICK, 1975; GERSTNER et al., 1993; KOTLER, 2011; KOTLER;
LEVY, 1971) e pesquisas diversas (BEETON, 2003; GRINSTEIN; NISAN, 2009; GROFF,
1998; GUNDLACH; BRADFORD; WILKIE, 2010; KARYY; TRACH, 2014; LEE; CUTLER; BURNS,
2005; MCGRATH, 2008; MARK; BRENNAN, 2009; MIKLOS-THAL; ZHANG, 2013; TODA, 2006;
WHITE; THOMAS 2016).
Essa inversão de foco traz novas questões,
reflexões e discussões para o gerenciamento de marketing, uma vez que a
natureza da atividade “é criar demanda e não destruí-la”
(GERSTNER; HESS; CHU, 1993, p.50). Compreender situações de desencorajamento
das consumidoras negras é importante já que o consumo é reconhecidamente uma
via para ressignificar representações culturais associadas à discriminação
social, racismo e estigma (GOFFMAN, 1963; LAMONT; MOLNÁR, 2001; OLIVEIRA, 2011;
TELLA, 2006; SANDIKCI; GER, 2010; ZAMORA, 2012).
Essa pesquisa cumpre assim o papel de
provocar pesquisadores e profissionais de marketing a pensar sobre consumidores
negros “invisíveis” (BARBOSA, 2004) ou “indesejáveis”, característica trazida
pela definição de demarketing seletivo (KOTLER,
1973). O próximo tópico traz a literatura sobre a temática do demarketing. Em seguida, apresentamos contribuições de
trabalhos que falam sobre como a invisibilidade do consumidor negro se
manifesta. Na sequência, as etapas da pesquisa são descritas, os principais
achados são analisados e uma discussão final traz as principais reflexões e
contribuições desse trabalho.
2. O CONSUMIDOR DESENCORAJADO: DEMARKETING
O
conceito de demarketing foi trazido por Kotler e Levy
(1971) para tratar de uma estratégia de marketing que, ao invés de buscar
conquistar consumidores, quer desencorajá-los. Os autores falam da pretensão do
demarketing em lidar “criativamente” com excessos de
demanda, desencorajando consumidores em geral, ou apenas uma classe ou grupo ao
consumo. Esta prática pode, ainda, ter uma intenção permanente ou temporária em
sua busca por desestimular consumidores no acesso a produtos ou serviços. A
prática do demarketing foi pensada, originalmente, em
um contexto de abundância (CULLWICK, 1975). Foram limitações, decorrentes de
momentos de escassez, que impuseram que as empresas adotassem estratégias de
marketing para redução da demanda (CULLWICK, 1975; GROFF, 1998).
Kotler
e Levy (1971) apresentaram três tipos de demarketing.
O primeiro, o “demarketing geral”, adotado se a
empresa deseja reduzir o nível total de demanda. O segundo, “demarketing ostensivo”, aplica-se ao caso em que a empresa
deseja apenas aparentar uma tentativa de desencorajar a demanda, mas, ao
contrário, usa o demarketing como um mecanismo para
aumentá-la. O último tipo proposto, o “demarketing
seletivo”, é aplicável quando a empresa quer desencorajar a demanda de um
segmento ou grupo de consumidores.
Gerstner
et al. (1993) trazem algumas estratégias de demarketing:
i) demarketing por “discriminação de preços”, que
busca controlar a demanda, por exemplo, por meio de descontos em determinados
período do dia; ii) demarketing
“isca e troca” (bait and switch),
prática questionável - uma vez que pode ser ilegal - em que se busca
desencorajar clientes a comprar determinadas marcas e canaliza a demanda para a
compra de marcas mais lucrativas; iii) demarketing de “falta de estoque”, que realiza a venda e promete
a entrega do produto em data futura; e iv) demarketing de “custo de aglomeração”, que através da cobrança
de preços mais altos, busca controlar ofertas que são limitadas e, assim,
evitar o acúmulo de pessoas em filas, por exemplo.
Adicionalmente,
os autores chamam de “demarketing de diferenciação”
ao controle de demanda pela empresa para se diferenciar de outras. Gerstner et al. (1993) falam que uma empresa que oferece
preço mais baixo que a concorrência pode usar um "fator de incômodo"
como, por exemplo, baixo nível de estoque, para estabelecer diferenciação em
relação a um concorrente bem estabelecido. Os autores sinalizam que empresas
que vendem o mesmo produto, sem demarketing de
diferenciação, estariam sujeitas a uma eventual guerra de preços entre si, que
afetaria seus lucros. O uso de um “fator de incômodo” por uma empresa que pratica preço baixo moveria parte do mercado para um
concorrente bem estabelecido. Este último poderia aumentar o preço oferecido,
em função do aumento da demanda. O benefício para a empresa que originalmente
usa o “fator de incômodo” é, em seguida, aumentar seu preço, como fez seu
concorrente, e seguir atendendo clientes tolerantes ao incômodo em questão.
Para Gerstner et al. (1993, p. 51), “no equilíbrio
resultante, ambas as empresas se beneficiam desse esquema de segmentação, ao
cobrar preços acima dos custos”.
Qualquer
que seja a estratégia adotada, pode-se inferir que o demarketing
de que tratam Gerstner et al. (1993) esteja sendo
aplicado em contraponto a - ou em consequência de - ações de marketing
direcionadas a um público que, em tese, dispõe de ofertas regulares. No caso
dos consumidores negros, poucas são as ofertas que lhes são explicitamente
direcionadas, indicando que, em algumas categorias de produtos, são timidamente
assistidos (MARTINS, 2015; ROCHA; SCHOTT; CASOTTI, 2016). Em outras palavras,
ao segmentarem seus mercados, e a despeito das desigualdades econômicas
existentes entre representantes de etnias brasileiras distintas, as empresas
fazem uso de critérios que colocam os negros à margem nas relações de consumo
(LENGLER et al., 2002).
O
trabalho seminal de Kotler (1973) indica oito estados de demandas aos quais se
relacionam tarefas de gerenciamento de marketing. Para uma demanda classificada
como negativa, que não gosta ou evita determinada oferta, o autor indica
esforços de marketing de modo a convertê-la à condição de positiva. A
inexistência de demanda é um estado que indica um mercado indiferente ou não
interessado no que é oferecido; neste caso, o autor recomenda que o
profissional de marketing busque conectar a oferta a uma necessidade existente
ou altere aspectos do ambiente para que a oferta ganhe valor, por exemplo.
Demanda vacilante é o estado em que a demanda é menor que o nível usual e pode
ainda decair; neste caso, deve-se buscar revitalizar o ciclo de vida de
produtos em declínio. Flutuações de demanda caracterizam o que Kotler chama de
demanda irregular e para as quais recomenda ações que sincronizem a demanda e a
oferta (por exemplo, a adoção de preços baixos em épocas de baixa estação) Em
casos de demanda total, demanda e mercado coincidem em momento e nível desejado,
cabendo ao gerente de marketing a manutenção deste estado de demanda. Quando o
nível de demanda se sobrepõe à capacidade de suprimento do mercado, tem-se o
estado de demanda excessiva, para o qual é sugerida a redução da demanda por
meio de ações de demarketing. Demanda insalubre
caracteriza um estado em que, a demanda é sempre considerada excessiva, já que está
associada a produtos com características indesejadas (o álcool e as drogas
exemplificam). Consumidores que mostram inclinação ao consumo de produtos não
existentes ou adequados, consideradas as ofertas correntes do mercado,
caracterizam o estado de demanda latente; indica-se a coordenação das funções
de marketing para o desenvolvimento do mercado e conversão da demanda latente
em demanda corrente. Este último estado de demanda aproxima-se da condição
consumidora do negro, em seus anseios por adquirir bens e serviços adequados
para si (Lamont & Molnar,
2001; Lengler et al., 2002).
Outros
estudos foram localizados na literatura, desde o surgimento do conceito de demarketing (KOTLER; LEVY, 1973). Há pesquisas que tratam
da prática do demarketing ligada a atividades
turísticas (GROFF, 1998; BEETON, 2003), ao setor de saúde (LEE; CUTLER; BURNS,
2005; MARK; BRENNAN, 2009; WHITE; THOMAS, 2016), ao uso de recursos naturais
(GRINSTEIN; NISAN, 2009; MCGRATH, 2008; KARYY; TRACH, 2014; KOTLER, 2011),
à prevenção do desvio de produtos da esfera legal para a ilegal do consumo
(GUNDLACH; BRADFORD; WILKIE, 2010) e à percepção de qualidade de ofertas
(MIKLOS-THAL; ZHANG, 2013). Foi possível identificar nesses trabalhos um traço
comum: certa moralidade que leva ao julgamento social positivo na adoção do demarketing. Ou seja, o uso da estratégia acontece
relacionado a práticas associadas ao bem estar do ser
humano ou à preservação daquilo que não seja humano, como nas questões ligadas
ao meio ambiente.
O
trabalho recente de Toda (2016), no contexto
brasileiro, segue outra direção. O autor parte do conceito de demarketing para tratar de estratégias utilizadas pelas
empresas para lidar com clientes indesejados como, por exemplo, aqueles
considerados pelos prestadores de serviço como “mal-educados”. Os clientes
nesse caso não são desencorajados ao consumo previamente, mas em decorrência do
comportamento que venham a apresentar nas relações interpessoais durante o
processo de consumo. Pesquisas que tenham no demarketing
um elemento sujeito a um julgamento social negativo, por exemplo, pela
segregação prévia de alguns consumidores (já que desencoraja parte da demanda
ao consumo), podem ser explorados.
3. O CONSUMIDOR QUE “NÃO TEM COR”? INVISIBILIDADE
NO CONSUMO
Nos
últimos anos, negros emergiram em sua condição de consumidores e passaram a
compartilhar novos espaços de consumo (IBGE, 2014). Todavia, este grupo segue
“invisível” (BARBOSA, 2004), sendo submetido a uma “lógica branca” de mercado
(ROCHA; CASOTTI, 2017) que privilegia a parcela não negra da população e
desconsidera questões étnico-raciais em boa parte das ofertas e comunicação de
produtos e serviços (GRIJÓ; SOUZA, 2012; MARTINS, 2015). É como se as ofertas
direcionadas a consumidores brancos, por exemplo, pudessem atingir os negros em
suas motivações (BAUER; CUNNINGHAM; WORTZEL, 1965; BULLOCK, 1961; TELLA, 2006).
A
publicidade é uma das ferramentas mais usadas em Marketing, na comunicação de
ofertas. O trabalho de Martins (2015, p. 43) ajuda na compreensão de como foram
construídos mitos em torno da generalização de ofertas direcionadas aos não
negros. O autor resgata declarações de publicitários sobre consumidores negros,
feitas décadas atrás. Uma delas indicava que “o negro ambiciona as coisas do branco”, o que explicaria o uso de
modelos brancos em campanhas publicitárias para vender para o público em geral.
Outra declaração relacionava os negros a uma população desfavorecida
economicamente, para justificar sua baixa presença na publicidade e reforçar a
crença de que a publicidade deveria retratar o “branco”, pois seria ele “o estereótipo da maioria dos consumidores”.
Para
outro profissional lembrado por Martins (2015, p. 43), os negros não estão
presentes na publicidade, pois as pessoas gostam de “se ver representadas como ricas, lindas e poderosas; e os pretos são
pobres”. Uma das frases trazidas por Martins, proferidas por um
publicitário no passado, exemplifica com clareza a exclusão e invisibilidade do
negro nas peças promocionais: “o
consumidor não tem cor, mas não é negro”. Embora Martins (2015) refira-se
ao passado, essas declarações parecem permanecer contemporâneas, já que na
opinião do autor a publicidade não avançou substancialmente na representação
dos negros, constatação também apontada por outros autores (GRIJÓ, 2014; GRIJÓ;
SOUZA, 2012).
No
Brasil, a novela é um reconhecido meio de reprodução de questões sociais, amplamente difundido dentre
diferentes camadas sócio econômicas da população. (ARAÚJO, 2008). O
GEMAA (Grupo de Estudos Multidisiplinares de Ações
Afirmativas) (2015) fez um levantamento de quantas vezes os negros tiveram
papéis protagonistas nas novelas brasileiras, entre 1994 e 2014. Apenas 4% dos
principais papéis foram de atrizes negras. Vascouto
(2016) listou estereótipos racistas que novelas brasileiras devem parar de usar
como, por exemplo, a empregada doméstica “espevitada, servil, bisbilhoteira,
sedutora e submissa”. Araújo (2000), em livro e documentário intitulados “A
negação do Brasil - O Negro nas Telenovelas Brasileiras”, também explora a
influência das telenovelas no processo de construção - ou de “não construção” -
de uma identidade étnica dos negros. O ator Lázaro Ramos (2017) fala que
mudanças na mídia sinalizam mudanças na sociedade e que seu protagonismo em
papéis interpretados em telenovelas e filmes representa uma exceção. Lázaro
lembra que exceções confirmam regras e declara que “o racismo faz com que a
gente não trilhe nosso caminho e comece a pautar nossas ações pela demanda do
preconceito” (RAMOS, 2017, p.102).
Além
das questões relativas a como e o quanto o negro não está representado nas
peças publicitárias e nas novelas, há particularidades no contexto brasileiro
que reforçam a condição de invisibilidade negra para o consumo. Aqui,
convive-se com certa indiferença com efeitos da desigualdade social, que afeta,
majoritariamente, a população negra (CARNEIRO, 2002). Aqui, nega-se o racismo
(MIRANDA-RIBEIRO, 2006), mas pratica-se racismo velado sob o disfarce de
aceitação social (DA MATTA, 1986; LEITÃO, 2015). Aqui, questões relacionadas às
diferenças étnicas não são conhecidas e discutidas entre brasileiros (FREYRE,
1986; GOMES, 2003). Por exemplo, poucos brasileiros ouviram na escola, ou fora
dela, que um dos propósitos da imigração branca, ocorrida no início do século
XX, era o “embranquecimento” da população brasileira de etnia africana
(DOMINGUES, 2002).
No Brasil, parte da
sociedade ainda sustenta o mito da democracia racial (ZAMORA, 2012), mas negros
estão inseridos em uma realidade permeada por estigma (GOFFMAN, 1963; TELLA,
2006) e racismo (ZAMORA, 2012). Aqui o assunto não é tratado de forma clara, mas
características dos consumidores negros parecem ser socialmente consideradas um
sinal de defeito ou desvantagem (GOFFMAN, 1963). Teorias raciais, tanto antigas
quanto recentes, trazem a aparência física para explicar o racismo (APPIAH,
1997, p.30). Appiah (1997) apresenta uma dolorosa
constatação de que significados e práticas foram construídos de forma que
distinções estéticas pudessem ser confundidas com distinções morais, sendo os
negros submetidos a posições inferiores, tanto em relação à sua aparência
quanto à sua moralidade.
A esfera do consumo
contraria o mito da democracia racial e expõe o racismo que se manifesta no
mercado de bens e serviços (TELLA, 2006). Negros experimentam sanções públicas
e discriminação em momentos de consumo, que outros grupos podem não vivenciar
(BENNETT et al., 2014; CROCKER; MAJOR; STEELE, 1998; LINK; PHELAN, 2001) e têm
que criar meios para lidar com a questão (TELLA, 2006). A mídia social aparece
como um meio para tornar públicas as experiências de discriminação e de racismo
a que são expostos os consumidores negros e, ao mesmo tempo, revelar dolorosos
preconceitos existentes como, por exemplo, aqueles relacionados aos cabelos das
mulheres negras. O cabelo crespo é alvo de representações negativas como “ruim”
e “duro” e, portanto, precisa ser “disciplinado” (BOUZON, 2008 p.245). A
identidade é expressa, exibida e revelada no corpo físico que se submete a
mitos, representações e diferentes consumos para a construção de uma
identidade.
Muitas pesquisas
têm se dedicado a compreender a relação entre práticas de consumo e a
construção de identidade (e.g. BELK, 1988; LUNT;
LIVINGSTONE, 1992; SLATER, 1997; TOMLINSON, 1990; WARDE, 1994; WHEATON, 2004).
Belk (1988), por exemplo, enfatiza como as pessoas
subjetivamente percebem quem são e como a formação da identidade é um processo
contínuo, embora permeado de conflitos. Já Holt e
Thompson (2004) falam da formação da identidade como um processo maleável, que
é construído através de códigos, práticas e performances e onde consumidores
lidam com contradições e dificuldades identitárias no mercado em busca de um self coerente.
Alguns estudos
falam das dificuldades trazidas pelas estruturas de mercado para construir
identidades coerentes e edificantes (ARVIDDSON, 2005; HOLT, 2002) e de
dificuldades para se alcançar ideais utópicos, originados do mercado (KOZINETS,
2002; BEL; GER; ASKEGAARD, 2003). Firat e Venkatesh (1995) falam de “self vazio” ou “self
descentralizado”, originado de um jogo de identidades presentes no mercado. Fordhan (1996) analisou dilemas da relação entre jovens negros
e identidade. Ela traz a expressão “agir como branco”, que se aplica a uma
ética normatizada pelo domínio dos brancos e que pode levar a uma desconstrução
da identidade negra, que luta por afirmação. Breakwell
(1986) fala da construção da identidade a partir de características tais como
continuidade, distinção, agência, controle e auto-estima
e Giddens (1991) ressalta as interações sociais que
compõem esse processo contínuo. Esses aspectos podem ser um desafio para
consumidoras negras em um mercado onde predominam representações eurocêntricas.
Especificamente, o cabelo “classifica e hierarquiza, qualifica e desqualifica,
exclui e inclui” (BOUZON, 2008 p.232.) e, para as mulheres negras, traz
questões identitárias ainda mais complexas e sensíveis (THOMPSON, 2009; NDICHU;
UPADHYAYA, 2018).
4. METODOLOGIA
Este trabalho adota
a perspectiva interpretativista (ARNOULD; THOMPSON,
2005) e utiliza métodos qualitativos para capturar a visão do consumidor acerca
do fenômeno, através de dados secundários e primários (REMENYI et al., 1998).
Realizamos entrevistas narrativas (MILES;
HUBERMAN; SALDANA, 2013) com 22 mulheres. A partir desse grupo, que faz parte
de um estudo mais abrangente, foram selecionadas 15 entrevistadas cujos relatos
foram mais específicos sobre experiências de mercado que sugeriam
desencorajamento no consumo de bens e serviços ligados à beleza e aos cuidados
com os cabelos. As mulheres são moradoras da cidade do Rio de Janeiro e com
idade variando entre 28 e 57 anos. O estilo de cabelo adotado pelas
consumidoras é variado (natural, tranças, dreadlock,
alisado, dentre outros).
Inicialmente, a
curiosidade foi movida para compreender o comportamento da consumidora negra
afluente já que elas são associadas frequentemente com grupos de baixa renda (OLIVEIRA;
VIEIRA, 2009). A renda familiar deixou de ser o filtro principal na seleção das
entrevistadas quando relatos iniciais indicaram não haver diferença na forma
como diferentes extratos socioeconômicos vivenciavam ações de marketing no
mercado de bens e serviços para cabelo.
Seguindo Pedrosa e Schwarcz (2014), que observam que no contexto brasileiro
podem ser identificados diferentes matizes da cor da pele quando em situação de
auto declaração, o filtro para seleção das entrevistadas passou a ser mulheres
que se auto declaram negras. Algumas entrevistadas indicaram outras que se auto
declaravam negras. Em outros casos, essa auto
declaração acontecia a partir das perguntas iniciais do roteiro. Em dois casos
as pesquisadoras foram procuradas por mulheres que se ofereceram para serem
entrevistadas quando souberam do tema abordado. Assim, temos um grupo de
mulheres que se auto declaram negras e que pertence a estratos diferentes da
pirâmide socioeconômica brasileira. As entrevistas tiveram duração média de uma
hora e foram realizadas em locais escolhidos por elas tais como casa, ambiente
de trabalho ou cafeterias. Os relatos foram gravados e transcritos gerando
cerca de 320 páginas de material para análise.
Além dos relatos
trazidos pelas consumidoras entrevistadas, ao longo de dois anos, realizou-se
registro sistemático de manifestações midiáticas acerca da comunidade negra,
que contribuíram para a interpretação do fenômeno. Foram levantados 105 links
que incluem mídia social (Facebook e Instagram), youtube,
site e blogs. Os links foram analisados e associados a cinco categorias
iniciais. A primeira agrupa padrões estéticos, racismo e militância, pois são
temáticas próximas do foco principal do projeto de pesquisa (62 links). Ofertas
de mercado formam a segunda categoria e foram 22 links que apoiam a delimitação
desse artigo. Outras categorias complementam: avanços de movimentos sociais (8
links), páginas especializadas em beleza negra (7 links) e histórias diversas
relacionadas ao negro (6 links).
Se a predominância
do Facebook como fonte de coleta desses dados pode contemplar alguma limitação,
avaliamos um ganho na aproximação dos pesquisadores com o tema de pesquisa que
é amplamente discutido nas redes sociais no cenário brasileiro. Acompanhamos
por 6 meses o grupo do Facebook “Cacheadas em Transição (OFICIAL)”, onde
consumidoras tratam da etapa transitória entre o alisamento de cabelo e a adoção
do cabelo crespo e natural. A escolha deste grupo deu-se em função do número
significativo de seus membros, próximo a 278 mil quando finalizada a coleta. Em
nossa busca por páginas do Facebook que tratam de transição capilar, utilizamos
a palavra-chave “transição”.
As
entrevistas narrativas, os posts recortados, as informações levantadas das
fontes midiáticas, blogs e sites foram analisados em
conjunto. Algumas vezes informações com diferentes origens se somavam, ou seja,
era possível encontrar similaridades e convergências. Em outras situações, foi
possível identificar complementaridades; algo que faltava em uma fonte era
encontrado em outra. Informações levantadas na mídia nos ajudam a compreender
os mercados e as diversas conexões existentes - ou inexistentes - entre as
ofertas e as demandas, bem como o ambiente complexo que envolve esse contexto.
Os achados de campo
foram analisados com uso de análise de conteúdo seguindo as orientações de
BARDIN (2006). Na pré-análise dos dados foi possível
identificar o que era mais relevante para o tema desse trabalho. Em seguida, o
material selecionado foi explorado de forma a estabelecer categorias
consonantes com a pergunta de pesquisa e o referencial teórico levantado. No
tratamento de dados não foi usado o Atlas ti, como inicialmente planejado, pois
a leitura e releitura das diversas narrativas foram suficientes para o
exercício de inferência, interpretação e crítica, como orienta Bardin (2006). As categorias que emergiram são descritas e
analisadas a seguir.
5. PRINCIPAIS ACHADOS
As
categorias de análise identificadas mostram três facetas da experiência de
desencorajamento no consumo, vivida por consumidoras negras. A primeira revela
um padrão estrutural dominante, que indica a perpetuação da condição marginal
dos traços naturais das mulheres negras. A segunda parte da análise apresenta
aspectos emergentes do mercado, que apontam caminhos e movimentos que levam à
maior visibilidade da consumidora negra ao adotar o cabelo crespo e enfrentar o
racismo. A última categoria revela mulheres ávidas por consumir, mas que
parecem desencorajadas em sua demanda, o que sugere que percebem demarketing seletivo e velado nas ações de marketing
vigentes.
Esconder o crespo e aceitar o padrão
A condição de “invisibilidade” pela via do
cabelo inicia-se na infância, quando a consumidora é apresentada a um padrão de
beleza a ser seguido - “o padrão branco”
- sem que lhe sejam apresentados estilos estéticos alternativos. O alisamento
de seu cabelo crespo é o procedimento que, em certo grau, aproximaria a
consumidora negra do estilo de cabelo aceitável socialmente: o liso (ver
BOUZÓN, 2008). Ao fazer uso desse procedimento, parte da etnia que caracteriza
a consumidora, “desapareceria”. Magda (45 anos), por exemplo, mora na Dinamarca
há mais de dez anos, mas ainda está presente em suas lembranças o que
experimentou em sua infância e adolescência no Brasil, em suas palavras, “onde o padrão de beleza é o padrão branco”.
Magda, atualmente, usa apliques de cabelo ondulado.
As
entrevistadas estão cientes de que no Brasil valoriza-se um padrão eurocêntrico
de beleza que, em muito, difere de sua natureza. Vilma (44 anos) conta que se
sentia como “o patinho feio, na infância”.
Em seu relato ela também dá indícios de que anular sua etnia parecia ser a
norma e de que havia algum desconforto em não atender ao padrão: “Meus pais não exploravam que eu teria que me
aceitar negra, de cabelo duro. Nunca falaram isso para mim. Eu achava que eu
era a mais feia, que meu cabelo era horrível, não crescia, eu detestava, detestava
tudo em mim”. Hoje Vilma usa seus cabelos crespos, sem aplicação de
produtos químicos.
Para
algumas entrevistadas, alisar o cabelo parece ser um recurso adotado para
torná-las “visíveis”, de alguma forma. Em determinado contexto, o cabelo
alisado pode aproxima-las do imaginário, por vezes, associado a suas
compatriotas brancas e socialmente “visíveis”. Maria, uma das entrevistadas,
disse que “desde criança, sempre quis ter
cabelo liso”. O ambiente escolar foi importante para a construção de sua
percepção acerca do estilo de cabelo a ser adotado. A entrevistada relata sua
escolha por um cabelo alisado como elemento de pertencimento a determinado
grupo, de destaque socioeconômico e próximo do modelo eurocêntrico:
“Eu estudava em
uma escola aqui em que a maioria dos alunos lá era de classe média, então tinha
pessoas de posse, com um nível social mais elevado. Boa parte [das alunas]
tinha o cabelo liso e eu achava bonito o cabelo delas e eu não queria usar o
cabelo crespo; primeiro porque ninguém usava, todo mundo que era da minha cor
ou se não fosse da minha cor, mas tivesse o cabelo crespo alisava o cabelo,
então, eu não queria me sentir diferente do grupo”.
Mais
tarde, na vida adulta, o cabelo “liso” de Maria serviria para aumentar sua
aceitação e diminuir sanções sociais, em outras esferas. A entrevistada narra
sua percepção sobre o cabelo adequado ao ambiente corporativo (aspecto
sinalizado em PIRES; MOCELLIN, 2016). A acomodação social em questão é narrada
pela entrevistada em relação ao que acredita ser senso comum. É como se não só
o seu olhar, mas também o olhar do “outro”, a levasse a uma interpretação sobre
o cabelo alisado, que ajuda a explicar o contexto em que está inserida e alguns
de seus desdobramentos. O trecho de sua entrevista elucida: “Não é só o cabelo em si, tem todo um
contexto. Hoje você com um cabelo alisado você coloca um terninho e parece uma
executiva [...] quando [a pessoa]
chega numa entrevista, já vai ser eliminada pelo cabelo [crespo]”. Como
Maria, outras entrevistadas apontaram o cabelo crespo como o menos aceito em
ambientes corporativos.
O cabelo crespo é retratado por algumas entrevistadas como a
representação de um “problema” com o qual se tem que lidar ao longo da vida.
Parte da explicação pode ter relação com o olhar materno, quando ainda são
crianças ou adolescentes, ou o olhar masculino sobre o cabelo como um atributo
físico, quando se tornam adultas. Alguns relatos contam das mães que
determinavam que os cabelos crespos deviam ser “disciplinados”. Uma das participantes do grupo “Cacheadas em
Transição (OFICIAL)” relatou a rejeição inicial do marido, quando decidiu parar
de alisar o cabelo.
Encontramos um artigo que critica severamente a entrevista de uma banda famosa, composta por músicos não negros, publicado em uma revista direcionada a adolescentes (RIBEIRO, 2015). Um dos integrantes da banda, ao emitir opinião sobre a adoção do cabelo em forma de trança, sugere que “para quem tem cabelo ruim [crespo]” usar tranças seria “uma salvação”. Segundo a matéria, “a resposta racista foi seguida por risos dos três integrantes [da banda]”. Respeitar a condição natural do cabelo e evitar a adição de produtos químicos ganha caráter de resistência, em uma conjuntura de imposição de um padrão específico. A adoção do cabelo crespo por uma mulher negra, paradoxalmente, converte-se em uma atitude que, para algumas entrevistadas, exige “coragem”. Marilda (51 anos) explica que uma mulher que adota o cabelo crespo “é uma mulher que tem coragem, porque é muito difícil; as pessoas cobram, porque todo mundo quer que [você] faça chapinha, que alise; todo mundo acha feio, muita gente confunde esse cabelo com desleixo, com falta de cuidado”.
Respeitar o crespo e enfrentar o
racismo
Negras
brasileiras estão buscando visibilidade em vários campos da esfera social. A
internet tem sido a plataforma por meio da qual algumas manifestações expõem a
mulher negra em um novo e orgulhoso status social, em relação à sua estética e
beleza. Movimentos de apoio mútuo para enfrentar a difícil transição do alisamento
para o crespo são um exemplo das possibilidades trazidas pela mídia digital,
onde reverberam opiniões e protestos de forma rápida e em larga escala. Ao
mesmo tempo, essa exposição dá origem a comentários e atitudes racistas, como
xingamentos e alusões agressivas à estética negra, tendo como alvo algumas
atrizes negras brasileiras, por exemplo, denunciados e amplamente divulgados
pela mídia (G1, 2015). Salienta-se que, por meio de páginas de busca,
identificam-se notas de repúdio de mulheres negras a práticas racistas de modo
geral (RIBEIRO, 2016 é um caso).
Somam-se
a esses exemplos, páginas no Facebook direcionadas à mulher negra em muitas
questões que a tem mobilizado atualmente (Pipa Azul, Pretas Simoa,
Cacheadas em Transição e Geledés - Instituto da
Mulher Negra, são exemplos). Martins (2015) chama a atenção para as
representações - ou não representações - dos negros na propaganda. A partir da
internet, surgem outras discussões sobre imagens que ajudam a forjar uma “nova”
consumidora negra.
Mulheres
negras brasileiras são mostradas ocupando novos espaços de reconhecimento. O
protagonismo destinado à beleza no Brasil exemplifica, quando privilegia
mulheres com perfil próximo ao do padrão eurocêntrico. Recentemente, uma negra
foi eleita Miss 450 anos do Rio de Janeiro (R7, 2015); um contraste em relação
à Miss IV Centenário, que era branca, loira e de olhos claros (ARGENTO, 2014).
A Miss Brasil eleita, em 2016, é a segunda negra eleita em mais de cinco
décadas (REVISTA DONNA, 2015). Negras foram às ruas na “Marcha do Orgulho
Crespo”, usando o cabelo como elemento representativo de sua luta política, em
cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba (G1, 2016). As universidades
têm institucionalizado espaços como os NEAB - Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros
- para a discussão sobre questões que aproximam brasileiros de suas raízes
africanas (NEAB UERJ, s.d.). Todos esses são exemplos de posições que
desconectam essas consumidoras negras de um perfil de inferioridade, comumente
associado a elas (GRIJÓ; SOUZA, 2012; GRIJÓ, 2014).
Meninas
negras têm protagonizado vídeos na internet que lhes têm conferido certa fama e
receptividade positiva do público. Carolina ficou conhecida quando esclareceu
que seu cabelo “não é duro; duro é ter
que escutar gente ignorante falando que seu cabelo é duro” (MONTEIRO,
2015). No âmbito do consumo, a campanha “Se Não me Vejo, Não Compro”, circulou
na internet fotos de crianças segurando cartazes com esses dizeres (RITTER,
2016). A campanha foi uma resposta à representação branca do personagem Finn,
de Star Wars – interpretado por John Boyega, que é
negro - em uma marca de fantasias. A mídia social permite movimentos que
fortalecem a luta dos negros contra o estigma, a invisibilidade e o preconceito
(TELLA, 2006; ZAMORA, 2012).
Em
ambientes públicos, observam-se mulheres negras abandonando o alisamento dos
cabelos e adotando o cabelo crespo. Deixar um estilo rumo ao outro corresponde
a um período ao qual se referem como “transição capilar”. Participantes da
comunidade “Cacheadas em Transição (OFICIAL)” tratam esta etapa como uma forma
de “conhecer seu cabelo” e “aceitar suas raízes”; “uma experiência de escolha e desejo de mudar”,
que revela um “aprendizado sobre si mesma”.
Uma participante da comunidade postou: “Não tinha ideia que
eu tinha o direito de fazer o que quiser com meu cabelo, até cortar se fosse o caso”. Outro
aspecto debatido pela comunidade é a “luta
e o movimento político” que deixar o alisamento, partindo para a adoção do
cabelo crespo, abarca. As participantes reconhecem que o processo é “difícil”, porque “às vezes você fica feia”, “fica
triste” e “as pessoas criticam”.
Dentre
os vídeos encontrados no youtube com a temática
relativa aos cuidados com os cabelos, localizamos vídeos em que jovens negras
dão dicas de como passar pela “transição”, de modo pouco “traumático” (GOMES,
2016, é um exemplo). Nota-se que muitas consumidoras participam de comunidades
nas redes sociais (como em SIMÕES; SANT’ANNA, 2010) de modo a obter apoio nessa
fase em que o cabelo, por vezes, não tem um estilo definido. As “Cacheadas em
Transição (OFICIAL)” contam que são “encorajadas
pela [comunidade] no facebook” nesse processo e
acabam por revelar “o aumento de autoestima, confiança e segurança” em
si, que a transição pode proporcionar.
Outra
motivação tem relação com dicas sobre como cuidar dos cabelos crespos. Há
mulheres que alisaram o cabelo por muito tempo e, por isso, não conhecem nem
sabem como lidar com o crespo, em sua forma natural. As entrevistadas desta
pesquisa contam que recorrem a blogs de mulheres negras, brasileiras ou não,
para orientação sobre como cuidar dos cabelos. Uma participante disse ser uma
oportunidade para conhecer “o cabelo que
cresci ouvindo que era ‘errado’”. Essas iniciativas contrastam com o
desencorajamento à adoção do cabelo crespo, ainda em vigor. Como contou Vilma
(44 anos): “Quando eu chego no salão,
eles querem porque querem alisar o meu cabelo”.
Parece
uma prática usual, mulheres de cabelo crespo “fabricarem produtos”, pois não
encontram bons produtos disponíveis no mercado. Embora alguns produtos ou
marcas tenham sido citados pelas entrevistadas (os produtos do salão “Beleza
Natural”, a marca “Hair Shine”,
o produto “Morte Súbita”, dentre outros), a produção “caseira” parece
naturalizada. Lacunas deixadas pelo mercado viabilizaram a que negras
empreendedoras buscassem soluções para atender suas necessidades e de outras.
Por exemplo, o salão Beleza Natural, referência no atendimento a mulheres de
cabelos crespos, nasceu da iniciativa de uma de suas donas que, “vaidosa, não se conformava com a falta de
produtos e tratamentos para cabelos crespos como os seus” (SUAREZ; CASOTTI;
ALMEIDA, 2007, p. 556).
Ofertas do mercado: demarketing seletivo e velado?
Em
posts no Facebook ou em relatos das entrevistas, foi possível reunir
reclamações de consumidoras negras em relação à falta de produtos adequados
para seus cabelos. Dentre as entrevistadas, Flávia (50 anos), que é mãe de uma
adolescente, foi categórica em dizer: “Não.
Não encontro [produtos] pra mim, nem para o [cabelo] da minha filha. É um
inferno”. A lacuna deixada pelo mercado pode ser suprida pela rede de
relacionamento das consumidoras, trocas de informações e dicas de uso ou não
uso de produtos. É o caso de Amanda (38 anos), cuja irmã, que mora na
Inglaterra, “traz carregamentos [de
produtos]” para ela.
O
estágio em que se encontra a relação do mercado com as consumidoras negras, no
que tange à oferta de produtos para cabelos, parece um tanto “embaçado”. As
estatísticas sinalizam que muitos negros brasileiros puderam acessar novos
produtos e, em decorrência disso, estão presentes em ambientes de consumo
diversos (NERI, 2011). Essa parece não ser a realidade para o mercado de
produtos para os cabelos crespos. O relato de Cândida (51 anos), por exemplo,
quebra o discurso recente de mais acesso a mercados quando diz que “não tem produto para cabelo de negras”,
mas reconhece o parco avanço nesse sentido. Segundo a entrevistada, “estão fazendo produtos [para cabelos de
negros]” e a sua comparação é com “antigamente” quando “não tinha nada; antigamente era vaselina que
você passava”. A fala de Magda (45 anos), ainda que demonstre insatisfação
e descrença com um mercado para o seu tipo de cabelo, aponta para alguma
evolução em termos de oferta de produtos:
Quando eu era criança e adolescente era uma droga [encontrar
bons produtos]. Era só Neutrox, creme de mocotó e, a
partir do momento em que chegaram esses produtos americanos, como o relaxante,
a indústria brasileira acordou para o fato que existia um espaço muito grande
para cabelo negro. A partir do momento em que entraram esses produtos
americanos, de repente, começou a ser lançado mais produtos brasileiros, mas eu
já estava saindo do Brasil, praticamente... Mas eu
nunca achei nenhum produto, até hoje, que eu possa dizer que realmente foi um
produto bom.
Dentre
as entrevistadas, mesmo as que reconhecem alguma melhoria de ofertas, há
consenso de que “o acesso aos produtos
não é tão fácil”, especialmente, se comparado ao mercado destinado a
consumidoras não negras. Além de pouca disponibilidade de ofertas, as
entrevistadas falam do varejo e dos vendedores despreparados para atendê-las. Ir a uma loja especializada em produtos para
cabelos pode ser uma experiência nem tanto agradável e remeter a consumidora à
sua condição de desassistida pelo mercado, tanto no que se refere às
informações promocionais dos produtos quanto à disponibilidade nas prateleiras.
Vanda (44 anos) ensaia uma explicação para a questão: “Existem empresas que têm [produto], mas não são tão televisionadas e
não recebem atenção [referindo-se à promoção dos produtos], porque eles acham
que produtos de cabelo de negro não vende”. O ponto de vista de Amália (38
anos), por outro lado, leva em conta que a oferta parece não ser compatível com
o volume da demanda. Disse ela:
Não é fácil [encontrar produtos] porque os que são dirigidos
ao nosso tipo de cabelo acabam rapidamente [nas lojas], porque muita mulher que
você vê por aí que está com o cabelo liso, não tem cabelo liso, não. Ela faz
chapinha todo dia, ela faz escova todo dia: molhou, encolheu, tem que tratar; e
o tratamento é com produto pra cabelo crespo.
A
lacuna deixada pelo mercado também é lembrada quando contam experiências em
salões de beleza. Elas falam da escassez de serviços especializados para
cuidados dos cabelos crespos. Os estabelecimentos não dispõem de profissionais
adequadamente treinados para lidar com o cabelo crespo. Isso é parte da queixa
das entrevistadas. Vanda, que “assumiu
seu crespo”, fala da falta de salões especializados para o tratamento dos
cabelos crespos, embora reconheça que há cabelereiros especializados em estilos
específicos, como “tranças, tranças nagô
e rastafári”. A entrevistada conta que essa falta de serviços adequados foi
o que a levou a se tornar cabelereira para “cuidar
do próprio cabelo”. A “inexistência” de produtos e serviços também faz
parte da história da rede de Beleza Natural, que cresceu em meio a um vazio de
alternativas e oferece serviços e produtos inovadores para cabelos cacheados
(SUAREZ et al., 2007). Esse “não mercado” dá origem à criatividade e ao que a
literatura de marketing denomina de “consumidor produtor” (ver CORDEIRO;
CAMPOS, 2015).
Amanda
(38 anos), que adota a estética das tranças, reforça a informalidade a que
estão submetidas as consumidoras negras. O cabelo trançado de Amanda é feito
por “duas cabelereiras, que não são
cabelereiras”, são “suas amigas”.
As “não profissionais” são descritas por suas habilidades na técnica do
trançado, o que para a entrevistada é traduzida como uma experiência positiva,
“um privilégio”, “um luxo”. Outros espaços informais foram
citados pelas entrevistadas, como a casa da vizinha, por exemplo, onde “uma cuida [do cabelo] da outra”.
Embora
já não existam mais, dois salões foram lembrados pelas entrevistadas, como
ambientes de reprodução da cultura negra: o AfroDai e
o Afonjá. Eram salões onde se podia encontrar “pessoas-referência em cabelos afro” e “pretas da situação” (negras em evidência) como, por exemplo, a
atriz Zezé Motta, a jornalista Glória Maria, o ator e cantor Tony Tornado, a
política Benedita da Silva e o ator Antônio Pitanga. Magda (45 anos) parece ter
uma explicação para o fato desses salões aparecerem recorrentemente nas
entrevistas. Segundo a entrevistada, o AfroDai e o
Afonjá “eram os únicos salões, na época,
que davam uma opção para as pessoas negras tratarem do cabelo, de terem um
tratamento que não sai muito das características negras”. Amanda (38 anos)
aborda a questão em outra perspectiva: “O
Afonjá era um terraço em Copacabana e era um salão para classe A; era para
negros, mas era para classe A”. Atualmente, o salão “Beleza Natural” é o
espaço que as entrevistadas reconhecem como referência, especificamente, na
técnica de relaxamento do cabelo crespo. Diferentemente do AfroDai
e do Afonjá, o Beleza Natural não é associado à reprodução da cultura negra,
particularmente, mas a um espaço que contribui para democratizar o tratamento
de cabelos na aplicação de relaxamento.
Boa
parte dos salões destinados ao público negro encontra-se em localidades
distantes de consumidoras afluentes. Segundo as entrevistadas, uma mulher que
tenha cabelo liso dispõe de grande oferta de salões de beleza próximos à sua
casa. Já uma mulher negra, dependendo de onde more, precisará se deslocar para
outro bairro, se precisar cuidar dos cabelos crespos. Claudia (57 anos), por
exemplo, mora em uma região de classe média alta e percebe-se desassistida na
oferta de salões de beleza especializados. A entrevistada esclarece que os
salões para negros estão localizados em zonas menos favorecidas: “Na periferia, no subúrbio, na zona norte”.
Na tentativa de evitar deslocamentos, Claudia submete-se ao tratamento em um salão
destinado a mulheres de cabelo liso, próximo à sua casa. O resultado não tem
sido satisfatório, como falou: “Agora vou
num salão aqui, mas tem um problema; essa moça que faz meu cabelo não sabe, ela
não está preparada; porque a gente não tem profissional aqui, a gente não tem
profissional para cabelo étnico”. Margarida (28 anos) conta que
experimentou muitos deslocamentos para ir ao salão, ao longo de sua vida. O
trecho de sua fala, mencionando vários bairros do subúrbio do Rio de Janeiro,
mostra pelo que passam muitas consumidoras negras, para acessar serviços de
beleza em salões:
Depois fui morar na Penha; era mais distante [do salão].
Levava 1 hora ou 1 hora e meia para chegar, mas lá era salão mesmo. Eu fiquei
lá 1 ano fazendo permanente afro. Depois saí dali e fui parar lá em Água Santa,
perto do Méier. Fui para a Praça Seca. Daí, saí da Praça Seca e fui para Duque
de Caxias. Duque de Caxias é perto da minha casa, não é longe, levava uns 40 ou
30 minutos.
Além
do tempo de deslocamento para chegar aos salões de beleza que cuidam do cabelo
crespo, algumas entrevistadas lembram do longo tempo necessário para cuidar do
crespo: Magda generaliza: “Quando o negro
vai no cabeleireiro, ele não passa 1 hora, ela passa um dia inteiro no
cabeleireiro”.
Os
relatos das entrevistas e o material coletado na internet sugerem dificuldades
diversas na experiência com o uso de bens e serviços para a beleza e tratamento
dos cabelos das consumidoras negras. Elas também falam de práticas e ações
promovidas e reforçadas por elas próprias em sua rede de relacionamentos, como
amigas e vizinhas, e em sua rede social de colaboração, apoio e
compartilhamento virtual. Onde está o mercado? No consumo de bens e serviços
ligados ao cabelo crespo, o mercado aparece tímido e desencorajador nos
testemunhos ouvidos e postados na internet. Seria demarketing
seletivo? O trecho da entrevista concedida por Heloísa (31 anos) transparece
sua sensação de invisibilidade frente a um mercado que parece “fingir” que a
atende em sua demanda. Seria demarketing seletivo e
velado?
O que eu sinto, às vezes, é que tem creme que não hidrata
porcaria nenhuma. [O cabelo] fica mais palhoça do que não sei o quê. [O
produto] foi testado em quem? Foi feito para quem? Quem foi o modelo do
desenvolvimento desse creme? Eu não estou vendo esse resultado no meu cabelo e
nem no das minhas amigas.
6. DISCUSSÃO FINAL
Mulheres negras aprendem que o padrão de
beleza vigente difere de sua natureza étnico-racial. Suas histórias falam de um
mercado que oferece produtos e serviços que pretendem transformar suas
características estéticas originais e não as manter ou resgatar. Cabelos
alisados são “práticos” (NDICHU; UPADHYAYA, 2018), mas tornam invisíveis suas
características naturais. Cabelos alisados aproximam a mulher negra da estética
branca e podem ajudar a diminuir o estigma do cabelo crespo ou enrolado. As
representações e as práticas de mercado podem ter levado mulheres negras em uma
direção oposta à construção da identidade que tem associação estreita com o
consumo (BELK, 1988; SLATER, 1997; WARDE, 1994), ou seja, ações do mercado
parecem confundir ou até desconstruir a identidade desse grupo de mulheres. O
que Firat e Venkatesh
(1995) explicam como produção de um “self vazio” ou “self descentralizado”.
Mesmo com diferentes contextos sócio-históricos, nossos achados encontram paralelo na
pesquisa de Ndichu e Upadhyaya
(2018) sobre a trajetória de mudança de identidade de mulheres negras no
Quênia, por meio da adoção do cabelo crespo natural. Em nossos dados primários
e secundários também identificamos movimentos em busca de um cabelo natural
como, por exemplo, a “Passeata do Orgulho Crespo” e o grupo do facebook “Cacheadas em Transição”. Esses novos movimentos
em busca da construção de identidade deveriam provocar o lado ofertante do
mercado brasileiro a ver o “invisível”. Entretanto, as ações de marketing das
empresas, predominantemente direcionadas para a população não negra, parecem
desestimular a participação dos negros no mercado de consumo. As entrevistadas
contaram como se sentem desencorajadas e como buscam alternativas para
preencher lacunas com as quais se deparam no mercado.
O conceito de demarketing
seletivo traz reflexões sobre o outro lado, o lado das empresas. Aquelas que
querem de fato controlar demanda ou, em outras palavras, desencorajar o consumo
das mulheres negras, parecem encontrar nesse grupo um “alvo fácil”. O Brasil,
historicamente, nega o racismo existente. Assim, não se pode afirmar, que as situações de descaso
com que consumidoras negras têm sido tratadas pelo mercado seja um caso
voluntário de demarketing seletivo, embora os relatos
obtidos indiquem a existência de demaketing seletivo, porém velado.
Retornando ao
artigo seminal de Kotler (1973) que traz o demarketing como uma das
tarefas de gerenciamento de marketing, nossos achados chamam atenção para um
paradoxo. Os relatos sugerem a existência de uma demanda em estado latente, ou
seja, o grupo de mulheres negras precisa de produtos e serviços que não estão
adequadamente sendo oferecidos no mercado. Philip Kotler nos lembra que demanda
latente indica um ambiente propício para possibilidades de inovações pelas
empresas, mas as experiências analisadas parecem distantes de ações que visam
desenvolver demanda (developmental marketing). Ele nos traz pistas sobre
como compreender o paradoxo em nossos achados de pesquisa quando a “demanda
latente” enxerga ações de demarketing seletivo.
Kotler (1973, p.47) atribui esse tipo de demarketing
a situações quando “organizações não desejam reduzir a demanda como um todo,
mas apenas a demanda de certos segmentos do mercado considerados não rentáveis
ou indesejáveis em termos do seu impacto em segmentos importantes do mercado”.
O artigo de Kotler
não contempla questões de classe sócio- econômica ou de etnia quando se refere
aos “não rentáveis” ou “indesejáveis”. No entanto, estratégias de segmentação
de mercado no Brasil parecem camuflar a importância dos negros como
consumidores, ao mesmo tempo em que reforçam uma dominação étnica não negra (LENGLER
et al.2002) e que novos movimentos,
principalmente nas plataformas digitais, provocam o lado ofertante do mercado
brasileiro a ver o invisível e indesejável.
Esse estudo
contribui para que empresas brasileiras reflitam sobre questões
étnico-raciais que apenas disfarçada, mas não é real. O Brasil não é uma
democracia racial, como muitos brasileiros gostam de pensar ou foram levados a
acreditar e propagar. Na prática, essa crença dificulta o debate sobre o
racismo existente no mercado de consumo onde muitos temas precisam ainda ser
explorados de forma a desafiar conhecimentos construídos na teoria e na prática
por pesquisadores predominantemente não brancos. influenciam o mercado e sobre
suas ações de marketing. “O consumidor
não tem cor, mas não é negro”? Essa frase, proferida há décadas, parece
ainda presente no imaginário e na prática das empresas. Ela revela o racismo
velado. Racismo é crime no Brasil. Contudo, no dia a dia, pratica-se racismo
velado em discursos e representações que sugerem que a aceitação social dos
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DATA DE SUBMISSÃO: 20/09/2017
DATA DE APROVAÇÃO: 24/07/2018