Bernard Lonergan e Alberto Guerreiro Ramos: Diálogos entre o sujeito
existencial e o homem parentético
Laís
Silveira Santos
Doutoranda
em Administração na Universidade do Estado de Santa Catarina (ESAG/UDESC).
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pesquisadora do NISP - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Inovações Sociais na
Esfera Pública (NISP/UDESC). E-mail: lais.ssantos@yahoo.com.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4737-5470
Mauricio C. Serafim
Professor
do Departamento de Administração Pública e do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina (ESAG/UDESC). Doutor
em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV). Pesquisador do NISP
- Núcleo de Pesquisa e Extensão em Inovações Sociais na Esfera Pública
(NISP/UDESC). E-mail: serafim.esag@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4852-5119
Daniel Moraes Pinheiro
Professor do Departamento de
Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (ESAG/UDESC).
Doutor em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pesquisador do NISP - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Inovações Sociais na
Esfera Pública (NISP/UDESC) e Pesquisador no Núcleo Organizações, Racionalidade
e Desenvolvimento (ORD/UFSC). E-mail: daniel.m.pinheiro@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7731-8178
DATA DE SUBMISSÃO: 17/09/2016
DATA DE PUBLICAÇÃO: 03/11/2017
Resumo
Bernard Lonergan abordou, entre outros temas, a questão da ação humana e ética, considerando possível
um caminho de autenticidade e realização moral que se dá num tipo de sujeito, que
denominou de sujeito existencial. A partir dessa concepção, vimos uma possibilidade de diálogo com Alberto Guerreiro Ramos, que
criou o conceito de homem parentético, definido como um ser racional por
excelência, em sua dimensão substantiva. A concepção desse modelo de homem vai
de encontro à visão das teorias administrativas que se baseiam na racionalidade
instrumental. Embora Lonergan não tenha criado,
explicitamente, uma teoria substantiva, sua concepção de ética e bem humano
destaca aspectos que remetem à razão substantiva. Assim, este ensaio teórico
objetivou identificar as possibilidades de aproximação entre
o homem parentético e o sujeito existencial, a partir das perspectivas da ação
humana e ética. Identificamos que os autores possuem uma compreensão semelhante
de mundo e dos relacionamentos humanos, destacando-se a questão da consciência
crítica do homem parentético e a consciência da responsabilidade do sujeito
existencial.
Palavras-chave: Bernard Lonergan, Guerreiro Ramos, ética, sujeito existencial,
homem parentético.
Abstract
Bernard Lonergan has addressed, among other topics, the issue of human
and ethical action, considering the possibility of a path of authenticity and
moral achievement that occurs in a specific type of subject, whom he has called
the existential subject. Based on this concept, we considered the possibility
of a dialogue with Alberto Guerreiro Ramos, who has
created the concept of parenthetical man, defined as a being that is rational
for excellence, in his substantive dimension. The conception of this model of
man goes in an opposite direction of the management theories based on the
instrumental rationality. Although Lonergan has not created, explicitly, a
substantive theory, his concept of ethics and human highlights aspects that
relates to the substantive rationale. Thus, this theoretical essay aimed to
identify the possibility of approach between the parenthetical man and the
existential subject, through the perspectives of human action and ethics. We
identified that the authors have a similar comprehension of the world and of
the human relations, especially when it refers to the matter of critical
awareness of the parenthetical man and the responsibility awareness of the
existential subject.
Key-words: Bernard Lonergan, Guerreiro Ramos, ethic, existential
subject, parenthetical man.
1. Introdução
Os sonhadores organizacionais
imaginam sistemas tão [funcionalmente] perfeitos que o ser humano não precisa
mais ser [eticamente] bom. T. S.
Eliot (inclusão dos colchetes por G. F. Heidemann)
O filósofo, teólogo e
economista canadense Bernard Lonergan (1904-1983),
embora pouco conhecido no Brasil[1], é considerado um
dos mais importantes filósofos do século XX (HENRIQUES, 2010). Sua vida foi
praticamente toda destinada a estudos de disciplinas como ética, economia,
epistemologia e teologia. Nessas áreas teve profunda dedicação a autores
relacionados à teoria do conhecimento, aos textos clássicos de filósofos gregos
como Sócrates, Platão e Aristóteles, pensadores medievais como Santo Agostinho
e Tomás de Aquino, e um conhecimento erudito da filosofia moderna e
contemporânea.
Ao tomarmos conhecimento sobre as obras de Lonergan
e suas linhas de atuação, principalmente sua teoria do conhecimento - que
aborda entre outros temas, a ação humana e ética -, percebemos na grandeza e
profundidade de seu trabalho uma possibilidade de fazer o diálogo com outro autor,
agora brasileiro, mas ainda não devidamente reconhecido e valorizado em seu
país de origem: Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982), sociólogo que dedicou
parte de seus estudos para o entendimento da razão e de uma ciência que
fundamente e compreenda adequadamente as ações humanas e o planejamento de
sistemas sociais. Constatamos que Guerreiro Ramos, durante seu período de
estudos e escrita da sua última obra “A Nova Ciência das Organizações”, teve
contato com os trabalhos de Lonergan, como consta no
capítulo segundo d’A Nova Ciência, e utilizou-os como uma das referências para
elaborar uma crítica ao modelo contemporâneo de ciência social, tendo em vista
sua teoria substantiva da vida humana associada.
Ambos
os autores adotam bases ontológicas, epistemológicas, antropológicas e
teológicas próximas de uma mesma cosmovisão[2]
de mundo, embora, talvez, com propósitos distintos, mas com fundamentos
semelhantes e alguns compartilhados. Um exemplo é a utilização da metafísica
clássica como fundamentação de seus trabalhos. Esse entendimento fez com que
nos despertasse a curiosidade de realizar um estudo de modo a aproximá-los
teoricamente. Dada à complexidade, profundidade e grandeza intelectual de ambos
os autores, buscamos focar nos pontos nos quais eles parecem convergir: a
discussão sobre o agir humano e seus aspectos éticos, a partir de uma abordagem
substantiva. Neste contexto, Guerreiro Ramos criou o conceito de “homem
parentético”, definido como um ser racional por excelência, sendo a razão
entendida em sua dimensão substantiva, noética
(GUERREIRO RAMOS, 2001; AZEVEDO; ALBERNAZ, 2006).
A
concepção desse modelo de homem vai de encontro à visão das teorias
administrativas que se baseiam na racionalidade instrumental e que ignoram as
implicações psicológicas e a natureza do homem. Guerreiro Ramos entendia que a
teoria administrativa não poderia continuar a legitimar a racionalidade funcional da organização e, assim, acreditava
que o modelo de homem parentético poderia fornecer a ela “a sofisticação
conceitual que se faz necessária para enfrentar as questões e os problemas que
causam tensões entre a racionalidade noética e a racionalidade funcional” (GUERREIRO
RAMOS,
2001, p. 6). Dessa forma, o autor buscou por uma nova ciência das organizações
concebida a partir da razão substantiva.
Embora
Lonergan não tenha criado, explicitamente, uma teoria
substantiva como fez Guerreiro Ramos, sua concepção de ética e bem humano se
aproxima de uma abordagem que destaca aspectos que parecem remeter à razão
substantiva, fundamentada em noções transcendentais do ser e do valor
(COVARRUBIAS, 2016). Para Lonergan, ao colocar juízos
de valor no processo de decisão, é possível um caminho de autenticidade e
realização moral que se dá num tipo de sujeito ao qual denominou de sujeito
existencial ou responsável (NEIRA, 2008). Tal sujeito é aquele que sabe o que
agir significa e que o faz conscientemente (WEBB, 2013).
Assim,
a partir da indicação de Guerreiro Ramos sobre a possibilidade do homem
parentético se constituir em um caminho para o avanço da teoria administrativa
e do reconhecimento da abordagem de Lonergan como
complementar à compreensão de Guerreiro Ramos, buscamos realizar um ensaio que
tem como objetivo identificar as
possibilidades de aproximação
teórica entre o homem parentético e o sujeito existencial, a partir das
perspectivas da ação humana e da ética. Sustentamos que é
na complementariedade das categorias (racionalidade, nível de consciência e
conduta) que está a possibilidade para que o modelo de homem parentético
contribua, segundo Guerreiro Ramos (2001, p. 6), para a “[...] sofisticação
conceitual que se faz necessária para enfrentar as questões e os problemas que
causam tensões entre a racionalidade noética e a
racionalidade funcional”. Além disso, defendemos que há elementos no conceito
de sujeito existencial de Lonergan que remetem à
razão substantiva e que inserem juízos de valor no processo de decisão,
colaborando ao entendimento dos indivíduos nas organizações que não mais se
condicionam a se comportar de modo operacional e reativo, mas que buscam
exercer sua capacidade crítica e de reflexão ética.
2. O
modelo de homem parentético de Guerreiro Ramos
No campo de estudos
organizacionais há trabalhos inspirados na obra de Guerreiro Ramos, sejam
aqueles dedicados a compreendê-los, sejam aqueles que a criticam ou a
questionam. Como destacam Begazo e Agurto (2003), há os que o consideram apenas um teórico,
distante da realidade, e há inúmeros outros que o consideram um inovador,
principalmente por se lançar a repensar o papel do homem[3] no mundo
organizacional.
A obra de Guerreiro
Ramos é notadamente marcada por uma preocupação com a condição do homem contemporâneo.
Para Azevedo (2007), é uma sociologia antropocêntrica, caracterizada por um
“humanismo integral”[4], na qual o trabalho
intelectual denota a centralidade de compreensão de um ser humano em todas as
suas dimensões. Está presente a percepção dos conflitos entre o homem e os
sistemas sociais, a necessidade de compreensão ampliada da razão humana, e
inúmeros traços de uma sociologia que busca considerar o indivíduo em sua
essência.
Essa “antropoteoria” – ou seja, a teoria dos modelos de homem (VAZ,
2004, p. 4) – de Guerreiro Ramos (AZEVEDO; ALBERNAZ, 2006, p. 5) pode ser
observada nos diferentes momentos de sua trajetória, formação acadêmica e
política, bem como em sua formação cristã-católica. Guerreiro Ramos tratou da
condição humana tendo como base o pensamento de intelectuais cristãos;
discussões de problemas sociais e raciais no qual se identificava fortemente
com a cultura negra; pensamento crítico como militante; e a condição humana na
sociedade centrada no mercado, na qual se insere a ciência social e, mais
especificamente, a teoria das organizações e a teoria administrativa (SOARES,
1995; AZEVEDO; ALBERNAZ, 2006). O compromisso ético com a vida social (ARTEAGA,
2009), o engajamento (BOAVA; MACEDO; ICHIKAWA, 2010) está claro em seu trabalho,
em sua percepção de homem, crítico e consciente da realidade. Destaca-se ainda em
sua obra uma busca por uma explicação dos problemas nacionais a partir de uma
base nacional, tendo como cerne a realidade social e histórica local (DE OLIVEIRA,
2012; FLORES, 2015).
Ao longo dos anos, Guerreiro
Ramos é contundente em denunciar o fato da condição humana – em sua dimensão
pública/política ou privada – ser prioritariamente marcada por uma
racionalidade funcional que passa a orientar a vida humana e suas ações. É uma
característica que se sobressalta em seu tempo, mas que permanece em pauta até
hoje nos trabalhos em Administração.
Sua obra ressoa no
campo da Administração, principalmente nas questões de autonomia e busca de
sentido do homem frente aos problemas da sociedade contemporânea. Discutir elementos
da razão é parte de seu argumento, assim como é fundamental para a compreensão
de sua obra, para que seja possível, assim, discutir o homem e seu papel
social.
Guerreiro Ramos destaca
em seus estudos – e irá inspirar diversos trabalhos posteriores, como
apresentam Serva et al. (2015) – a categoria de razão substantiva (ou noética). Ao explicar a racionalidade substantiva ele irá
destacar a centralidade do juízo ético. Exatamente por esse motivo parece ser
inspirador para pesquisadores da Administração, que buscarão em seu trabalho
uma racionalidade que se contraponha àquela comumente observada nas
organizações tradicionais – a racionalidade funcional – ou que procurem
destacar o papel do homem na sociedade e no mundo das organizações que, “[...]
por meio da racionalidade substantiva [...] tem maior consciência de seu papel
no mundo, arguindo-se sobre a verdadeira lógica da ação social, quando esse
indivíduo reconhece que o sistema predominante reduz sua capacidade de análise”
(MUZZIO, 2014, p. 710).
Considerando as
concepções de racionalidade, Guerreiro Ramos irá descrever três modelos de homem
(antropoteoria), conforme apresentado em seu artigo
“Modelos de Homem e Teoria Administrativa”. Guerreiro Ramos (2001) reconhece a
existência do homem operacional, homem reativo e, a partir do estado crítico da
arte e da teoria da Administração, propõe um novo modelo: o homem parentético.
Para o primeiro, o
homem operacional, Guerreiro Ramos (2001) afirma ser equivalente ao homo economicus,
da economia clássica. É considerado um recurso dentro do contexto
organizacional que deve ser maximizado em termos de produto físico. Nesse
sentido, o trabalhador é visto como um ser passivo, programável e ajustável aos
imperativos da maximização da produção. Sua motivação é calculada e movida por
recompensas materiais e econômicas e sua liberdade pessoal é algo estranho ao
modelo organizacional.
Posteriormente, a escola das relações humanas desenvolve o que Guerreiro Ramos (2001) denomina de modelo de “homem reativo”, para o qual a Administração tem como objetivo reforçar os comportamentos da racionalidade organizacional específica. Ele alerta que, apesar da preocupação dos humanistas com os trabalhadores, os objetivos buscados não foram alterados e tal modelo de homem ainda reflete um trabalhador ajustado ao contexto do trabalho e não ao seu crescimento individual ou autorrealização. Tal situação dá origem ao ‘homem organizacional’ e a integração indivíduo-organização em detrimento da consciência individual.
Tal integração é entendida por Guerreiro Ramos (2001) como um problema, uma vez que não é distinguido o que corresponderia ao espaço individual-privado do ser humano e o espaço organizacional. Consequentemente, na integração entre indivíduo-organização se ignora também o ‘caráter duplo da racionalidade’. Com isso, Guerreiro Ramos chama a atenção para a dimensão substantiva ou noética, que não corresponde aos padrões do comportamento administrativo, tal como delineado no homem organizacional. Em suas palavras, “um comportamento humano que ocorra sob a égide da racionalidade noética pode ser administrativo apenas por acaso, não necessariamente” (GUERREIRO RAMOS, 2001, p. 6). O indivíduo, quando inserido no contexto organizacional, ao se ver impossibilitado de realizar julgamentos éticos – como julgar a organização, seus líderes e comportamentos – pode-se encontrar diante de dilemas morais derivados da tensão entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade (SANTOS, 2012).
Em seu livro Administração e
Contexto Brasileiro, o autor dedica um capítulo para explorar o tema ‘tensões
éticas nas organizações’. Nesse texto, Guerreiro Ramos (1983) utiliza os termos
ética da convicção e ética da responsabilidade, na qual a primeira – também
chamada de ética do valor absoluto – encontra-se implícita nas ações referentes
a valores, enquanto que a segunda está contida nas ações referidas a fins.
Assim, elas estão estreitamente relacionadas à racionalidade que orienta a ação
dos indivíduos, entretanto, não necessariamente de maneira antagônica. Na sua
visão, “pode-se admitir congruência entre as duas éticas, na proporção em que
as qualificações e a natureza do trabalho se coadunem com os valores do
indivíduo. Consequentemente, a não ser em casos extraordinários, nenhum
indivíduo organiza sua conduta sob a espécie exclusiva de nenhuma das duas
éticas” (GUERREIRO RAMOS, 1983, p. 43).
Quando o ser humano encontrar
substantivamente legitimidade do seu agir, sem a imposição de regras e sob o
domínio da razão substantiva, ele age sob o imperativo da ética da convicção. Quando
há a imposição de regras e a legitimidade do agir é um atributo previamente
definido pelo grupo ao qual ele pertence, o ser humano age ou se comporta sob o
imperativo da ética da responsabilidade, vinculada à razão instrumental. Em
síntese, tem-se:
Tabela 1 -
Síntese das principais categorias weberianas
AÇÃO SOCIAL |
CRITÉRIO |
PROCESSO |
ÉTICA |
Ação racional referida a fins |
Racionalidade funcional |
Adaptação meios/fins |
Ética da responsabilidade |
Ação racional referida a valores |
Racionalidade substantiva |
Orientação valorativa |
Ética da convicção ou do valor absoluto |
Fonte: Serafim (2001)
Guerreiro Ramos (1989) ao demonstrar a perda da capacidade da razão do
indivíduo em normatizar sua própria conduta, discorre acerca do que ele
denomina de síndrome comportamental, caracterizada pela perda da capacidade e
da condução de ações pautadas pela ética. Neste sentido, o autor faz uma
distinção entre comportamento e ação, sintetizada na Tabela 2 a seguir:
Tabela 2 - Distinção entre
comportamento e ação
CONDUTA |
|
COMPORTAMENTO |
AÇÃO |
Forma de conduta que se baseia na racionalidade funcional
ou na estimativa utilitária de consequências (o ser humano tem em comum com
outros animais) |
Própria de um agente que delibera sobre coisas porque está
consciente de suas finalidades intrínsecas |
Categoria mais importante: conveniência |
Categoria mais importante: padrão substantivo de conduta |
Desprovido de conteúdo ético de validade geral |
Constitui uma forma ética de conduta (universalizável) |
Ditada por imperativos exteriores (conduta mecanomórfica) |
Reconhece o valor intrínseco das finalidades |
Pode ser avaliado como funcional ou efetivo e inclui-se,
completamente, num mundo determinado por causas eficientes |
Ser humano age, toma decisões e faz escolhas porque causas
finais – e não somente causas eficientes – influem no mundo em geral |
Fonte: Serafim (2001)
Nessa linha, a
síndrome comportamental é uma deturpação da noção substantiva de conduta
humana, tornando-se característica básica das sociedades contemporâneas, que
são a “culminação de uma experiência histórica, a esta altura já velha de três
séculos, que tenta criar um tipo nunca visto de vida humana associada, ordenada
e sancionada pelos processos auto reguladores de mercado” (GUERREIRO RAMOS,
1989, p. 52). A incompatibilidade dos valores do indivíduo – que em sua
complexidade vão muito além das razões puramente econômicas – com os da
organização, requer dos sujeitos o que Guerreiro Ramos (1983) e Mannheim (1962)
denominam de “autorracionalização da conduta”, que
pode ser percebida nas características do homem parentético. Esse tipo de
homem, ainda sendo um participante da organização, possui a capacidade
psicológica de resistir às mazelas que as organizações podem acarretar ao seu
comportamento (AZEVEDO; ALBERNAZ, 2006). A consciência crítica dessa atitude
teria reflexos na esfera de consciência e conduta humana, permitindo a
humanidade uma nova fase no seu processo de vida humana associada. Cabe um
esclarecimento sobre esse termo:
A consciência crítica
surge quando um ser humano ou um grupo social reflete sobre tais determinantes
[sociais e exteriores] e se conduz diante deles como sujeito. Distingue-se da
consciência ingênua que é puro objeto de determinações exteriores. A emergência
da consciência crítica num ser humano ou num grupo
social assinala necessariamente a elevação de um ou de outro à compreensão de
seus condicionamentos. Comparada à consciência ingênua, a consciência crítica é
um modo radicalmente distinto de apreender os fatos, do qual resulta não apenas
uma conduta humana desperta e vigilante, mas também uma atitude de domínio de
si mesma e do exterior (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 48).
Portanto, é com um desenho inspirado na racionalidade noética de Eric Voegelin (CAPELARI; AFONSO; GONÇALVES, 2014), nos filósofos gregos clássicos (Platão e Aristóteles), na filosofia personalista (principalmente de Jacques Maritain) e na fenomenologia de Husserl e Heidegger, que Guerreiro Ramos irá compor um modelo de homem mais abrangente do que àquele que responde a um alto grau de racionalidade funcional. Dessa forma, o homem parentético surge com “novas prioridades” (BULGACOV; CASTIGLIA, 2003), buscando superar os dilemas organizacionais de modo esclarecido, engajado, crítico e com capacidade de ação e reflexão, sendo capaz de perceber e identificar os fatores pessoais e sociais que o condicionam, atuando a partir das reflexões acerca de seus próprios valores, examinando seu contexto, mas também observando suas próprias necessidades, com autodomínio e capaz de dar sentido ao seu trabalho (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2013; FLORES, 2015; BONDARIK; PILATTI, 2007; DURANTE; TEIXEIRA, 2008; SANTOS; SANTOS; BRAGA, 2015).
Assim, “o homem parentético está eticamente comprometido com valores que conduzem o primado da razão (no sentido noético) na vida social e particular” (GUERREIRO RAMOS, 2001, p. 8-9). Adicionalmente, possui a autonomia necessária e consciência crítica desenvolvida a partir de premissas de valor que não o deixam ser enquadrado psicologicamente como os modelos reativo e operacional. Sua habilidade para “colocar o ambiente entre parênteses” possibilita o exame e avaliação das situações como um espectador, num primeiro momento, para ser possível se tornar sujeito, resultado de uma atitude autodeterminativa precedida da compreensão dos condicionamentos ambientais e sociais que o afetam. Em outras palavras, o homem parentético é aquele que aprendeu certas habilidades culturais que o possibilitam a “[...] transcender, no limite do possível, os condicionamentos circunstanciais que conspiram contra a sua expressão livre a autônoma” (GUERREIRO RAMOS, 1996, p. 11).
Importante destacar que essa antropoteoria faz parte de um projeto que Guerreiro Ramos procurou executar durante sua vida. Como ele salienta no prefácio da segunda edição de sua obra “A redução sociológica” (GUERREIRO RAMOS, 1996), a “atitude parentética” é um dos três sentidos básicos do que ele denomina “redução”. Tal atitude foi esboçada pela primeira vez no capítulo Homem Organização e Homem Parentético, da obra “Mito e verdade da revolução brasileira” (GUERREIRO RAMOS, 1963). Os outros dois sentidos são (a) redução como método de assimilação crítica da produção sociológica estrangeira, abordado no livro “A redução sociológica” (GUERREIRO RAMOS, 1996); (b) redução como superação da sociologia nos termos institucionais e universitários atuais, tema contido na obra “A nova ciência das organizações” (GUERREIRO RAMOS, 1989).
3.
A ética e ação humana sob a perspectiva de Bernard Lonergan: o sujeito existencial
Bernard Lonergan foi um filósofo, teólogo e economista canadense
que viveu entre os anos de 1904 e 1983. É considerado por alguns estudiosos
como o mais importante filósofo do século XX (HENRIQUES, 2010). Durante seu
período de formação, Lonergan estudou autores
relacionados à teoria do conhecimento, textos clássicos de filósofos gregos
como Sócrates, Platão e Aristóteles, pensadores medievais como Santo Agostinho
e Tomás de Aquino, e um conhecimento erudito da filosofia moderna e contemporânea.
Em sua carreira profissional, atuou como professor, pesquisador e autor de trabalhos
vinculados a temas de ética, epistemologia, teologia e economia.
Tendo em vista seus trabalhos e ideias, Lonergan
passou a ter muitos admiradores em diversos países, como Portugal, Espanha,
Canadá, Estados Unidos e Colômbia. Atualmente existem mais de dez centros de
pesquisa dedicados à sua obra, que produzem trabalhos de mestrado, doutorado e
colóquios para discutir seus pensamentos e repercussões (HENRIQUES, 2010).
Apesar disso, são poucos os trabalhos e pesquisadores no Brasil que conhecem e
citam as obras de Bernard Lonergan.
Em uma busca realizada na Scientific Periodicals Electronic
Library (Spell) em março de 2016, com o
critério “autor citado”, não foi encontrado qualquer trabalho. Durante o mesmo
período, no Portal da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – que
reúne trabalhos defendidas em todo o País e por brasileiros no exterior, – a
busca pelo termo “Lonergan” em todos os campos
retornou apenas uma dissertação de mestrado em Direito de 1997. Por outro lado,
ao realizar a busca de “Bernard Lonergan” em qualquer
parte do texto, no Portal EBSCO, foram encontrados 1.952 resultados, mas nenhum
de autores brasileiros. Essas informações podem indicar um possível
desconhecimento de pesquisadores nacionais sobre o autor, mas que possui uma
relativa relevância em obras estrangeiras. Sendo assim, consideramos
importante realizar um breve resgate sobre Lonergan
antes de tratarmos do enfoque de nossa atenção: sua concepção de ética e ação
humana na qual desenvolve o conceito de sujeito existencial.
O livro “Insight –
um estudo do conhecimento humano” – escrito entre 1949 e 1953 e publicado em
1957 – é considerado a principal obra do autor. Sua leitura é trabalhosa, com
bastante influência do latim, língua que
dominava. Lonergan a chamou de “um ensaio de auto-apropriação” por levar a pessoa a se conhecer, buscar
respostas no seu interior e prestar atenção ao seu próprio conhecimento, sendo,
portanto, um convite à prática (HENRIQUES, 2010). Outra obra de destaque em sua
trajetória é o livro “Método em Teologia” de 1964, no qual se dedica a uma
metodologia do conhecimento humano e vislumbra o alcance ético e religioso que
integra a estrutura de todo conhecimento. Vale destacar também outro trabalho, Collection – Collected Works of Bernard Lonergan,
menos conhecido, mas de importante menção para nosso ensaio por ter sido
utilizado por Alberto Guerreiro Ramos ao escrever o capítulo segundo de sua
obra “A Nova Ciência das Organizações”. Essa coleção contém textos mais curtos
que abrangem o trabalho de Lonergan no período de
1943 a 1965 e tratam da discussão de temas como: a fundação adequada da
metafísica, a forma de inferência, a natureza do amor e do casamento e o papel
da universidade no mundo moderno, entre outros.
Em relação ao seu posicionamento epistemológico, Lonergan se considerava um realista crítico por buscar a
compreensão sobre as condições que permitem o conhecimento e sobre como se dá o
papel do homem na aquisição de um conhecimento consciente e preocupado com a
realidade. Para isso, busca respostas na análise fenomenológica da subjetividade
humana, do sujeito humano em toda a gama de sua vida consciente e intencional (WALCZAK, 2008). Duffy (1996) argumenta que o
pensamento de Lonergan não representa uma mudança da
filosofia crítica em relação ao existencialismo, tema por ele abordado, mas uma
incorporação de muitas das preocupações de escritores existencialistas dentro
de um realismo crítico.
De acordo com essa posição, Lonergan
entende que o conhecimento é fundado por um julgamento que verifica como a
compreensão explica ou interpreta os dados corretamente. No mesmo sentido, a
consciência moral baseia o seu conhecimento concreto do bem humano e, a partir
dessa concepção, o autor trabalha o tema da ação humana e ética, onde repousa
nosso principal interesse: o sujeito existencial. Entretanto, conforme alerta Webb (2013), Lonergan não
realizou uma análise tão profunda sobre o sujeito existencial como fez sobre o insight. Contudo, a sua concepção e entendimento
de sujeito, ação humana e ética estão diretamente associados ao modo como o autor
compreendia a possibilidade do conhecimento, sendo assim necessária uma breve
descrição, que já sistematiza a formação do sujeito existencial.
A teoria do conhecimento de Lonergan
é fundamentada no desejo de conhecer: um desejo irrestrito, imparcial e
desinteressado de conhecer (HENRIQUES, 2010). Para o autor, conhecer é fácil;
difícil é saber a origem do desejo de conhecer e o que se passa na consciência
quando conhecemos. O conhecimento ocorre pela auto-apropriação
do sujeito – tese defendida em sua obra Insight
–, que ele define como um método transcendental, que vai além do que se sabe, e
subjacente a todos os tipos de conhecimento (LONERGAN, 2010). O sujeito, nesse
sentido e para o autor, “é ser alguém que desempenha operações intencionais”
(WEBB, 2013, p. 113). Por meio dessa linha de argumentação da ação, ele
constrói uma filosofia da consciência para entender como passamos à determinação
das características da realidade, ou seja, aquilo que conhecemos por meio de um
juízo verdadeiro.
Lonergan (2010) argumenta que
o conhecimento ocorre por meio de intelecções, que não são métodos, mas sim
algo que ocorre quando alguém compreende e responde a uma questão originada por
uma experiência, libertando-nos da tensão da investigação. Esse seria o ‘insight’, ou seja, a captação do mundo
concreto por meio dos sentidos, que pode ocorrer em todo tipo de conhecimento e
ciências, bem como no senso comum. Henriques (2011) esclarece que foram
buscadas diversas palavras que pudessem traduzir para o português o termo ‘insight’, tais como evidência,
inteligência, descoberta, intuição. Contudo, foi o termo ‘intelecção’ que
revelou o verdadeiro alcance noético do termo. Segundo o Institute of Noetic Sciences, o termo ‘noético’ vem
do grego nous,
que significa mente, sabedoria interior, conhecimento direto. Enquanto
disciplina, trata-se de um campo multidisciplinar que traz ferramentas
científicas para estudar toda a gama de experiências humanas, ou seja,
fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida (INSTITUTE
OF NOETIC SCIENCES, 2016).
As intelecções ocorrem espontaneamente e deve-se apurar se
são corretas ou não. Por isso mesmo que para Lonergan
“conhecer é identificar
realidades, por meio da experiência atenta, da captação inteligente e da
afirmação razoável” (HENRIQUES, 2010, p. 21). Assim, temos três maneiras básicas
de conhecer, que formam uma tríplice estrutura: a) a experiência nos dá peças
soltas de informação – dados de experiência no nível de
apresentações/experimentar; b) o entendimento capta uma unidade e explicações –
nível de inteligência/compreender; c) o conhecimento apenas fica completo com o
ato humano de juízo que capta uma realidade – nível de reflexão/julgar (WALCZAK, 2008). Dentro dessa
possibilidade de conhecimento, a consciência atua como o elemento que nos faz
ligar as coisas. Com essa argumentação, o autor defendeu que somente por meio
do processo de juízos racionais e captação inteligente que conseguimos
identificar realidades.
Em sua filosofia da consciência, Lonergan
(2010, p. 317) entende a consciência como “apercepção imanente dos atos
cognitivos” e defende que estar consciente significa realizar a atividade
pensante. Para tanto, define quatro níveis de consciência que estão associados
com as tarefas do método de conhecimento que propõe (DIMAS, 2014). Na
consciência empírica, sentimos, percebemos, imaginamos, falamos, nos movemos; o
homem vive, mas não se preocupa com o seu significado. No nível intelectual, entendemos,
expressamos o sentido, decidimos pressuposições e implicações de nossa
experiência: pergunta-se ‘o que’ e ‘por que’. No nível de consciência racional, realizamos o juízo sobre o
verdadeiro e o falso; certeza ou probabilidade de uma proposição. O último
nível de consciência é aquele de responsabilidade e liberdade no qual assumimos
nossas operações, avaliamos seu valor, deliberamos sobre o caminho da ação,
decidimos e atuamos (DIMAS, 2014; LONERGAN, 2010; NEIRA, 2008).
A partir desses níveis de consciência se associa diferentes
tipos de sujeitos. No primeiro nível (consciência empírica), o indivíduo apenas
experimenta de forma imediata, existindo somente como sujeito experiencial ou
empírico. Quando passa a buscar também o significado e consegue chegar a uma
intelecção de forma inteligível, compreende os fragmentos de um todo de forma
coerente e estruturada, torna-se um sujeito mais que experiencial, um sujeito
entendedor (nível intelectual). A partir da reflexão crítica sobre a adequação
de seu entendimento, além de sujeito empírico e intelectual, ele se torna um
sujeito racional (nível racional). Por fim, quando o indivíduo sabe e
compreende o significado de sua ação e a faz conscientemente no nível de
consciência de responsabilidade, surge o sujeito
existencial (DIMAS, 2014; WEBB, 2013).
O sujeito existencial é comprometido, mas compreensão e julgamento
não ocorrem em um vácuo. Suas ações são contextualizadas para a busca da
compreensão e da verdade e, com maior ou menor sucesso, é fiel ao seu
compromisso ético (LONERGAN, 2012). A partir dessa compreensão, Lonergan acredita que o objeto do conhecimento é o mundo
tal como ele é, no qual o homem realiza escolhas para que o possível se torne
mais provável. Para isso, opera com juízos de valor, deliberações e escolhas. Neste
sentido e com essa argumentação, Lonergan convida o
sujeito a ser um agente, um sujeito que escolhe, e desloca a sua teoria da
intelecção – um exercício da consciência intencional – para o exercício
existencial e para a vida prática do sujeito em sociedade (HENRIQUES, 2010).
Assim, tendo em vista sua rede de compreensão para o estudo do conhecer
e baseado nela, Lonergan apresenta o papel da ética
no âmbito do agir e introduz a possibilidade da ética como orientação para a vida,
fundamentado no conceito de bens (HENRIQUES, 2011). O insight próprio da ética, “que nos impele e nos obriga a ação,
integra o bem e os bens, a liberdade e a libertação” (HENRIQUES, 2010, p. 70).
Esse Bem, para Lonergan, baseia-se no sentido
aristotélico e refere-se à realidade procurada e ao nosso desenvolvimento como
sujeitos que selecionamos ‘o mundo’ em que vivemos. Dessa forma, a consciência
intencional, que apresentou em sua teoria do conhecimento, é trazida para a
discussão ética, mas realizando a devida distinção e aproximando-a da práxis aristotélica, para a qual a ética
não se pratica apenas com a aquisição de regras, mas nos desenvolvendo como
seres morais e enfrentando os domínios do senso comum (HENRIQUES, 2010). A virtude
ética, em Aristóteles, é aquela que atua na parte prática, no comportamento prático
e no modo de ser na busca do Bem (REALE; ANTISERE, 2005).
No desenvolvimento dos trabalhos de Lonergan
há uma mudança na ênfase sobre a ‘autenticidade’ e uma distinta ‘noção de Bem’
(DUFFY, 1996). Há um requinte e uma expressão mais adequada em escritos
posteriores do que o que é apresentado em Insight.
No Insight, o Bem era o inteligente e
razoável. Na obra Método em Teologia, o Bem se destina às questões de
deliberação: É isto que vale a pena? É verdadeiramente ou só aparentemente bom?
Tem-se uma resposta intencional baseada em valores e em juízos de valor feitos
por uma pessoa virtuosa ou autêntica com uma boa consciência. Metaforicamente,
a intenção do Bem é a “cola” da consciência humana (DUFFY, 1996).
Para alcançar o Bem
devemos buscar a libertação de bloqueios e distorções, num processo que tem
avanços e retrocessos, localizando-se no nível da consciência do sujeito
existencial. Assim, do mesmo modo que há uma sequência cognitiva de
conhecimento ‘experiência, intelecção e juízo’, para a ética há ‘bens,
liberdade e libertação’: “Desejamos e experimentamos bens. Refletimos e
compreendemos a liberdade. Tentamos e realizamos atos de libertação”
(HENRIQUES, 2010, p. 71). Para esse tipo de intelecção ética, devemos enfrentar
os domínios do senso comum que se apresenta interessado em soluções práticas
(sujeito experiencial), oferecendo uma dedução inarticulada e um conjunto
incompleto de intelecções. Para enfrentar esses domínios, fazemos perguntas
sobre o que vale a pena e que nos levam a compromissos e responsabilidades (sujeito
racional e sujeito existencial), tais como: isto que estou fazendo, vale a
pena? É algo realmente bom e valioso ou somente é bom em aparência? (NEIRA,
2008). Estamos tratando, neste ponto, do
campo das decisões e dos juízos de valor.
Esse tipo de pergunta
está vinculado à autotranscendência moral, ou seja, aquilo
que dá orientação à vida pessoal e das pessoas que a rodeiam, bem como a
realização daquilo que é considerado pelo agente como verdadeiro, essencial,
valioso. A autotranscendência é possível na medida em
que não nos encontramos egocentrados. Buscamos ir
mais, através e além, como nas perguntas citadas anteriormente (NEIRA, 2008).
Essa explicação é apresentada por Lonergan quando diferencia
os termos em inglês ‘self-trascendence’ (autotranscendência)
e ‘self-regarding’
(autocentramento).
A autotranscendência
como processo operativo para o campo das decisões e deliberações está associada
aos juízos de valores e ao âmbito existencial, no qual um indivíduo ou uma
comunidade tem que decidir o que querem fazer com seu próprio destino e vida,
ou seja, buscando a liberdade humana. A partir dos juízos de valor se
constituem os processos de discernimento e chega-se as decisões (NEIRA, 2008).
4.
A possibilidade de complementariedade: as contribuições de Lonergan ao modelo de homem parentético
Apresentados brevemente alguns dos fundamentos encontrados
nas obras de Bernard Lonergan, podemos retomar o modelo
de homem parentético de Guerreiro Ramos e buscar elementos que possibilitem uma
aproximação entre as visões de ambos autores e seus modelos de homens/sujeitos.
Antes, contudo, sintetizamos na Tabela 3 as principais categorias de análise
que nos permitiram aproximar, de forma complementar, os dois tipos de
homem/sujeito tratados nesse ensaio.
Tabela 3 – Quadro-síntese com as principais categorias de análise compartilhadas entre o homem parentético e o sujeito existencial
|
HOMEM PARENTÉTICO |
SUJEITO EXISTENCIAL |
Conceito |
Ser racional por excelência que busca superar os dilemas e atuar de modo esclarecido, engajado, crítico e com capacidade de ação e reflexão (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2013; FLORES, 2015; BONDARIK; PILATTI, 2007; DURANTE; TEIXEIRA, 2008; SANTOS; SANTOS; BRAGA, 2015). |
Sujeito ‘fazedor’ capaz de compreender o significado de sua ação e agir de forma conscientemente responsável, a partir de juízos de valores, liberdade e responsabilidade (DIMAS, 2014; MORELLI; MORELLI, 1997; WEBB, 2013). |
Racionalidade |
Baseiam-se na razão própria e atributo inerente do indivíduo enquanto criatura de razão: racionalidade noética ou substantiva, de caráter verdadeiro e auto-evidente, que possibilita a busca pela liberdade, autonomia e autorrealização (DENNIS, 2009, GUERREIRO RAMOS, 2001) |
|
Nível de consciência |
Ambos os tipos de homem/sujeito estão em uma transição entre nível de consciência racional e o responsável, cujo o conhecimento, a experiência e a ação somente ficam completos com o ato humano de juízo e reflexão. Nesse nível de consciência mais avançado (da responsabilidade e liberdade) são capazes de deliberar eticamente e racionalmente sobre os caminhos de ação e decisão (WALCZAK, 2008; DIMAS, 2014; LONERGAN, 2010; NEIRA, 2008). |
|
Conduta |
A conduta própria desses tipos de homem/sujeito é aquela que não se orienta por modelos e condutas ditadas por imperativos exteriores, como estruturas políticas ou sociais. Dessa forma, eles não “se comportam” mas “agem” de modo consciente sobre as finalidades intrínsecas das ações (GUERREIRO RAMOS, 2001; SERAFIM, 2001, WEBB, 2013). |
Fonte: Elaborados pelos autores
Foi com base nesses ‘encontros
de sentido’ entre as categorias de análise da Tabela 3 que pudemos sustentar o
pressuposto de que ambos os autores pertencem a uma cosmovisão semelhante, ou
seja, uma maneira semelhante de entender/ver o mundo e as relações humanas. A
partir da análise de suas obras, acreditamos que possuem pontos em comum que
podem corresponder a uma forma muito próxima de se pensar a condição humana,
sendo sua principal similaridade a questão da consciência crítica do homem
parentético e a consciência da responsabilidade de Lonergan.
Ambas refletem uma consciência profundamente desenvolvida sobre premissas de
valor do sujeito em ação que busca se libertar de uma ‘ingenuidade social’, por
meio da possibilidade de transcendência ao mundo em que estava posto e agir de
modo a orientar a sua vida e das pessoas que rodeiam ao que considera essencial
e verdadeiro, buscando sua liberdade, autonomia e autorrealização (AZEVEDO;
ALBERNAZ, 2006; NEIRA, 2008; GUERREIRO RAMOS, 2001).
A aproximação de ambos também se dá por alguns dos autores
que ambos utilizam, sendo o principal deles o filósofo Aristóteles. Na obra “A
Nova Ciência das Organizações”, Guerreiro Ramos (1989) destaca que o homem,
para os teóricos clássicos, diferencia-se dos outros animais por ser um ser
político/civil (zoon politikon),
dotado de razão e de imperativos éticos. O autor recorre a Aristóteles para
explicar que, enquanto ser social, o homem também calcula, como um agente
econômico, mas no seu espaço privado (família); enquanto ser político, o homem
busca expandir o bom caráter do conjunto (interesses sociais).
Também a partir de Aristóteles e de sua orientação
metafísica, segundo a qual “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”
(ARISTÓTELES, 1984, Livro I (A), p. 11), o filósofo e teólogo Lonergan elabora sua teoria do conhecimento que tem como
pressuposto que o ‘conhecimento’ e o ‘desejo’ são duas instâncias inseparáveis.
Assim, o que Lonergan chamou de insight ou intelecção – aquilo que é realizado enquanto o sujeito está compreendendo – equivale à ‘forma’ em Aristóteles
(OLIVEIRA, 2011).
Além de Aristóteles, vale também destacar o filósofo,
historiador e cientista político Eric Voegelin.
Embora existam pontos de discórdia entre Lonergan e Voegelin, ambos são vistos por Eugene Webb
(2013) como ‘filósofos da consciência’. Guerreiro Ramos também poderia ser
incluído nessa classificação devido às suas reflexões da condição humana. Além
disso, Guerreiro Ramos, Lonergan e Voegelin também possuem em comum a inclusão, em suas obras,
de conversações filosóficas e autores do período clássico e medieval,
retomando-os para a reflexão sobre a condição humana e a ação virtuosa na
contemporaneidade, conforme pontuou também Azevedo e Grave (2014) sobre a
abordagem de Guerreiro Ramos. Inclusive, Voegelin,
segundo Guerreiro Ramos (1989), realizou uma crítica árdua ao esquecimento do
conteúdo de textos clássicos como os de Platão e Aristóteles.
Ao pensar em termos de possibilidade de complementariedade
ou de agregação do legado de Lonergan ao entendimento
das obras de Guerreiro Ramos, em especial aquilo que tangencia a noção de homem
parentético, vemos em Lonergan uma possibilidade de ‘método’
ao que foi construído por Guerreiro Ramos, principalmente, no âmbito teórico. Em
outras palavras, a forma como se dá o conhecimento e os níveis de consciência
definidos por Lonergan são, como ele mesmo frisou, um
convite e um exercício à prática para que a pessoa possa se conhecer e buscar
respostas no seu interior (HENRIQUES, 2010). Guerreiro Ramos, ao traçar os
modelos de homem e apontar o homem parentético como uma “capacidade psicológica
que habilitaria as pessoas a resistir às mazelas que as organizações podem
acarretar ao comportamento e à psicologia humana” (AZEVEDO; ALBERNAZ, 2006, p.
5), não apresenta de forma clara ou, por que não, metodológica, como isso se
daria. No livro “A Nova Ciência das organizações”, que é posterior à escrita do
texto sobre os modelos de homem, Guerreiro Ramos (1989, p. XVII) salienta que
sua obra é fruto de mais de 30 anos de pesquisa e reflexão. Contudo, também
deixa claro que se trata apenas de um começo, pois “não articula tudo aquilo
que a nova ciência consiste”. Assim, trata-se de uma proposta de trabalho
teórico e operacional que pretendia dar continuidade durante o restante de sua
vida.
Tendo isso em mente, retomamos os estudos de Lonergan que oferece em suas obras um método de análise das
operações humanas que nos permite uma melhor auto-apropriação
e orientação das operações, de tal forma que nossa vida possa se mover na
direção da autenticidade humana e do progresso. Vimos, com isso, uma
possibilidade de associar o método de Lonergan como
uma alternativa de ação e reflexão para o homem parentético. Lonergan identifica um sujeito racional, no seu nível de
consciência racional; contudo, no nível de consciência responsável, admite um
sujeito responsável ou sujeito existencial, que se assemelha ao modelo de homem
parentético por ser um sujeito que, mais do que ser apenas um conhecedor, passa
a ser um fazedor: delibera, avalia, escolhe e atua. Dessa forma, seu fazer é
livre e responsável, mas o que dá sentido à ação é seu juízo de valores que
guiam a conduta. Da mesma forma, o homem parentético tem sua conduta orientada pela
dimensão lúcida da razão, ou seja, aquela que “possui uma consciência crítica
altamente desenvolvida das premissas de valor presentes no dia-a-dia; está apto
a compreender os ditames da razão substantiva, em contraposição às
condicionantes do comportamento definidas a partir das imposições externas”
(JACOMETTI et al., 2013, p. 99).
O sujeito existencial de Lonergan
é aquele que “sabe o que agir significa e que o faz conscientemente” (WEBB,
2013, p. 114). Desta forma, sua conduta, assim como a do homem parentético, não
se limita a simplesmente ‘comportar-se’, a partir de uma conduta ditada por
imperativos exteriores e por conveniência. Diferentemente, sua conduta
refere-se à ‘ação’, ou seja, aquela própria de um agente que delibera sobre as
coisas, pois está consciente de suas finalidades intrínsecas (SERAFIM, 2001).
Tanto o homem parentético como o sujeito existencial são passíveis de tensões
existenciais; contudo, reconhecem, pelo juízo de valores associado ao
predomínio de uma racionalidade substantiva, o valor intrínseco das
finalidades.
A racionalidade do
homem parentético é a própria razão em si, como definida em seu sentido
substantivo e noético, conforme conceituada por Karl
Mannheim e Eric Voegelin, respectivamente (GUERREIRO RAMOS,
2001). Assim, a racionalidade é entendida como,
[...] o processo de
estudo ordenado e de identificação dos padrões de ordenamento da vida humana
associada que são auto-evidentes ao indivíduo,
independente das estruturas políticas e sociais específicas [...]. Esses
padrões não derivam e não dependem da opinião da maioria ou do resultado da
interação entre interesses divergentes. Eles são verdadeiros e auto-evidentes [...]. (DENNIS, 2009, p. 204)
Esse mesmo sentido noético de
sabedoria interior e conhecimento direto é encontrado no conceito de insight, conforme utilizado por Lonergan, e traduzido para o português como intelecção
(HENRIQUES, 2010, WEBB, 2013). Assim, o sujeito existencial, tal como o homem
parentético, possui intelecções espontâneas – de forma transcendental –, que
possibilitam o desempenho de operações intencionais para determinação das
características da realidade por meio de um juízo verdadeiro. A racionalidade substantiva ou noética parece se revelar da mesma forma devido ao seu
caráter auto-evidente e consciente de seus condicionamentos
políticos e sociais, de modo a superar tais condicionamentos.
5. Considerações
Finais
As obras de Bernard Lonergan são de uma densidade e profundidade que exige um
esforço incomum para entendê-la em sua completude. Da mesma forma ocorre com
Alberto Guerreiro Ramos. Em ambos os autores se verificam novos elementos,
novas perspectivas de estudo e compreensão a cada leitura que se faça, por
vezes de um mesmo conteúdo. Ainda assim, foi possível neste ensaio exploratório
e inédito realizar uma primeira aproximação entre os autores, por meio de dois
conceitos trabalhados por eles e apresentados no objetivo definido no início
deste trabalho.
Buscamos demonstrar
que as visões de homem – existencial e parentético – dos autores são, ao mesmo
tempo, singulares e complementares. Singulares, por tratarem de uma dimensão
ética da ação humana com desenhos e proposições próprias e muito próximas entre
si. Complementares, pois justamente sua proximidade ao desenhar os conceitos
teóricos permite visualizar a operacionalização futura das categorias propostas
neste ensaio: racionalidade, nível de consciência e conduta.
É justamente nessa
complementariedade das categorias – racionalidade, nível de consciência e
conduta – que encontramos a possibilidade que esse ensaio contribua para o
apontamento de Guerreiro Ramos (2001, p. 6) de que “o modelo de homem
parentético pode dar à teoria administrativa a sofisticação conceitual que se
faz necessária para enfrentar as questões e os problemas que causam tensões
entre a racionalidade noética e a racionalidade
funcional”. Ao ver no sujeito existencial elementos que remetem à
razão substantiva e que colocam juízos de valor no processo de decisão,
acreditamos que ele contribui para o entendimento dos indivíduos inseridos nas
organizações que não mais se condicionam a se comportar de modo operacional e
reativo, mas que buscam exercer sua capacidade crítica e de reflexão ética. Aos
pesquisadores de estudos organizacionais e gestores de organizações cabem aprender
a identificar tal dimensão do sujeito e não a reprimir, considerando-a como uma
possibilidade de criatividade e expressão em uma das dimensões que compõem a
existência humana.
Acreditamos que, ao
buscarmos identificar as possibilidades de aproximação entre
o homem parentético e o sujeito existencial – a partir de sua perspectiva de
ação humana e ética – encontramos mais do que uma associação entre as duas
categorias de condição de ação humana: também uma possibilidade
teórico-empírica de entendimento da ação humana baseada na razão substantiva e
no seu caráter transcendental.
Esperamos ter
atingido o objetivo proposto neste ensaio e temos, como próximo desafio, a
inserção do legado de Lonergan sobre a teoria do
conhecimento, a ação humana e a ética no contexto de trabalhos
teórico-empíricos dos estudos organizacionais. Acreditamos que suas reflexões
poderão contribuir para o aprofundamento dos estudos sobre a racionalidade
substantiva e racionalidade existencial, ética da convicção e ética
responsabilidade, bem como a tensão existencial entre tais éticas.
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VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia filosófica. vol. 1. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
WALCZAK, Monika. Bernard Lonergan’s Philosophy of Knowing. Revista de
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WEBB, Eugene. Filósofos da consciência: Polanyi, Lonergan, Voegelin, Ricoeur, Girard, Kierkegaard. São Paulo: É Realizações,
2013.
[1] Essa situação será explicitada ao longo do texto.
[2] A definição de “cosmovisão” que adotamos neste artigo é a seguinte: uma orientação fundamental, que pode ser expresso como uma história ou num conjunto de pressuposições que sustentamos (consciente ou inconscientemente), sobre a constituição básica da realidade e que fornece seus elementos fundantes, segundo os quais vivemos, agimos e existimos (SIRE, 2012).
[3] Temos ciência que, neste caso, a palavra “homem” está em desuso e não está de acordo com as normas vigentes do politicamente correto. Entretanto, decidimos mantê-la para sermos coerentes com o vocabulário de Ramos.
[4] Termo originalmente utilizado pelo filósofo e teólogo Jacques Maritain (1945), uma das influências de Guerreiro Ramos.