Públicos controversos - Entrevista com Daniela Labra
DOI:
https://doi.org/10.9771/pcr.v11i1.26333Resumo
Realizada entre os meses de janeiro e abril de 2018, à distância e por escrito, esta entrevista com a curadora e crítica de arte Daniela Labra procura abordar as problemáticas colocadas em cena pelas reações de ataque a eventos artísticos – e pelas controvérsias culturais e morais daí emergidas – ocorridas no segundo semestre do ano passado, em diferentes cidades brasileiras. Ao mesmo tempo, adota um ângulo de observação dos fatos propício a trazer para o primeiro plano especificidades da instância dos públicos das exposições de arte, levando em conta as camadas de mediação entre estes e as obras artísticas, em particular aquela que corresponde às proposições curatoriais. Nosso foco, aqui, são os segmentos do público que, em desacordo com agendas emancipatórias e libertárias, repudiaram determinadas mostras, obras e performances, no sentido de boicotá-las ou mesmo censurá-las, a depender do ponto de vista. Considerando que, no período dos ataques sequenciais às artes, Labra esteve responsável pela curadoria geral de Frestas – Trienal de Artes 2017, mostra em que certas obras também foram renegadas por representantes políticos e membros da sociedade civil, nos pareceu oportuno abrir uma discussão sobre como nos (re)posicionarmos enquanto agentes culturais frente a essas formas de atuação dos públicos, aproveitando o ensejo para refletir acerca de algumas de suas principais motivações e implicações. Na condição de entrevistador, opto por indagar a curadora a partir de preocupações caras à mediação cultural de viés crítico, que tem na atenção às demandas e às iniciativas (não raro disruptivas) dos públicos uma de suas vertentes de investigação e intervenção. As questões a seguir representam, portanto, provocações voltadas a reunir, analisar e tentar lidar com as indigestas manifestações daqueles que podemos designar, em alusão aos referidos fatos, como públicos controversos.