Chamada de trabalhos – primeira edição de 2023

2022-09-12

A Políticas Culturais em Revista, publicação eletrônica da Rede de Estudos em Políticas Culturais, divulga a chamada de trabalhos para a primeira edição de 2023 (v. 16, n. 1) que, além de artigos científicos e resenhas sobre Política Cultural e temáticas correlatas, contará com o seguinte dossiê temático: Cultura alimentar e política cultural.

Editores responsáveis: Alexandre Barbalho (UECE) e José Roberto Severino (UFBA)

A ampliação do conceito de “cultura”, a ser operado pelas políticas públicas para o setor, ganhou suporte discursivo com respaldo internacional a partir do estabelecimento, em 2005, pela UNESCO, da Convenção sobre a Proteção da Diversidade e das Expressões Culturais, ratificada pelo Brasil em 2007.

Na realidade brasileira, essa perspectiva ampliada já vinha informando a agenda política pelo mesmo desde o anteprojeto de Mário de Andrade de 1936 visando a criação no ano seguinte do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). A proposta do escritor modernista foi elaborada a partir de sua atuação como gestor do Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo, entre 1935 e 1938. Como afirma Dalton Sala, o anteprojeto “era de âmbito bastante extenso, tendendo a preservar a totalidade de nossos bens culturais” (SALA, 1990, p. 22).

Contudo, foi a partir da gestão do músico e compositor baiano Gilberto Gil à frente do Ministério da Cultura (MinC) que tal orientação se tornou a força mestra da política cultural em âmbito federal, tendo funcionado como paradigma também para as políticas públicas em âmbitos estadual e municipal.

Um indicativo da institucionalização dessa agenda foi a ampliação para dezoito colegiados setoriais abrigados sob o guarda-chuva do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), para além das linguagens artísticas consagradas (artes visuais, música, audiovisual, artes cênicas etc). Dessa forma, “os representantes das áreas ‘clássicas’ das políticas culturais dividem espaços e recursos com áreas emergentes” (MUNIZ JÚNIOR; BARBALHO, 2020, p. 02), entre as quais a cultura alimentar.

No caso específico da cultura alimentar, como informam Juliana Dias e André Luzzi (2020), a sua entrada no rol de atuação do MinC se deu em 2012, durante a II Conferência Nacional de Cultura, quando foi aprovada uma moção para incluir o Setorial de Cultura Alimentar no Sistema Nacional de Cultura (SNC). Em 2014, o MinC incluiu a Cultura Alimentar entre as 26 linguagens artísticas e segmentos culturais que podem receber recursos do Fundo Nacional de Cultura.

Entendendo que o alimento faz parte dos sistemas culturais e é, potencialmente, foco das políticas públicas de cultura, o presente dossiê englobará temas transversais da vida urbana/rural contemporânea que estabeleçam laços conceituais e de investigação empírica entre os mais diversos olhares sobre a produção de sociabilidades e subjetividades relacionadas ao alimento e suas interfaces com as políticas culturais. A título de exemplo, podemos citar os processos de ascensão de um patrimônio cultural atualizado tanto em dispositivos da memória, ativadores do pertencimento como por possibilidades recriadoras de processos culturais em comunidades brasileiras, marcadas por novas configurações identitárias sobre o alimento.

Nesse sentido, a ideia é reunir reflexões sobre a produção das representações das diferenças relacionadas aos processos de ressignificação do alimento e seus usos com base em pesquisas sobre esses eventos, dos processos de produção e das políticas culturais para a identidade e para o alimento em suas configurações identitárias.

 

As linhas gerais de trabalhos a serem contemplados pelo dossiê são:

  1. Cultura alimentar e processos de construções identitárias
  2. Circuitos turístico-culturais pautados na cozinha tradicional.
  3. Patrimonialização da cultura alimentar
  4. Controvérsias relativas à relação entre cultura alimentar e política cultural
  5. Cultura alimentar e os organismos internacionais de promoção da diversidade cultural
  6. Cultura alimentar, memória, tradição e desenvolvimento
  7. Cultura alimentar no âmbito do capitalismo contemporâneo
  8. Cultura alimentar e globalização
  9. Alimentação Indígena e afro-brasileira e seus legados
  10. Políticas culturais, conselhos de cultura e as ações voltadas para a cultura alimentar

 

Referências

DIAS, Juliana; LUZZI, André. Cultura alimentar nas políticas culturais do Brasil. Le monde diplomatique-Brasil. Disponível em https://diplomatique.org.br/cultura-alimentar-nas-politicas-culturais-do-brasil/. Acesso em 25.ago.2022

MUNIZ JÚNIOR, José de Souza; BARBALHO, Alexandre. Entre a diversidade e o antagonismo: práticas articulatórias da discursividade LGBT no Ministério da Cultura. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 35, n. 102, p. 01-18, 2020.

SALA, D. Mário de Andrade e o Anteprojeto do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, N. 31, p. 19-26, 1990.

 

Recebimento de artigos: até 31 de janeiro de 2023, exclusivamente pelo sistema da Revista. 

Previsão de publicação no primeiro semestre de 2023.