Revista NAU Social - v.14, n.26, p. 1229– 1230 Jan. 2023 / Jun. 2023 |

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ISSN - 2237-7840


Editorial



E no curso desse leme, nossa Nau vai continuar a singrar pelos mares da Gestão Social e todas as
suas bordas e fronteiras. Não é fácil, leitores querides, publicar sem apoios institucionais. Vivemos
tempos muito pragmáticos onde ao mesmo tempo que os órgãos de fomento por meio dos programas
de pós-graduação chicoteiam as comunidades acadêmicas em prol de mais e mais publicações, os
mesmos não raros tervergisam sobre a importância de se investir na manutenção das revistas que
estão sob seu alcance mais direto. Nesses contextos, resta para os editores da vez colocar suas dores
no saco e seguir resistindo. E quando a revista tem como recorte valores contra hegemônicos, tão pior!
Com a Nau Social não é diferente, muito pelo contrário! Todos os editores da NAU Social, os de ontem
e os de hoje, modéstia parte, são aguerridos e comprometidos com a sobrevivência desse periódico.
Não recebemos bolsas, não contamos com apoio mínimo de secretaria, revisão e diagramação e
muitas vezes, para além dos nossos trabalhos voluntários, tiramos do próprio bolso para a manutenção
e continuidade da revista.
Em que pese isso seja bonito e diz muito sobre o nosso compromisso com a difusão do conhecimento,
não devemos romantizar esses processos de precarização que muitas revistas passam no seio das
universidades. Se pensarmos que há um sistema de avaliações que produz um ranqueamento entre
os periódicos nacionais e internacionais, estabelecendo-se assim valorações e bonificações
destinadas aos que mais publicam, “alguma coisa anda fora da ordem! “.
Por outra via, muitos periódicos atualmente cobram valores nada franciscanos para publicarem textos,
o que por um lado garante a sustentabilidade e a dignidade dessas publicações, por outro, ao mesmo
tempo, acirra os níveis de estratificação social dentro das comunidades epistêmicas. Não por outra
razão, a NAU Social tem seguido firme no propósito de não cobrar valores pela vinculação dos artigos
e tentar a sustentabilidade a partir do grande projeto de extensão e pesquisa que é coordenar uma
revista.
E são por essas águas que continuamos navegando neste número da Nau que traz como um plus o
Dossiê temático organizado pelo professor Breynner Ricardo de Oliveira da UFOP intitulado por Temas
Contemporâneos em Avaliação de Políticas Públicas
. É importante ressaltar que esse dossiê faz parte
da articulação em rede que a Revista Nau Social nutre com pesquisadores do campo de públicas, onde
a avaliação de Políticas Públicas é um eixo temático muito caro para nossa linha editorial.
Acreditamos que esse dossiê traga contribuições imensas para os pesquisadores da área, ao qual
torna essa edição, em especial, ontológica na série histórica da Revista Nau Social. Nesse sentido,
nosso profundo respeito e cuidado com a proposta que nos foi oferecida pelo professor Breynner
Ricardo e os demais pesquisadores que se engajaram nessa aventura pelos mares que navega a
nossa Revista.
Para além das publicações trazidas pelo dossiê temático, publicações essas apresentadas no editorial
formulado pelo professor Breynner, alguns outros artigos selecionados pelos nossos avaliadores
abrilhantam essa edição da nossa Nau Social e merecem apresentação e destaque. Entre Diários de
Bordo, Novos Territórios e Bússolas, nossos articulistas singram junto conosco nesses mares.
Na sessão Diários de bordo, a autora Marcia dos Santos nos brinda com o artigo ENFRENTAMENTO
À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PELA DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL: um estudo de



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caso à luz da teoria da subjetividade. Neste trabalho, a autora empreendeu uma investigação que
buscou compreender as percepções da violência doméstica por parte das mulheres que sofreram essa
experiência lastimável, algo que perpassa por suas subjetividades tanto em relação ao sofrimento,
como em relação às dinâmicas de redes de apoio, no caso do artigo, o papel da defensoria pública
nesse contexto.
Na sessão Novos territórios, três artigos nos convidam a refletir sobre temas contemporâneos que
oxigenam o campo de públicas. São dos novos territórios os ventos que sopram forte e movimentam
essa nau!
Sylvana Melo dos Santos, Ranny Scarllet Tavares Marcolino da Rocha, Haylla Rebeka de Albuquerque
Lins Leonardo e Anderson Luiz Ribeiro de Paiva assinam juntos o artigo intitulado por A necessidade
e os desafios da apropriação das Tecnologias Verdes pela comunidade de baixa renda
. Esse é um
artigo que nos chama atenção para os desafios colocados para as tecnologias verdes nos grandes
centros urbanos, um movimento que nos convida a aliar os saberes técnicos e a difusão do
conhecimento rumo à popularização desses benefícios para a sustentabilidade do planeta, em
especial, as periferias.
No artigo ECONOMIA SOLIDÁRIA, GESTÃO SOCIAL E DEMOCRACIA DELIBERATIVA: um estudo
de caso da Associação de Moradores do Município de Ribeirão das Neves,
Gabrielle Guimarães dos
Santos, Débora Dias Resende e Daniel Paulino Teixeira Lopes investigam se as ações sociais
promovidas pela Associação de Moradores do Bairro Metropolitano de Ribeirão das Neves
(ASMOBAM) podem ser categorizadas como de fato solidárias, participativas e democráticas. Nesse
sentido, os autores a partir desse estudo de caso demonstram o quanto essas três categorias não
refletem as interfaces dessa organização, ao que nos leva a refletir que mais do que retórica, o combo
economia solidária, gestão social e democracia são de fato instrumentos de prática social engajada.
E fechando a sessão dos Novos Territórios, Wagner Yoshizaki Oda, e Juarez Pereira Furtado nos
brindam com o artigo Participação e avaliação participativa: um caminho instituinte na avaliação. Esse
é um artigo reflexivo que nos convida a pensar como o estabelecimento de ligações entre avaliação
participativa e as noções de participação nos planos teórico e prático podem nos fornecer elementos
para a qualificação das relações entre ambas. Nesse sentido, esse artigo apresentado dialoga ao seu
modo com o dossiê sobre Temas Contemporâneos em Avaliação de Políticas Públicas.
Por fim, na sessão Bússolas, o artigo de Luciana Garcia de Mello intitulado por Os paradoxos do
antirracismo: avanços e retrocessos da luta quilombola nos convida a refletir sobre os paradoxos do
antirracismo na sociedade brasileira, tomando como exemplo os avanços e retrocessos da luta
quilombola. Esse é um artigo analítico muito pulsante quando estamos diante do paradigma do racismo
estrutural e estruturante como elemento forjador do nosso país. Não sem razão, o abolicionista
Joaquim Nabuco lá no século XIX vaticinara que: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a
característica nacional do Brasil”
. Infelizmente, ele não estava errado e a gente ainda precisa extirpar
o racismo da nossa sociedade.
Enfim, leitores querides, ainda resta muito a caminhar para erigimos uma nação solidária e antirracista.
Que a nossa Nau Social seja veículo de resistência e transformação social do Brasil… porque no mais
profundo do Brasil, dentro de cada casa, de cada terreiro, de cada quilombo (ou aquilombamento), de
cada aldeia indígena na floresta ou na cidade, no centro ou nas periferias, existem ancestralidades
presentes e resistentes. Seja Caboclos ou Orixás, Inquices ou Voduns de dentro do fundo da terra
Brasilis um grito retumbante de justiça a pouco ecoou e a todos deixou perplexo. Kao Kabiessi lê!.