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ESTUDO DE CASO DOS IMPACTOS DE UMA OSCIP DEDICADA AO ATENDIMENTO ORTOPÉDICO
DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO: o Instituto Vita
CASE STUDY ON THE IMPACTS OF A CSO OF PUBLIC INTEREST DEDICATED TO THE ORTHOPEDIC
CARE OF HIGH-PERFORMANCE ATHLETES: the Instituto Vita


Rodrigo Guimarães Motta 1
Leandro Pereira de Lacerda 2

Luciano Antônio Prates Junqueira 3



Resumo:
As Organizações da Sociedade Civil (OSCs) constituem atores sociais e políticos
cada vez mais presentes nas democracias contemporâneas, podendo ser
qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
Das 7.046 OSCIPs listadas no Mapa das OSCs (Ipea, 2020), porém, somente 322
se dedicavam à promoção da saúde, sendo que, destas, apenas 263
empreendiam ações centradas em serviços de saúde, não obstante a saúde
figurar como o principal problema do Brasil. Diante disso, este estudou visou a
compreender os impactos gerados por uma OSCIP como o Instituto Vita, cuja
atuação se volta ao tratamento ortopédico e fisioterapêutico de atletas brasileiros
de alto rendimento que carecem desse tipo de atendimento especializado
oferecido gratuitamente. Por meio de entrevistas semiestruturadas com seus
membros-fundadores e outros participantes, assim como diante da análise
documental consolidando o material coletado, a pesquisa deteve-se em
compreender quais as motivações para se desenvolver uma entidade dessa
natureza, qual o método de atuação estabelecido pelo Instituto para sua
consolidação e quais as contribuições advindas dessa iniciativa. Os resultados
constataram os impactos do Instituto Vita para o atendimento ortopédico e a
reabilitação de atletas carentes, observando-se ainda que esse impacto se
estende às atividades de ensino e pesquisa. Por fim, esperou-se contribuir para o
avanço de estudos que se detêm sobre essa temática, assim como para que sejam
mais bem conhecidos a gênese que envolve a fundação de uma organização
desse tipo e os desdobramentos viabilizados por meio dela para diferentes esferas
da sociedade.


1 Doutor e mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-maiL: rodrigo-motta@uol.com.br
2 Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). E-mail: leandroplacerda@gmail.com
3 Doutor em Administração da Saúde, mestre em Saúde Pública e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo
(USP). Professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). (In memoriam)




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Palavras-chave: Esporte; Instituto Vita; OSCIP; Estudo de caso; Atletas de alto
rendimento.




Abstract:
Civil Society Organizations (CSOs) are social and political actors that have been
increasingly present in contemporary democracies and can be qualified as Civil
Society Organizations of Public Interest. Out of the 7,046 CSOs listed in the CSO
Map, however, only 322 were dedicated to health promotion, and of these, only
263 undertook actions focused on health services, despite health being the main
problem in Brazil. This study aimed to understand the impacts generated by a CSO
of Public Interest such as the Instituto Vita, which focuses on the orthopedic and
physiotherapeutic treatment of high-performance Brazilian athletes who need this
type of specialized care offered free of charge. By means of semi-structured
interviews with the Institute’s founder-members and other participants, as well as
document analysis consolidating the material collected, this research was focused
on comprehending the motivations for creating an entity of this nature, what method
of action was established by the Institute for its consolidation, and what
contributions resulted from this initiative. The results demonstrated the impacts of
Instituto Vita for orthopedic care and rehabilitation of athletes in need, and further
verified that this impact extends to teaching and research activities. This study
expected to contribute to the advancement of studies that focus on this topic, as
well as to better understand the origins involving the founding of such organization
and the results it made possible for different social spheres.
Keywords: Sports; Civil Society Organizations of Public Interest; CSO of Public
Interest; Case study; High Performance Athletes.



1. Introdução

Ao se dedicar à promoção da saúde e, mais especificamente, ao tratamento ortopédico e fisioterapêutico
de atletas de alto rendimento que carecem de atendimento gratuito nesses dois tipos de especialidades,
quais os impactos gerados por uma organização da sociedade civil atuante nessa área no que diz respeito
às suas contribuições tanto para o público a que se volta diretamente quanto para a própria área e/ou para
a própria sociedade como um todo?
Segundo definição dada mais recentemente para se referir às entidades já antes conhecidas como
Organizações Não Governamentais (ONGs), as Organizações da Sociedade Civil (doravante, OSCs)
“constituem atores sociais e políticos cada vez mais presentes nas democracias contemporâneas”, podendo
“ser qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público [doravante, OSCIPs], desde
que cumpram certos requisitos estabelecidos em lei” (Mapa [...], [2023?]), conforme esclarecimento




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encontrado no Mapa das Organizações da Sociedade Civil, uma plataforma virtual de transparência pública
colaborativa com dados das OSCs de todo o Brasil e cujo mapa é gerido pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea).
Ainda de acordo com o registro disponibilizado na plataforma, “a lei que instituiu essa titulação tinha como
objetivo regulamentar o regime jurídico entre essas entidades e o poder público, com o fim de celebração
de convênios” (Mapa [...], [2023?]). Em síntese, pois, tal como ocorria em relação à antiga denominação
“ONG”, as OSCs podem ser conceitualmente estabelecidas como “entidades nascidas da livre organização
e da participação social da população que desenvolvem ações de interesse público sem visarem ao lucro”,
tratando “dos mais diversos temas e interesses, com variadas formas de atuação, financiamento e
mobilização” (Mapa [...], [2023?]).
Reunindo informações como localização geográfica, área de atuação, vínculos de trabalho, repasses
federais etc. — dados provenientes de bases da Secretaria da Receita Federal (SRF), da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS) e do Orçamento Público Federal —, o “Relatório OSCIP e OS: perfil das
Organização Social e Organização da Sociedade Civil de Interesse Público em atividade no Brasil”,
publicado em 2020 pelo Ipea (2020), possibilita que se tenha uma ideia a respeito do que as OSCs
representam em termos de quantidade e de como estão distribuídas ao longo de todo o território nacional,
permitindo também situar aí o objeto de estudo desta pesquisa.
De acordo com os dados apresentados no documento, do total de 781.921 OSCs em atividade no Brasil,
1.114 eram Organizações Sociais (OSs) e 7.046 eram OSCIPs. Diante desses números, quase 40% das
OSs e 50% das OSCIPs tinham sede na Região Sudeste, sendo que 216 OSs e 2.178 OSCIPs estavam
sediadas no estado de São Paulo (respectivamente, 19,39% e 30,91% dos quase 40% e 50% já
mencionados) — o segundo lugar no qual estava registrado o maior número de OSCIPS era a Região Sul,
com 17%. E, na sua esmagadora maioria, as OSs e as OSCIPs atuavam nas mesmas áreas. A esse
respeito, mais particularmente, a publicação revelou que 31% das OSs e 57% das OSCIPs se dedicavam
ao desenvolvimento e à defesa de direitos, e 13% das OSs e 7% das OSCIPs, à cultura e à recreação (Ipea,
2020).
À época da realização desta pesquisa, figurando entre as 50% de OSCIPS encontradas na Região Sudeste
e cuja sede também estava entre as 2.178 OSCIPs localizadas no estado de São Paulo, o Instituto Vita
correspondia a uma organização da sociedade civil4 sem fins lucrativos constituída em 2004 pelos mesmos
membros-fundadores do Vita Ortopedia e Fisioterapia, uma clínica médica de excelência especializada em
ortopedia e na reabilitação de pacientes que sofreram lesões musculoesqueléticas crônicas e agudas nas
diferentes articulações do corpo humano.
A caracterização como uma OSCIP, trata-se, portanto, de uma entidade que pode receber benefícios de
governos e órgãos públicos (na forma de estabelecimento de parcerias, dotações orçamentárias, isenções
fiscais etc.) para a realização das suas atividades, que devem ser, necessariamente, de interesse coletivo
da sociedade (Ipea, 2020). E, nesse caso do Instituto Vita, tratava-se ainda de uma OSCIP que se detinha


4 À época do desenvolvimento desta pesquisa, a qual foi apresentada ao XI Encontro Nacional de Pesquisadores em
Gestão Social (ENAPEGS) em 2020, o Instituto Vita se qualificava como OSCIP. Posteriormente, o Instituto foi
submetido a mudanças administrativas, momento em que passou ser designado tão somente como ONG. Os dados
deste artigo, portanto, refletem as informações coletadas no período em análise (de 2019 a 2020, quando a organização
constituía-se como OSCIP). Apesar desta mudança recente na qualificação administrativa do Instituto Vita, a validade
e as contribuições desta pesquisa são mantidas em vista de proporem uma análise oportuna ao terceiro setor (e
pertinente para estudos futuros), orientada a compreender os impactos de uma organização sem fins lucrativos voltada
à Saúde, diante da realidade investigada então.




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na realização de atividades que são, seguramente, de interesse coletivo da sociedade, mas que não
aparecem incluídas entre aquelas a que as instituições dessa natureza mais frequentemente se dedicam.
No total de atividades elencadas pelo “Relatório OSCIP e OS” (Ipea, 2020, p. 9), consta que “tanto as OSs
como as OSCIPs atuam em oito grandes áreas e respectivas subáreas, a saber: Assistência social,
Associações patronais e profissionais, Cultura e recreação, Desenvolvimento e defesa de direitos e
interesses, Educação e pesquisa, Saúde, Religião e Outras”. Assim, conforme é possível observar, as
atuações relativas a áreas e subáreas da Saúde não se destacam entre as primeiras posições: elas
aparecem contempladas nesse conjunto em sexta posição, apenas antes de “Religião” e “Outras”, ambas
assinaladas nos últimos lugares.
Em 2019, todavia, uma pesquisa realizada entre os dias 29 e 30 de agosto pelo DataFolha, durante a qual
foram ouvidas 2.878 pessoas em 175 municípios de todo o País, já denunciava que a saúde era considerada
o maior problema do Brasil para 18% dos entrevistados, ficando à frente de educação e desemprego, com
15% cada, aos quais se seguiram outros problemas (Saúde [...], 2019). E, isso, antes do advento da
pandemia da Covid-19, já que, empreendida uma nova pesquisa pelo mesmo Instituto entre 8 e 10 de
dezembro de 2020, na qual (agora, via telefone celular) foram ouvidos 2.016 brasileiros adultos em todos
os estados, esse índice subiu para 27% (Pauluze, 2020).
Constituindo o chamado Terceiro Setor (numa classificação em que o Primeiro Setor é composto pelas
instituições públicas e o Segundo, pelo setor produtivo, formado por empresas privadas que tanto podem
ser indústrias quanto empresas de prestação de serviços e comércio), sabe-se que, por meio das OSCs —
sejam elas OSs ou OSCIPs —, o que se busca, sobretudo após o final do século XX e o início do século
XXI, é complementar as atividades que são de responsabilidade do Estado. Logo, tais entidades se propõem
a solucionar lacunas existentes na sociedade que são de caráter diverso, promovendo a integração e a
melhora da sociedade da qual fazem parte, atuando com políticas complementares e compensatórias
àquelas já desenvolvidas pelo Estado, mas ainda em condições que não suprem a todos (Silveira, 2010;
Teixeira, 2002). E, nesse sentido, é de conhecimento comum a carência crônica nacional quanto aos
serviços de saúde a serem oferecidos sobretudo à população carente. Conforme sintetiza Junqueira (2003,
p. 1, grifos destes autores):

A descentralização que vem ocorrendo no aparato estatal brasileiro transfere para o terceiro
setor, também denominado organizações sem fins lucrativos, competências para a gestão
das políticas sociais de responsabilidade do estado. Estas organizações em caráter
complementar realizam, em parceria com o estado, a prestação de serviços de saúde,
constituindo uma alternativa para fazer frente aos problemas que afetam a população [...].

Para se ter uma ideia do número específico de OSCs cujas atividades se desenvolvem na Saúde, verificou-
se ainda no “Relatório OSCIP e OS” (Ipea, 2020) que, do total de entidades existentes no país, apenas 66
das OSCs e somente 322 das OSCIPs estão contempladas nessa área (5,92% e 4,57% respectivamente).
Desse percentual, 0,72% das OSCs e 0,84% das OSCIPs empreendem ações centradas em hospitais (no
primeiro caso, 8 das 66 entidades; no segundo, 59 das 322), e 5,21% das OSCs e 3,73% das OSCIPs
empreendem ações centradas em outros serviços de saúde (58 e 263 respectivamente).
Promovendo a saúde do atleta de alto rendimento por meio de atendimento gratuito e especializado em
ortopedia e reabilitação a esportistas que não dispõem de recursos financeiros para custear tratamentos
dessa natureza, o Instituto Vita esteve entre os 3,73% das OSCIPs que realizam ações em outros serviços
de saúde e sobre as quais ainda são poucos os estudos acadêmicos já publicados, especialmente no que
diz respeito à atuação desse tipo de entidade para um público tão específico.




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Em vista do exposto até aqui, o objetivo geral deste trabalho consiste em compreender, tanto em relação
ao público a que se volta quanto em relação à área da Saúde e/ou à própria sociedade brasileira como um
todo, os impactos gerados por uma OSCIP como o Instituto Vita, dedicada à promoção da saúde e, mais
especificamente, ao tratamento ortopédico e fisioterapêutico de atletas brasileiros de alto rendimento que
carecem desse tipo de atendimento especializado oferecido gratuitamente.
A fim de que se possa alcançar esse objetivo geral, dele desdobram-se três objetivos específicos, os quais
buscam compreender os seguintes aspectos: (i) as motivações para se desenvolver uma entidade social
dessa natureza, voltada a um público tão específico, tomadas na perspectiva dos seus membros-
fundadores; (ii) o método de atuação estabelecido pelo Instituto para que ele viesse a se consolidar ao longo
de mais de uma década; e (iii) quais as contribuições advindas dessa iniciativa, direta e indiretamente.
Para tanto, o estudo se divide em outras três seções para além desta, a começar, em 2, pelos critérios
metodológicos adotados para que ele pudesse ser viabilizado. Em 3, tal como será oportunamente
justificado na seção 2, encontram-se articulados os resultados e a análise, que compreendem três
subseções, cada uma delas relativa a um dos três objetivos específicos já determinados. E, em 4,
antecedendo as referências que permitiram o desenvolvimento deste artigo, encontram-se as considerações
finais com os encaminhamentos possíveis para que outros estudos possam, quiçá, ser igualmente
desenvolvidos mais adiante.
Em se tratando de uma pesquisa centrada numa OSCIP cuja finalidade consiste na promoção da saúde,
espera-se que esta pesquisa possa contribuir para que venham a ser mais bem conhecidos tanto a gênese
que envolve a fundação e a consolidação de uma organização como o Instituto Vita quanto os
desdobramentos viabilizados por meio dela para diferentes esferas da sociedade, dadas as peculiaridades
da sua atuação.
Além disso, estima-se ainda que, em se detendo na investigação acerca dessas instituições sem fins
lucrativos promotoras da saúde, outros trabalhos possam, tal como este, se dedicar à análise das
contribuições obtidas por pacientes bastante específicos, ampliando-se os horizontes das pesquisas
acadêmicas a partir do estudo sistematizado de diferentes tipos de público que, contemplados por essas
iniciativas, demandam atendimentos igualmente particularizados em relação às suas próprias
características e necessidades.


2. Método

Para que esta pesquisa pudesse ser viabilizada, o método utilizado foi o estudo de caso. Modelo de estudo
qualitativo, o estudo de caso permite que seja estudado um caso em um contexto atual e real (Yin, 2010),
sendo que algo que o torna uma alternativa relevante é o fato de ele permitir que seja obtida uma
compreensão em profundidade do fenômeno que está sendo estudado (Creswell, 2014).
Visando a essa compreensão, os pesquisadores decidiram empreender este estudo a partir de três
iniciativas. A primeira delas se deu por meio das visitas realizadas às instalações do Instituto Vita, na capital
paulista, a fim de que pudessem se colocar a par da dinâmica envolvendo o atendimento aos atletas
carentes. A segunda se deu mediante o levantamento de documentos disponibilizados pela própria OSCIP,
o que permitiu reconstruir o seu histórico e apreender os impactos provocados na sociedade por meio das
suas atividades, operando-se aí a análise documental. Finalmente, a terceira correspondeu a uma série de




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entrevistas, no propósito de que essa última etapa da coleta de dados pudesse enriquecer as observações
já assinaladas das visitas anteriormente efetuadas, bem como a apreciação dos documentos previamente
estudados. Por se tratar, portanto, de uma pesquisa que envolve seres humanos, os pesquisadores
enviaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos entrevistados para que o estudo
pudesse ser realizado.
Semiestruturadas, essas entrevistas foram realizadas presencialmente com membros-fundadores,
colaboradores, parceiro e pacientes-atletas do Instituto Vita, perfazendo um total de dez entrevistados ao
longo do ano de 2019, sendo que, tanto ainda em 2019 quanto já em 2020, parte dessas entrevistas também
foi contemplada em dois materiais de autoria do próprio Instituto: um anuário, relativo ao período
compreendido entre 2016 e 2019, que será referenciado em outros momentos ao longo deste artigo (Instituto
Vita, 2019), e um livro, no qual se narra a construção do sonho que se constituiria no Vita Ortopedia e
Fisioterapia, do qual adviria o Instituto ora analisado (Vita Ortopedia e Fisioterapia, 2020). Esquematizando,
pois, o percurso e os critérios adotados visando à correspondência entre o método e os objetivos
assinalados, elaborou-se o Quadro 1.

Quadro 1: Esquematização da metodologia adotada para viabilizar o estudo

Objetivos específicos: Compreender... Fontes dos dados
coletados

Fontes consultadas para
consubstanciação e melhor
contextualização dos dados

1) ... as motivações para se desenvolver uma
entidade social dessa natureza, voltada a um

público tão específico, tomadas na perspectiva
dos seus membros-fundadores; Em geral, documentos

disponibilizados pelo
próprio Instituto.

Membros-fundadores do
Instituto.

2) ... o método de atuação estabelecido pelo
Instituto para que ele viesse a se consolidar;

Membros-fundadores do
Instituto;

Colaboradores;
Parceiro;

Pacientes-atletas.
3) ... quais as contribuições advindas dessa

iniciativa, direta e indiretamente.
Fonte: Dados da pesquisa (2023).

Acerca dos dez entrevistados citados, mais especificamente, foi também elaborado um segundo quadro —
Quadro 2 —, no qual, com o devido consentimento dos participantes, cujas declarações foram também
reproduzidas nas duas publicações já mencionadas, eles foram assim identificados:

Quadro 2: Amostra de entrevistados:

Nº Relação com o
Instituto Entrevistado(a) Identificação quanto à sua atuação

1 Membro-fundador Dr. Wagner
Castropil Especialista em lesões de joelho e ombro.

2 Membro-fundador Dr. Márcio Freitas Especialista em lesões nos pés.
3 Membro-fundador Dr. Breno Schor Especialista em cirurgias de quadril.
4 Membro-fundador Dr. Henrique

Cabrita Especialista em ombro.
5 Membro-fundador Dr. Alexandre

Sadao Especialista em problemas na coluna.
6 Colaborador Dr. Luis Marchi Diretor científico do Instituto Vita.
7 Colaboradora Monica Pasqualin Diretora-executiva do Instituto Vita.
8 Parceiro Cristian Cezário Coadministrador da ONG Instituto Camadas

Incansáveis (ICI).




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9 Paciente-atleta Danielle Zangrando Medalha de bronze no Campeonato Mundial de
Judô.

10 Paciente-atleta Almir dos Santos Vice-campeão no salto triplo no Campeonato
Mundial de Atletismo 2018.

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

Ainda no que se refere aos critérios metodológicos, não obstante os impactos gerados pelo Instituto Vita
também contemplarem dados numéricos, tem-se em vista que o presente estudo se configura como uma
pesquisa essencialmente qualitativa, motivo pelo qual outro padrão adotado consistiu na articulação entre
as seções correspondentes aos resultados e à análise — a princípio, seções que seriam apresentadas
separadamente uma da outra.
Igualmente neste caso, os pesquisadores consideraram que o desenvolvimento da discussão exigiria, por
exemplo, a recuperação dos depoimentos obtidos, o que novamente redundaria numa repetição dos dados
tomada como desnecessária. Da mesma forma, ainda com base no mesmo exemplo, a simples reprodução
dos depoimentos, sem que lhes fosse dado o devido tratamento por meio da contextualização, inviabilizaria
a elaboração de uma seção centrada unicamente nos resultados.
Por fim, cumpre ainda acrescentar que, no que tange a esses depoimentos obtidos, eles foram, na sua
esmagadora maioria, reproduzidos em discurso indireto na seção de resultados e análise dedicada,
sobretudo na primeira subseção, envolvendo as motivações para o empreendimento da organização. Com
isso, embora alguns destaques tenham sido feitos oportunamente, buscou-se privilegiar a reconstrução de
um histórico cujo percurso em si, para a finalidade a que se propôs este estudo, pareceu mais importante
por meio da (re)constituição do próprio contexto do que por meio da fiel e/ou total reprodução das falas dos
entrevistados, muito embora se tenha buscado preservá-las o máximo possível ao longo de todo o tópico a
seguir.


3. Análise e Discussão dos Resultados


Tal como já antecipado na primeira parte desta pesquisa, para efeito de melhor organização desta etapa do
estudo, esta seção foi dividida em três subseções, cada uma delas correspondendo a um dos objetivos
específicos anteriormente estabelecidos, a saber: em 3.1, foram contempladas as motivações para o
desenvolvimento de uma OSCIP dedicada a atletas de alto desempenho que carecem de atendimento de
saúde gratuito para tratamentos de ortopedia e reabilitação; em 3.2, o método de atuação adotado pelos
seus fundadores para que o Vita se consolidasse também como instituto dessa natureza; e, em 3.3, quais
as contribuições geradas pelo Instituto ao longo da sua atuação que, em 2023, completa 19 anos.

3.1 Da motivação à fundação: um breve histórico do surgimento do Instituto Vita

Fundado em 27 de março de 2000 por jovens médicos oriundos da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP) e também adeptos de diferentes modalidades esportivas por meio das quais
competiam em eventos universitários e/ou promovidos pelas federações e confederações nacionais e




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internacionais de cada modalidade esportiva, o Vita Ortopedia e Fisioterapia se consolidou na área da Saúde
como uma clínica médica de excelência especializada em ortopedia e na reabilitação de pacientes que
sofreram lesões musculoesqueléticas crônicas e agudas em todas as articulações do corpo humano: joelho,
ombro e cotovelo; mão e punho; coluna; quadril; pé e tornozelo; e bucomaxilofacial.
Mais especificamente no que respeita aos seus fundadores, todos provinham de uma instituição universitária
reconhecida por formar profissionais de excelência. Além disso, assim como em relação a espaços como a
Cidade Universitária, como o prédio da Faculdade conhecido como “Casa de Arnaldo” e como o complexo
do Hospital das Clínicas, também tinham na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (A.A.A.O.C., ou
tão somente “Atlética”) outro importante espaço de formação em comum. Compondo um grupo de cinco
profissionais recém-saídos do renomado curso de Medicina, eram eles: Wagner Castropil, Márcio Freitas,
Breno Schor, Henrique Cabrita e Alexandre Sadao. Ortopedistas graduados pelo Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(IOT/HCFMUSP), eram também amigos e tinham no esporte mais uma afinidade por meio da qual, durante
os anos em que frequentaram juntos a Atlética, acabaram fortalecendo ainda mais os laços de amizade,
vindo mais tarde a compor a primeira geração de especialistas do Vita.
Visto que a Clínica foi originalmente formada por atletas e tendo-se em conta as suas trajetórias individuais,
essa equipe do Vita já se destacava por conhecer com propriedade a realidade da maioria dos atletas de
alto rendimento no Brasil. Castropil, por exemplo, especialista em lesões de joelho e ombro, integrou a
Seleção Brasileira de Judô entre 1984 e 1992 e participou dos Jogos Olímpicos de Barcelona; Freitas, que
se dedicava a lesões nos pés, era jogador de futebol; Cabrita, especialista em cirurgias de quadril, era atleta
de rúgbi; Schor, cirurgião de ombro, praticava ginástica olímpica; e Alexandre Sadao5, que tratava de
problemas de coluna, era jogador de beisebol.
Dos diferenciais encontrados na Clínica, dois deles não apenas seriam capitais para o desenvolvimento do
Vita ao longo desses 23 anos de existência6, como ainda já permitiriam antever o surgimento do Instituto
Vita depois de algum tempo: primeiro, a valorização do fortalecimento do grupo, e não a de um médico no
qual a imagem e todo o funcionamento do espaço estivessem centralizados; segundo, a busca por uma
solução integrada visando a que fossem alcançados resultados com excelência. Afinal, como todos eram
ou já tinham sido esportistas, eles realmente sabiam como era estar na condição do paciente que
experimenta as dores provocadas pelas lesões, bem como conheciam os desafios enfrentados durante o
tratamento. Por isso, os membros-fundadores do Vita assumiram a missão de atender os seus pacientes
exatamente da maneira como gostariam de ser atendidos. E tanto a disciplina quanto os ideais apreendidos
no esporte já os tinham preparado para não desistir desse objetivo.
Nesse processo de constituição e de progresso da própria Clínica — em cujo nome, “Vita”, já se depreende
o enaltecimento daquilo que o grupo de especialistas reconhecia como verdadeiramente importante —, as
bases do Instituto já estavam sendo alicerçadas: em suma, elas certamente se orientariam pela promoção

5 Em 2006, com a viabilização de um projeto moderno e inovador envolvendo uma área de 1.350 m² para que os
pacientes do Vita Ortopedia e Fisioterapia dispusessem da facilidade e da comodidade de contar com todos os
atendimentos e recursos de que precisavam num só lugar (a unidade Higienópolis, também na capital paulista), deu-se
um novo arranjo na estrutura societária, totalizando dez membros nessa sociedade. Além da permanência dos cinco
membros-fundadores, foram incorporados a esse time: José Luiz Pistelli, Alexandre Bitar, Christiana Moron, Mateus
Saito e Mauro Dinato. Para o desenvolvimento dessa subseção, no entanto, as entrevistas selecionadas se detiveram
naquelas realizadas com o quinteto de ortopedistas inicial, dado o objeto específico previamente estabelecido e
conforme determinado na seção dedicada à metodologia.
6 Vinte e três anos de existência dos quais resultaram as aberturas de seis unidades dedicadas a ortopedia e fisioterapia,
além de outras quatro voltadas a fisioterapia, todas localizadas na cidade de São Paulo.




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da vida, pelo reconhecimento em torno do grupo (e não das individualidades) e por uma apreensão do
paciente na qual ele não somente seria recebido e tratado como “ser humano”, mas, sim, como sendo “um
igual”, como alguém com quem esses médicos também se identificavam.
Assim, não bastasse serem esportistas, os fundadores do Vita, desde a concepção da Clínica, também
passaram a atender diversos atletas e diversas entidades que congregavam esses atletas, tal como o
Comitê Olímpico Brasileiro. Logo, foi a própria experiência ao longo desses atendimentos que acabou
chamando atenção do quinteto de ortopedistas, bem como dos demais médicos que viriam se somar à
equipe nos anos seguintes, quanto ao fato de que muitos desses esportistas eram carentes de acesso a
uma medicina especializada que se caracterizasse tanto pela qualidade como pela agilidade necessária
para fazê-los retornar o quanto antes à sua prática esportiva — já que, para muitos, ela se configura como
ofício.
Para se ter uma ideia dos recursos de que o Vita dispunha, na época da sua inauguração, a Clínica — então
sediada no bairro de Pinheiros — já contava não somente com um espaço integrado em 135 m², abrangendo
dois consultórios e uma área de fisioterapia, como também com o Cybex, um moderno equipamento
tecnológico de avaliação biomecânica cujos resultados determinam o protocolo de reabilitação mais eficaz.
Dessa forma, procurados por inúmeros esportistas e tendo observado que, além de necessitarem de
tratamento especializado para as suas lesões e os seus problemas ortopédicos, muitos desses atletas não
dispunham de condições financeiras para financiar o tratamento de que precisavam, Castropil, Freitas,
Cabrita, Schor e Sadao resolveram atendê-los gratuitamente.
Já com a demanda cada vez maior por parte dos não pagantes, decidiram, então, definir um período e
estabelecer um dia da semana para realizar esses atendimentos: as quartas-feiras pela manhã. E, sem que
tivessem previsto esse desdobramento, fato foi que da atividade filantrópica em si redundaria uma nova fase
de aprendizados para todos os profissionais, que acabaram se aperfeiçoando e, muitas vezes, valendo-se
de muitos desses casos como objeto de pesquisa, dos quais adviriam estudos especializados, artigos
científicos e cursos de atualização.
O trabalho tanto ganhou consistência e cada vez mais alcance ao longo do tempo que, no dia 15 de janeiro
de 2004, o Vita acabaria inaugurando, agora em caráter oficial, o Instituto Vita, uma OSCIP fundada por
médicos, fisioterapeutas e preparadores físicos que fomenta a excelência na atenção à saúde do atleta pela
Assistência Ortopédica, pelo Ensino e pela Pesquisa.
Em suma, o Instituto Vita é uma entidade assistencial sem fins lucrativos que se tornou também o braço de
pesquisa e de ensino do Vita, que tem como equipe um grupo que comporta tanto voluntários quanto
profissionais remunerados, e da qual passaram a ser beneficiados dois tipos de pacientes-atletas: 1) aqueles
de alta performance acolhidos por alguma instituição social de performance em esporte que seja parceira
do Instituto; e 2) aqueles amadores ou profissionais federados, ativos e participantes de competições oficiais
que não tenham condições de pagar ou aguardar por tratamento ortopédico adequado e especializado.
Uma vez que esse público já tinha sido bem delimitado e à medida que o trabalho voluntário crescia, a
organização identificou também a necessidade de estabelecer parcerias, dado que, para o atendimento
mais completo oferecido a esses atletas, muitas vezes eram necessários exames complementares e,
inevitavelmente, em muitos casos, também se faziam necessárias as intervenções cirúrgicas. Diante disso,
as parcerias passaram a contar não somente com a promoção dos amigos e a doação dos materiais
cirúrgicos recebidos, mas também com hospitais como o Samaritano e o Oswaldo Cruz.
Conforme estes pesquisadores puderam apreender das entrevistas com os membros-fundadores e da
análise documental, todas essas iniciativas foram orientadas pela missão de “promover a saúde do atleta




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de alta performance e em desenvolvimento oferecendo atendimento ortopédico gratuito e especializado,
aliado ao desenvolvimento e a geração de conhecimento em atividades de ensino e de pesquisa” e pela
visão do Instituto Vita quanto a “ser centro de referência latino-americano em assistência — ortopedia,
preparação física e reabilitação —, ensino e pesquisa ao esporte de alta performance” (Instituto Vita, 2019,
p. 5).
Assim, assinalados e compreendidos todos os aspectos que permitiram compreender, na perspectiva dos
seus membros-fundadores, as motivações para o desenvolvimento de uma entidade dessa natureza,
voltada a um público tão específico — uma OSCIP que atua na área da Saúde promovendo a recuperação
de atletas de alto desempenho —, tal como estabelecido no primeiro objetivo específico deste estudo,
passa-se ao segundo objetivo em questão: como o Instituto tornou e torna isso possível?

3.2 Da fundação ao seu método de atuação: o tripé Assistência-Ensino-Pesquisa

Naturalmente, conforme se pôde apreender do processo reconstruído na subseção anterior acerca do
histórico que culminou com a criação do Instituto Vita, ocorreu que, aos poucos, o Vita Ortopedia e
Fisioterapia foi desenvolvendo as suas atividades a partir de três pilares — os mesmos, a propósito, de uma
faculdade de Medicina. E, como não poderia deixar de ser, o mesmo sucedeu ao Instituto, cuja atuação
também se alicerçou nesse tripé que se complementa e que se retroalimenta ao mesmo tempo: Assistência,
Ensino e Pesquisa. Cada um deles tem um papel fundamental tanto nos efeitos que incidem sobre o atleta-
paciente, diretamente, quanto nas contribuições que envolvem as comunidades médica e científica, direta
e indiretamente, assim como a própria sociedade em geral, por extensão.
No Quadro 3, esses pilares estão brevemente elencados, correspondendo a cada um deles somente uma
síntese a fim de que, na sequência, todos sejam oportunamente recuperados para mais informações,
conforme os dados obtidos por estes pesquisadores.

Quadro 3: Tripé de atuação do Instituto Vita

Pilar Em que consiste
Assistência Consultas, exames, cirurgias, sessões de prevenção e reabilitação.

Ensino Fellowship e observership, educação continuada e pós-graduação.
Pesquisa Produção de conhecimento por meio de estudos científicos nas

diferentes áreas de atuação.
Fonte: Adaptado de Instituto Vita (2019).

Para efeito de melhor organização dessas informações no artigo, os três pilares serão contemplados
separadamente em novas subseções — 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3 —, consoante a ordem em que já foram aqui
apresentados.

3.2.1 O pilar Assistência

A Assistência é o campo de atuação do Instituto Vita que exerce o atendimento gratuito aos atletas de alto
rendimento em todas as modalidades esportivas, olímpicas ou não, oferecendo programa de prevenção a




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lesões, atendimento ambulatorial, intervenções cirúrgicas e reabilitação. Para tanto, essa área dispõe de
uma rede de profissionais da saúde voluntários, além de parcerias efetuadas com centros cirúrgicos,
laboratórios de exames e empresas de dispositivos médicos que doam ou subsidiam os kits cirúrgicos.
Visando ao objetivo geral deste estudo, voltado aos impactos gerados por uma OSCIP como o Instituto Vita,
os pesquisadores entenderam a pertinência de, aqui, contemplar os resultados aos quais lhes foi dado
acesso durante o levantamento dos dados. Conquanto parte desses documentos tenha abrangido três
anuários publicados pela entidade (o primeiro, de 2006 a 2011; o segundo, de 2012 a 2015; e o terceiro, de
2016 a 2019), optou-se, nesta pesquisa, pela reprodução dos totais de sessões de reabilitação, de consultas
médicas, de exames de imagem e de cirurgias ortopédicas disponibilizados na última publicação,
privilegiando-se, assim, os números mais recentes, tal como demonstrado no Quadro 4.

Quadro 4: A evolução em números: assistências prestadas anualmente no período de 2016 a 2019

Tipo de Assistência 2016 2017 2018 2019
Sessões de reabilitação 1.954 1.230 908 1.773

Consultas médicas 409 411 408 547
Exames de imagem 50 48 46 134

Cirurgias ortopédicas 55 57 52 58
Fonte: Adaptado de Instituto Vita (2019).


Já para que fosse possível estabelecer quais índices o campo de Assistência do Instituto Vita teria alcançado
desde o início das suas atividades, optou-se pela elaboração de um novo quadro — Quadro 5 — no qual,
na segunda coluna, foram reproduzidos os números encontrados no último anuário.

Quadro 5: Indicadores em Assistência do Instituto Vita no período de 2004 a 2019

Indicadores Total
Cirurgias 864

Consultas médicas 14.687
Exames laboratoriais e de imagem 1.889

Sessões de reabilitação e prevenção 60.491
Atletas já beneficiados 3.847

Atletas admitidos e ativos 1.039
Fonte: Adaptado de Instituto Vita (2019, c2022).


Entre os pacientes-atletas beneficiados nesse período e dos quais foram obtidos depoimentos que atestam
o conjunto de ações empreendidas pelo Instituto Vita na área de Assistência, estão dois medalhistas
identificados no Quadro 6, cada qual acompanhado do excerto destacado da sua entrevista.

Quadro 6: Depoimentos de dois pacientes-atletas sobre a Assistência do Instituto Vita

Entrevistado
(a) Título conquistado no esporte Depoimento sobre o Instituto

Danielle
Zangrando

Medalha de bronze no
Campeonato Mundial de Judô.

“Fiz duas cirurgias de hérnia de disco e achei que
não lutaria mais judô. Com o apoio da equipe do
[Instituto] Vita, eu retornei aos tatames 100%. Faço
questão de ser tratada aqui, mesmo morando em
Santos. Obrigada, Vita! Vocês fazem parte das
minhas vitórias.”




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Almir dos
Santos

Vice-campeão no salto triplo no
Campeonato Mundial de Atletismo
em 2018.

“Ninguém faz nada sozinho, e só tenho a agradecer
a essa baita equipe.”

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

As atividades de Assistência, que acompanham o Vita desde a sua fundação, são aquelas de maior
visibilidade e reconhecimento por parte da sociedade civil. Conforme destacou um parceiro e
coadministrador de uma equipe esportiva atendida pelo Instituto Vita, Cristian Cezário:

Os atletas da ONG da qual sou coadministrador são praticantes de judô. Por se tratar de
uma modalidade de luta, sendo que os integrantes da ONG a praticam com objetivo de
participar de competições, muitos acabam se lesionando, em especial no joelho e no ombro.
Graças à parceria que fizemos com o Instituto Vita, aqueles que se lesionam podem ter
acesso a um excelente atendimento ortopédico e fisioterapêutico. Em algumas ocasiões os
atletas também operaram com médicos do Instituto, algo que seria impossível para eles de
outra forma. Tenho poucas palavras para agradecer ao Instituto Vita (depoimento do
entrevistado; grifos dos autores).


Conforme é possível observar nos três depoimentos, o reconhecimento à atuação do Instituto Vita desponta
como algo em comum, tanto para os pacientes-atletas quanto para o parceiro que também está vinculado a
uma organização da sociedade civil. Além disso, no entanto, chama atenção que, na perspectiva da
medalhista em judô e na avaliação do parceiro, também figuram em comum a menção a duas realizações
que, sem a intervenção da entidade, ambos acreditavam ser impossível: no caso da jovem, ela acreditava
que seria impossível retornar ao judô; no caso no administrador, ele acredita que, não fosse pela equipe
médica do Instituto, que os atendeu gratuitamente, os atletas da sua ONG não poderiam ser operados de
outra maneira.
Concluídas essas considerações acerca do pilar Assistência, que permitiram que se comece a melhor
entender o método de atuação do Instituto, passa-se, na subseção a seguir, às considerações que se detêm
no segundo pilar desse tripé.

3.2.2 O pilar Ensino

De acordo com os membros-fundadores e conforme se pôde apreender tanto dos conteúdos das entrevistas
quanto da análise documental, já no seu primeiro ano de atividade, ainda no ano 2000, o Vita Ortopedia e
Fisioterapia já havia identificado a necessidade de dedicar uma área voltada à elaboração de estudos
científicos e à organização dos protocolos de tratamento. Logo a equipe criou um processo no qual um
fisioterapeuta do último ano de faculdade era convidado a exercer esse papel de pesquisador na Clínica,
sendo incorporado ao grupo de trabalho no ano seguinte.
Estendendo-se como um valor e estabelecendo-se igualmente como um pilar para o Instituto Vita a partir
da sua fundação em 2004, a entidade acabou ampliando o seu escopo de atuação em 2006, dando início a
uma série de atividades na área de Ensino. Com isso, pretendeu não só disseminar, entre os profissionais
de saúde recém-formados, o conhecimento que produzia no seu próprio espaço, como ainda buscou




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promover o constante aprimoramento da prática ortopédica, visando à excelência e ao melhor tratamento
para cada um dos seus pacientes.
Reconhecido pelas sociedades médicas de cada especialidade, o primeiro programa criado foi o de estágio
(fellowship) em Especialidades de Ortopedia, Traumatologia e Bucomaxilofacial, dirigido a cirurgiões R4, R5
e R6 com titulação de ortopedistas pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e também a
cirurgiões-dentistas na especialidade de bucomaxilofacial.
Mais especificamente, trata-se de um programa de um ano idealizado pelo Instituto para abranger as
diversas especialidades médicas da Clínica, sendo oferecido a ortopedistas e cirurgiões bucomaxilofaciais
que já concluíram as suas residências e que pretendem se dedicar a uma subespecialidade. Além dos
conteúdos teóricos aplicados nesse processo de ensino-aprendizagem, esses estagiários (fellows) são
treinados em ambulatório, realizando procedimentos cirúrgicos nos hospitais de mais alta qualidade.
Inicialmente, o programa dispunha de uma única vaga, voltada à subespecialidade de joelho, até que passou
a oferecer oito vagas por ano em diferentes subespecialidades — ombro, joelho, quadril, coluna, mão e
punho, pé e tornozelo, e bucomaxilofacial. Além disso, de 2006 a 2018, ele já formou um total de 62
profissionais, sendo que, de 2016 a 2019, foi credenciado por mais três sociedades: Sociedade Brasileira
de Cirurgia de Ombro e Cotovelo, Sociedade Brasileira do Quadril e Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé.
Ainda a esse respeito, também importa destacar que, conforme a maior parte dos entrevistados (membros-
fundadores e colaboradores), as empresas parceiras do Instituto Vita apoiaram e continuam apoiando as
iniciativas acima de estágio, sendo que, atualmente, essa parceria é uma das principais fontes de recursos
para o Instituto Vita.
Também durante esse intervalo entre 2016 e 2019, constatou-se que foram realizados ciclos de palestras e
reuniões multidisciplinares, assim como também foi mantido o Programa de Educação Continuada (PEC)
em Fisioterapia, iniciado em 2010. Num dos ciclos de palestras realizado em 2018, por exemplo, foram
mostrados resultados de transplante osteocondral a fresco, técnica inovadora e de alto valor terapêutico; já
por meio da abordagem teórica, da aplicação prática e das discussões de caso nas reuniões
multidisciplinares nesse mesmo ano, os médicos se aprofundaram tanto no diagnóstico radiológico quanto
no aspecto cirúrgico.
Já em 2018, especificamente, uma das conquistas protagonizadas pelo grupo de cirurgia bucomaxilofacial
no campo do Ensino foi tornar o Instituto Vita um centro de fellowship da Fundação AO, na divisão AO CMF7,
feito que o alçou à condição de centro de referência da AO na América Latina para aprimoramento em
cirurgia bucomaxilofacial. E, em 2019, com a alta demanda de cirurgiões do mundo todo que ansiavam por
aprender mais do seu grupo de cirurgia bucomaxilofacial, o Instituto Vita criou o programa CMF Masterclass,
com associação de competências complementares e necessárias aos cirurgiões, oferecendo-lhes
simpósios, dry labs, cadaver labs, observership e fellowship de curta duração.
Em 2019, em parceria com a Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), o Instituto Vita implantou o
curso de pós-graduação lato sensu em Medicina Esportiva, voltado tanto para médicos especialistas de
diferentes áreas que gostariam de adicionar os benefícios do entendimento sobre a importância e o impacto

7 Composta por médicos com diferentes origens e áreas de especialização — Cirurgia Oral e Maxilofacial, Cirurgia
Plástica, Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Oftalmologia e Neurocirurgia —, a Fundação AO CMF é
uma prestigiada comunidade global de multiespecialistas, considerada a maior associação de cirurgiões do mundo,
reunindo mais de 20 mil associados e se fazendo presente em mais de cem países (AO Foundation, c2023). Por “CMF”,
nesse caso, compreende-se a menção à área craniomaxilofacial.




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do esporte na saúde quanto para médicos que desejavam fazer da medicina esportiva a sua área de
atuação.
Dadas todas essas atividades centradas na área de Ensino nesses últimos anos, o Quadro 7 buscou
esquematizá-las, a fim de tornar mais fácil a sua apreensão, uma vez que esses dados também se somam
aos demais no alcance do objetivo geral estabelecido para este estudo.

Quadro 7: Principais ações empreendidas pelo Instituto Vita no pilar Ensino no período de 2006 a 2019

Ano Iniciativa(s)
2006 - Criação do primeiro programa de estágio (fellowship) em Especialidades de Ortopedia,

Traumatologia e Bucomaxilofacial.
2010 - Início do Programa de Educação Continuada (PEC) em Fisioterapia.
2016

(antes e depois)
- Realização de ciclos de palestras e reuniões multidisciplinares, além da manutenção do

PEC.

2018
- Conquista que o torna centro de fellowship da Fundação AO, na divisão AO CMF,

alçando-o à condição de centro de referência da AO na América Latina para
aprimoramento em cirurgia bucomaxilofacial.

2019 - Criação do programa CMF Masterclass;
- Implantação do curso de pós-graduação lato sensu em Medicina Esportiva na UNICID.

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

Tal como estes pesquisadores puderam constatar, o campo de Ensino da OSCIP sobre a qual se detém
este estudo se desenvolve de maneira indissociável ao pilar da Pesquisa, cuidadosamente ancorado nas
bases da Ciência. Conforme destacou o próprio diretor científico do Instituto Vita, dr. Luis Marchi:

Há uma enorme quantidade de conhecimento no Instituto Vita. Esses conhecimentos
nascem da combinação da experiência clínica e dos estudos científicos dos
profissionais do Vita, desenvolvem-se e ganham corpo através de um consistente
trabalho de pesquisa no Instituto
, tornam-se evidência e voltam aos profissionais de
Saúde que aplicam esse conhecimento no tratamento de seus pacientes, alcançando, cada
vez mais, melhores resultados em benefício de toda a sociedade (depoimento do
entrevistado; grifos dos autores).


Concluídas essas considerações acerca do pilar Ensino e a propósito do “consistente trabalho de pesquisa”
mencionado pelo entrevistado no excerto destacado, passa-se, na subseção a seguir, às considerações que
se detêm na última base desse tripé.

3.2.3 O pilar Pesquisa

A exemplo do que os resultados e a análise já permitiram depreender até aqui, o terceiro pilar no qual a
atuação do Instituto Vita se sedimenta não apenas é “de pesquisa”: trata-se da Pesquisa Científica,
empreendida com vistas a prestar contribuições cada vez mais significativas para o avanço da comunidade
científica e da sociedade como um todo, bem como para o avanço dos estudos da própria comunidade
médica, em particular, redundando numa série de aperfeiçoamentos para a área que, evidentemente,
também se transformarão em benefícios aos pacientes.




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Assim, as pesquisas realizadas pelos colaboradores do Instituto Vita são desenvolvidas mediante parcerias
com diferentes instituições, hospitais, universidades e empresas, em âmbito tanto nacional quanto
internacional. Entre elas, figuram, por exemplo, a AO CMF (fundação internacionalmente prestigiada já
mencionada na subseção anterior), o Hospital Sírio-Libanês, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o
Instituto Wilson Mello, a DePuy Synthes (parte das empresas de dispositivos médicos da Johnson &
Johnson), o Fleury Medicina e Saúde, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a
Universidade Estadual de Campinas, entre outras.
Em contraste com a maior parte das pesquisas em medicina ortopédica no esporte, que está circunscrita ao
ambiente dos centros acadêmicos onde há compartimentalização das especialidades e pouco contato entre
os pesquisadores e os profissionais que atuam junto aos atletas, o Instituto Vita promove um ambiente
multidisciplinar não apenas em Medicina, mas também em Fisioterapia e Preparação Física, propiciando
uma rápida troca de conhecimento entre os diversos especialistas, assim como o próprio refinamento da
pesquisa.
Dos documentos a que estes pesquisadores tiveram acesso no tocante à atuação do Instituto nesse campo,
constatou-se que, somente entre os anos de 2016 e 2019, foram 56 as publicações dos seus colaboradores
em revistas científicas, cinco as dissertações de mestrado e cinco as teses de doutorado, tal como
esquematizado no Quadro 8.

Quadro 8: Resultados do pilar Pesquisa do Instituto Vita em número de publicações no período de 2016 a
2019

Tipo de publicação Total
Artigos em periódicos 56

Dissertações de mestrado 5
Teses de doutorado 5

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

A respeito de toda essa produção científica, o depoimento da diretora-executiva do Instituto Vita, Monica
Corrêa Pasqualin, contempla como pode ser sintetizada a característica dessa área de Pesquisa articulada
aos dois outros pilares com os quais se encerra a análise do tripé de atuação dessa OSCIP, em
conformidade com o segundo objetivo específico previsto neste artigo:

Conheço o Instituto Vita e sua proposta desde 2005. Seus fundadores sempre
viram nele mais do que um canal de caridade, sempre viram uma
organização social com o poder de ajudar a transformar histórias de vida por
meio da produção e ensino do conhecimento científico e da assistência
ortopédica e de reabilitação a atletas.
Cheguei ao Instituto, em 2018, com a
missão de ajudar a estruturá-lo e conduzi-lo, de forma sustentável, na direção de
seu propósito fundamental. É isso que estamos fazendo (depoimento da
entrevistada; grifos dos autores).


Concluída, portanto, essa etapa, passa-se, a seguir, aos resultados e à análise relativos ao terceiro objetivo
específico inicialmente assinalado: compreender quais as contribuições advindas do Instituto Vita, direta e




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indiretamente, posto que o método empregado por essa organização já foi compreendido ao longo destes
três subtópicos, consoante o esperado para o atendimento do segundo objetivo específico deste trabalho.

3.3 Das contribuições geradas pelo Instituto: dos benefícios em diferentes esferas da sociedade

Tal como já era de se esperar para esta subseção, os pesquisadores verificaram que, de acordo com o
direcionamento que foi sendo dado à pesquisa por meio do levantamento e da análise dos dados, a
compreensão quanto às contribuições geradas pelo Instituto Vita, ao final, consiste na própria retomada das
informações diluídas nas subseções anteriores.
Mais especificamente, acerca desse direcionamento aqui referido como uma condição que foi sendo
identificada no próprio decorrer do estudo, observou-se que — uma vez que, em relação ao segundo objetivo
estabelecido, não era possível antever que ao método de atuação do Instituto correspondesse um tripé de
atuação a ser analisado individualmente — essa própria análise mais detalhada que se fez necessária para
o entendimento da questão acabou por antecipar o que inicialmente previa-se como conteúdo exclusivo
desta terceira subseção.
Para desenvolvê-la, portanto, estes pesquisadores, num primeiro momento, estimaram a retomada de todos
os quadros anteriores, condensando agora, num único quadro, a somatória de todos os números já
levantados, de modo que se pudesse estabelecer a associação entre eles, a área a que estão vinculados e
as contribuições assinaladas para cada uma delas (no caso dos três pilares do próprio Instituto) e por meio
de cada uma delas (no caso dos pacientes-atletas, das comunidades médica e científica e da sociedade
civil, como um todo). Num segundo momento, porém, os autores consideraram também uma segunda
possibilidade, que pareceu mais relevante para o objetivo geral e para este momento específico.
Ocorre que, embora o levantamento dos dados obtidos nesta pesquisa tenha sido concretizado ao longo do
ano de 2019, os pesquisadores estimaram que, uma vez que — na data de encerramento desta pesquisa
— dispunham de números mais recentes relativos às ações da Assistência da entidade estudada, a sua
inserção neste momento do estudo não invalidaria os critérios metodológicos adotados para viabilizá-la:
antes, a reprodução deles aqui contribuiria para o enriquecimento desses dados, permitindo que os impactos
finais gerados pela organização social por meio dos seus três pilares fossem visualizados com ainda mais
exatidão.
Nesse sentido, é preciso destacar que, aqui, entende-se que a inserção desses dados atualizados não
exerce qualquer alteração quanto à reconstituição da gênese da OSCIP em 2004 e à compreensão dos
fatores que motivaram a sua fundação já estabelecidos e analisados na subseção 3.1, nem quanto à
consistência e à validação do seu método de atuação por meio do tripé conhecido ao longo das subseções
3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3, uma vez que tudo o que foi levantado e assinalado nesses tópicos já teria sido o bastante
para o exame final dos dados neste contexto, agora voltado às efetivas contribuições dessa organização.
Contudo, em sendo este um estudo cuja versão final se deu em 2021, ainda em meio à pandemia de Covid-
19 no Brasil e no mundo, e em se corroborando a carência de toda uma população em relação aos serviços
de atendimento à saúde ainda mais especialmente neste período (tal como pontuado na primeira seção
deste artigo), os pesquisadores vislumbraram aqui a pertinência de, oportunamente, efetuar esse
aditamento, posto que ele também permite identificar esse “fenômeno recente” que — mesmo não
constituindo “alternativa ao Estado na gestão das políticas sociais” — é “a sociedade assumindo parte da
sua responsabilidade social” (Junqueira, 2003, p. 3). Nesse fenômeno, Junqueira (2003, p. 3) ainda explicita
que a sociedade “é desafiada a produzir juízos de valor e formular escolhas sem apenas conformar-se ao




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pré-estabelecido, reinventando e reconstruindo-se para fazer frente a novos desafios (GIDDENS, 1999;
CASTELLS, 1999) e deliberando coletivamente”.
No Quadro 9, portanto, encontra-se reproduzida uma coluna do Quadro 5 apresentado na subseção 3.2.1,
relativo aos “Indicadores em Assistência do Instituto Vita” desde o ano da sua fundação até o ano de 2019,
na qual foram também introduzidos os indicadores de cirurgiões treinados e de projetos de pesquisa em
andamento, para efeito de comparação. A ela se soma uma terceira coluna, agora com esse total
abrangendo o conjunto de atividades até dezembro de 2020.

Quadro 9: Indicadores em Assistência do Instituto Vita

Indicadores Total de 2004 a 2019 Total até 2020
Cirurgias 864 896

Consultas médicas 14.687 15.056
Exames laboratoriais e de imagem 1.889 1982

Sessões de reabilitação e prevenção 60.491 61.806
Atletas já beneficiados 3.847 4.012

Atletas admitidos e ativos 1.039 1.119
Cirurgiões treinados 62 71

Pesquisas e artigos publicados 66 102
Projetos de pesquisa em andamento8 79 105

Fonte: Adaptado de Instituto Vita (2019, c2022).

“Fazendo frente” ao desafio de uma pandemia de proporções devastadoras nacional e mundialmente,
observa-se, então, que, no decorrer de 2020 (ano, portanto, em que a pandemia causada pelo novo
coronavírus se instalou também no Brasil), o Instituto Vita realizou mais 34 cirurgias, mais 369 consultas
médicas, mais 93 exames e mais 1.315 novas sessões de reabilitação e prevenção, beneficiando, com isso,
mais 165 atletas, dos quais mais 80 já foram admitidos, retornando às suas atividades esportivas. Além
disso, mais nove cirurgiões foram treinados, outros 36 estudos acadêmicos foram publicados e mais 26
projetos de pesquisa foram colocados em andamento.
Ainda a propósito dessa atualização relativa ao ano de 2020 no Instituto Vita, soube-se que, no campo do
Ensino, também em parceria com a UNICID, o Instituto Vita ofereceu um curso de pós-graduação lato sensu
em Fisioterapia Esportiva e Ortopédica, promovendo treinamento profissional multidisciplinar e imersão
prática com um professor para cada aluno, bem como acompanhamento de consultas médicas e cirurgias.
Ainda nesse mesmo ano, o Instituto Vita implantou o S&ES Masterclass, programa de educação continuada
cujo objetivo consiste em aprimorar a formação de 40 fellows da especialidade de ombro e cotovelo
admitidos em 15 serviços credenciados na Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo.
Em vista disso, bem como de tudo o que foi retratado e esmiuçado até aqui, o estudo se encaminha para
as considerações finais concluindo que, em relação ao terceiro objetivo específico, as contribuições diretas
e indiretas viabilizadas pelo Instituto Vita alcançam, de fato, muito mais pessoas e áreas do que os próprios
pacientes-atletas que atende diretamente. A começar por estes, por si só já se poderia deduzir que os
impactos da atuação dessa OSCIP incidem indiretamente sobre dois outros universos — o do trabalho e o
do esporte —, uma vez que, para muitos desses pacientes-atletas beneficiados, o esporte, tal como já se
assinalou, também se configura como um ofício.


8 Esse dado reflete os estudos em andamento entre julho de 2019 e julho de 2020.




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Da mesma forma, em relação ao universo de trabalho daqueles outros tantos que desempenham o seu
papel de atletas na categoria de amadores, sendo remunerados por meio de outras atividades profissionais,
a contribuição do Instituto Vita também se estende. E, para o próprio universo do esportismo em si, a
qualidade, a eficiência e o cuidado contemplados nos atendimentos gratuitos realizados por essa
organização figura não apenas como uma contribuição, mas também como uma intervenção que pode ser
decisiva. A esse respeito, basta retomar o trecho do depoimento do parceiro no qual ele conclui que, no que
diz respeito àqueles atletas da sua ONG que foram operados pelos médicos do Instituto, caso não tivessem
sido operados por eles, seria impossível que o fossem “de outra forma”.
Nessa mesma linha, tomando-se os impactos indiretos do trabalho realizado pela entidade no campo
esportivo, importa também recuperar os depoimentos dos dois pacientes-atletas no Quadro 6, sobretudo o
primeiro: depois de achar que nunca mais lutaria, a medalhista no Mundial de Judô associa — explicitamente
— o seu retorno de “100%” aos tatames ao apoio da equipe do Instituto, pela qual “faz questão de ser
tratada”, mesmo morando em outra cidade.
Trata-se, pois, de um caso acerca do qual, assim como em tantos outros, poder-se-ia perguntar: não fosse
a oferta de consultas médicas, cirurgias, exames, fisioterapia e treinamento físico de excelência
disponibilizados gratuitamente por essa OSCIP (que foi criada justamente para ajudar milhares de atletas
brasileiros de alto desempenho), essa atleta, bem como os mais de mil outros já admitidos pelo Instituto e
de volta à ativa, disporia(m) de outros espaços gratuitos nos quais lograria(m) os mesmos resultados para
poder retornar ao esporte? Supondo que não os encontrassem, os resultados obtidos pelos esportistas
brasileiros nas mais diversas modalidades nas competições das quais participaram alcançariam os mesmos
índices? Os investimentos nessa área e a visibilidade do Brasil nessas competições seriam os mesmos?
Conforme o próprio encadeamento de perguntas permite refletir a respeito, verifica-se, pois, que os impactos
do Instituto Vita sobre os seus pacientes-atletas e sobre a comunidade esportiva que os envolve alcança,
por extensão, a própria sociedade civil.
Em relação às comunidades médica e científica, os impactos gerados pela organização em questão também
são notáveis, a contar, por exemplo, pelo que ocorreu em 2018, quando o Instituto se tornou centro de
referência da Fundação AO na América Latina para aprimoramento em cirurgia bucomaxilofacial, assim
como a se considerar a quantidade de publicações acadêmicas assinadas pelos seus colaboradores,
incluindo-se aí novos mestres e doutores.
Ao final, portanto, é possível afirmar — e, agora, em definitivo — que, provocados por uma OSCIP com
todas as particularidades do Instituto Vita, os impactos aqui analisados individual e conjuntamente, direta e
indiretamente, configuram-se como desdobramentos dos próprios objetivos institucionais dessa entidade —
quais sejam, prestar assistência a atletas que necessitam de atendimento especializado, atuar na prevenção
de lesões esportivas e buscar aprimoramento científico pela geração de conhecimento e pela criação de
modelos de ensino e pesquisa.


4. Conclusões:

A partir do conjunto de iniciativas na metodologia adotada, foi possível constatar os impactos do Instituto
Vita para o atendimento ortopédico e a reabilitação de atletas carentes das mais diferentes modalidades,
alcançando-se, dessa forma, o objetivo geral deste estudo. Ainda mais especificamente, graças ao




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entendimento do seu método de atuação, pôde-se observar ainda que esse impacto se estende também às
atividades de ensino e pesquisa, configurando, assim, o tripé Assistência-Ensino-Pesquisa, alcançando
diferentes comunidades e áreas, bem como toda a sociedade ao final.
Em vista disso, este estudo permite que seja entendido o amplo espectro de atuação das OSCs e, ainda
mais particularmente, de uma OSCIP junto à sociedade brasileira, visto que o Instituto Vita é uma entidade
que se dedica à promoção da saúde e, mais ainda, a um ramo específico da saúde, junto a um público que
também tem as suas próprias especificidades, como é o caso de atletas carentes de alto rendimento.
Por se tratar de um único estudo de caso — centrado, portanto, numa única instituição —, esta pesquisa
pode ser enriquecida com outros estudos qualitativos que analisem diferentes OSCs — OSCIPs e OSs —
dedicadas à saúde ou ao esporte (ou a ambos), dependendo do recorte em que os pesquisadores busquem
se aprofundar. Desta forma, a experiência individual de cada entidade pode ser enriquecida com as
melhores práticas das demais e, por meio dessa fertilização cruzada, o impacto gerado para a promoção da
saúde pode vir a ser potencializado pelas organizações que atuam nessa área.
Dada a amplitude das necessidades sociais existentes num país permeado por tantas desigualdades como
o Brasil, bem como diante de tantas possibilidades de atuação por parte das organizações da sociedade
civil, espera-se que a presente pesquisa possa ter contribuído no sentido de fazer avançarem os estudos
que se debruçam sobre essa temática no meio acadêmico, de modo que ela possa ser examinada sob
diversas perspectivas, dentro e fora da área da Gestão Social.


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