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ISSN - 2237-7840

A IMIGRAÇÃO E A TECNOLOGIA: desafios do século XXI
THE IMMIGRATION AND THE TECHNOLOGY: challenges of the 21st century


Roberto Vilmar Satur 1
Guilherme Ataíde Dias 2



Resumo:
Trata da discussão sobre o desafio de ser imigrante e refugiado e como a cultura
digital podem contribuir para que o ato de estar em terras estrangeiras seja menos
complexo para quem lá chega. No século XXI a imigração e o refúgio não devem
mais ser tratados como se fazia nos séculos anteriores deixando as pessoas
completamente dependentes da sua própria sorte ou totalmente dependente da
boa vontade alheia. Com as tecnologias digitais é possível fazer com que a
informação chegue primeiro ou em tempo real ao imigrante ou refugiado e o alerte
sobre o que encontrará e como deve agir para que esse período de adaptação ao
novo ambiente tenha menos percalços. Assim, a vulnerabilidade deste e sua
exposição a violência psíquica e física se torna menor e a adaptação e a inclusão
podem ser mais rápidas na nova comunidade. O artigo usa metodologia qualitativa
com texto teórico bibliográfico e reflexivo. Conclui que pelas tecnologias é possível
promover o bem sem olhar a quem ou olhando por todos que estão fragilizados,
vulneráveis, inseguros por desconhecer o ambiente, a cultura e língua e assim
prevenindo-os da violência psíquica e física, protegendo-os da exposição
desumana e da exploração.
Palavras-chave:imigração; violência; interculturalidade; tecnologia; cultura digital.


Abstract:
Discusses the challenge of being an immigrant and refugee and how digital culture
can contribute to the act of being in foreign lands become less complex for those
who arrive there. In the 21st century, immigration and refugees should no longer
be treated as they were in previous centuries, leaving people completely
dependent on their own fate or totally dependent on the goodwill of others. With
digital technologies, it is possible to make information reach the immigrant or
refugee in real time and alert them about what they will find and how they should


1 Doutorando em Ciência da Informação pela UFPB, Mestre em Economia (UFPB), Especialista em Comércio Exterior (UNIJUI),
Bacharel em Administração (URI), Bacharel em Economia (UNIJUI). Atualmente é Professor de Negociações Internacional do Curso
LEA da UFPB. Já atuou na URI/RS, UNINJUI/RS, ULBRA/RS, UERGS/RS, GESTÃO & CIA/RS E COTRIJUI/RS. E-mail:
robertosatur@yahoo.com.br
2 Professor nos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCI e no Programa de Pós-Graduação em Gestão
nas Organizações Aprendentes - MPGOA, ambos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: guilhermeataide@gmail.com



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act so that this period of adaptation to the new environment has fewer mishaps.
Thus, their vulnerability and exposure to psychological and physical violence
becomes smaller and the adaptation and inclusion may be faster in the new
community. The article employs a qualitative methodology with bibliographic and
reflexive theoretical text. It concludes that using technologies, it is possible to
promote the good without looking at whom or looking at everyone who is fragile,
vulnerable, or insecure, because they do not know the environment, culture and
language and thus preventing them from psychic and physical violence, protecting
them from inhuman exposure and exploitation.
Keywords: immigration; violence; interculturality; technology; digital culture



1. Introdução

Migração é mobilidade na diversidade cultural. A diversidade cultural em sua interação pode ser de forma
trans, pluri ou intercultural. A transculturalidade propõe “um trânsito pelo que é comum, ao mesmo tempo
em que estabelece um intercâmbio a partir das bordas, e não se exige que nenhuma disciplina abandone
sua perspectiva, nem sua posição." (WEISSMANN, 2018, p. 25). Nesse caso, a autora afirma que as
pessoas interagem sem deixarem suas posições culturais iniciais. E percebe-se que nessa perspectiva há
relações e trocas superficiais pelas bordas sem sair das posições originais. Já a interculturalidade
“apresenta as culturas em conflito e em diálogo, ao mesmo tempo, não tentando obstruir as diferenças e
sim fazer com que elas conversem e se entrelacem." (WEISSMANN, 2018, p. 27). Na interculturalidade há
mais envolvimento entre os diferentes. O ato de imigrar é se envolver com outras culturas. Se esse
envolvimento será mais trans ou intercultural dependerá do quanto cada um vai se envolver com o diferente
e com a diversidade.



2. VIAJAR E IMIGRAR: Entre sonhos e pesadelos

O desejo de uma grande parte da população é viajar, conhecer o exterior, tirar férias em família numa viagem
dos sonhos conhecendo lugares diferentes para se impressionar e chamá-los de maravilhosos. Dificilmente
alguém se motivaria em viajar já com a ideia pretensa de não gostar da viagem e do local que foi conhecer.
Enfim, a maioria quer ser viajante ao menos uma vez na vida e de preferência mais de uma vez e ter boas
recordações da experiência. Todavia o ato de viajar para o exterior sempre teve alguns limitantes. Alguns
de ordem pessoal, outros de ordem socioeconômica, também tem os de ordem cultural e geralmente tem
muitos de ordem legal. Primeiro é preciso entender que:

O migrar, que envolve o mover-se, deslocar-se de um lugar ao outro, implica
necessariamente o contato com o diverso, pertencer a uma cultura, a uma forma de
compreender o mundo e passar a conviver com outra, a partir do deslocamento geográfico.
(OLIVEIRA, 2012, p. 85)



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Isso entusiasma num primeiro instante, mas pode levar a frustrações logo em seguida e a possível
adaptação numa terceira etapa para quem resistiu ao segundo momento. Afinal, migrar envolve mover-se
“de um local para o outro, implica necessariamente um contato com o diverso, pertencer a uma cultura, a
uma forma de compreender o mundo e passar a conviver com outra, a partir do deslocamento geográfico.”
(OLIVEIRA, 2012, p. 85).
O cidadão usualmente vive quatro fases ao imigrar. No primeiro estágio vive a lua-de-mel fascinado com as
novidades que encontra na nova cultura e local. Num segundo momento vem o choque cultural, em que o
confronto com os usos e costumes e as condições reais do dia a dia, do cotidiano, gera sentimento de
inadequação, desconforto, frustração e até hostilidade. No terceiro estágio vem a fase de aculturação, em
que o imigrante vai aprendendo a conviver com um comportamento mais próximo ao comportamento que
tem a população local, numa fase de flexibilidade, aprendizado e busca por comportamentos mais
adequados, já convencido que ele não mudará o local onde é imigrante e sim ele é quem precisa mudar
para se adaptar melhor aquela comunidade. E finalmente o imigrante chega na fase chamada de
estabilidade em que o indivíduo se habitou a ter comportamentos adequados a cultura local, a partir do que
aprendeu com a aculturação. Nessa fase ele pode ser uma pessoa com (a) discriminação em que se ajusta
a realidade local porque é necessário, mas não concorda e não aceita o partes do comportamento local
mesmo convivendo lá; ou pessoa com (b) ajuste bicultural, que se adaptou a viver na nova cultura, mas não
deixou a antiga cultura; ou alguém que (c) voltou a viver a lua-de-mel com a cultura em questão, tomando
como sua tal cultura, (FURHAM; BROCHNER, 1986; BLACK; MEDENHALL, 1990). Isso pode ser
representado como segue (vide Figura 1):

Figura 1: Curva da Adaptação Cultural


Fonte: Adaptado de Furham e Brochner (1986)

Mesmo admitindo que as fazes iniciais de choque cultural não são a maravilha sonhada, o fluxo migratório
mundial não para de crescer: “las migraciones que han tenido lugar desde princípios del siglo XXI no tienen
precedentes, ya que recientemente éstas han alcanzado su mayor volumen en la historia y presentan
características que las diferencian de las observadas en periodos anteriores, [...].” (GODÍNEZ-MONTOYA;
FIGUEROA-HERNÁNDEZ; PÉREZ-SOTO, 2014, p. 14). Portanto, emigrar e imigrar são processos em curva
ascendente e que tendem a ser cada vez mais amplificados.



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Migrar, especialmente imigrar é estar disposto a lidar e superar barreiras. Algumas dessas barreiras são
apenas burocráticas ou advindas das diferenças culturais de vivência ou o desconhecimento sobre a língua
ou sobre o novo, mas outras são expressões diversas de violência explícita ou disfarçada, podendo elas
serem psíquicas ou físicas. Todas tendem a gerar adrenalina e emoção. Como afirmam Terrazas, Vitalle e
Pires (2022, p, 127), inspirados em diversos autores, o ato de imigrar implica em mudanças radicais: “O
imigrante passa por rupturas significativas de laços familiares, ambientais e culturais. Além disso, o sujeito
vivencia uma transição social que implica alterações do campo jurídico, social, físico e psíquico.” Nem todas
as pessoas têm estrutura psíquica e física para suportar tais mudanças por muito tempo, até se adaptarem.
Um dos obstáculos é a barreira fruto da diversidade cultural e envolve, por exemplo, conhecer outras línguas
para se comunicar em ambientes interculturais. Outra barreira é o processo, frequentemente moroso, para
estar ou ficar legalizado no país estrangeiro. Esse processo é quase sempre lento e envolve burocracias e
controles de governos nacionais que nem sempre liberam a visita e especialmente a imigração e, então,
gasta-se uma parcela significativa de tempo e dinheiro para poder estar devidamente legal noutro país. E o
“devidamente legal” é passo sine qua non para começar a ter acesso aos serviços públicos locais. Essa
morosidade as vezes é percebida até para quem adentra o país para trabalhar de forma legal, por exemplo
na condição de expatriado de uma determinada organização que manda seus colaboradores para filiais de
outros países, ou quem já chega com uma carta de aceite de trabalho de alguma organização daquele país.
Demora ainda mais para quem vai buscar por oportunidade de forma aleatória entrando inicialmente como
turista ou outra forma e depois buscando uma inserção no mercado de trabalho.
A concessão de visto de turista nem sempre é necessária, pois em muitos lugares o turismo é incentivado,
pois é entendida como uma passagem temporária e que deixará dividendos para a economia local. Todavia
a concessão de visto na categoria imigrante (incluindo trabalhadores contratados para o exercício
profissional, ou expatriado, etc.) e ficar mais tempo exige procedimentos burocráticos, rigorosos e custosos.
Para quem pensa em ir ao exterior a estudos precisa da aprovação de instituição de ensino, se for para
fazer um intercâmbio de graduação, ou um “doutorado sanduíche”, ou outras qualificações diversas precisa
de convênios prévios entre a instituição de ensino que está e a do exterior que pretende ir. Para quem pensa
em ir para trabalhar, dependerá de conseguir uma vaga de trabalho para então entrar com o pedido de visto
de trabalho.
Mas dentre as muitas dificuldades é evidente que a questão financeira, para a maioria, ainda é a principal
barreira. Para o cidadão de país em desenvolvimento, em que normalmente a moeda local vale pouco em
relação as moedas de países desenvolvidos, o esforço que se empreende para poder ir ao exterior demanda
muitos recursos financeiros. Então, se forem estudantes, muitos dependem de bolsas de órgãos de fomento
ou de entidades internacionais que apoiam essas ações. Já quem pensa em imigrar para tentar trabalhar
ou residir no exterior chega muitas vezes a extremos como o de vender tudo que tem para tentar o desejo
almejado. São as formas que encontram para transpor a barreira financeira que impede tal sonho. Chegando
no país destino percebem que o preço do aluguel é caro, o custo de vida maior, o emprego e a renda não
aparecem tão rapidamente. Muitos conseguem, outros não resistem e precisam voltar. Muitos voltam em
pior situação emocional e financeira que a de quando partiram.
Devemos considerar ainda a existência da barreira de adaptação do imigrante. Muitos ao chegarem no local
vivem a chamada euforia inicial e a saudade em um momento seguinte. No início tudo é novidade e
interessante. Mas num segundo momento surge uma nova barreira que é o fato de o estrangeiro ter ido para
onde não conhece ninguém e nem sabe ao certo o que encontrará de fato. Ele começa a perceber que seus
títulos acadêmicos podem não ser válidos no novo país e precisará abrir processo de revalidação destes ou
voltar a fazer algum curso e isso demanda tempo e dinheiro; também pode perceber que muitas portas se
fecham por ser estrangeiro, por não conhecer a cultura local ou não falar bem o idioma, dentre outras razões;
que não tem os mesmos direitos que os nacionais possuem; que certas pessoas o evitam por não ser do



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local; que o funcionamento de tudo é diferente; que precisa pegar informações sobre tudo pois pouco sabe
e precisa recomeçar quase do zero. Dentre esses desafios iniciais está o ato de procurar casa para morar,
enfrentando resistências e exigências de garantias que nem sempre consegue fornecer. Findo essa etapa
já vem a necessidade de mobiliar a casa. Concomitante é necessário procurar escola para filhos, emitir
novos documentos, abrir conta bancária, tentar acessar o sistema de saúde, se legalizar junto a autoridades
nacionais, procurar emprego, dentre outros.
Em um curto intervalo de tempo o imigrante percebe que a rede de contatos e apoio que tinha ficou noutro
país. Os que você mais ama e que sabe que poderia contar numa emergência agora estão longe. Se dá
conta que não está mais na sua zona de conforto. Percebe que é preciso recomeçar. Inclusive as relações
terão que ser feitas e refeitas de novo. Terá que ter ânimo, disposição e força mental e física para todos
esses desafios. As vezes surge a vontade de voltar de onde veio. Mas, com o tempo, esse processo começa
a fluir e finalmente vem a adaptação ao local, começa-se a se adaptar com o local e com a comunidade
chegando um momento em que não quer mais retornar para o país de onde veio.



3. CULTURA DIGITAL: Ajudando no sonho, reduzindo o pesadelo do viajante e do imigrante


Vivemos em tempos de infosfera (Floridi, 2004, 2010), de cibercultura (Lèvy, 1998, 2004) ou cultura digital,
de metaverso, internet 5G e em breve a 6G, internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (AI). Mas isso
tem ajudado a sociedade a ser melhor? O imigrante tem obtido ganhos com tais avanços? É o que
tentaremos refletir a seguir.

3.1 Cultura Digital: o Viajante e o Imigrante que planejou a viagem

É inegável que a cultura digital, com a chegada e disseminação das tecnologias digitais da informação e
comunicação (TDICs) tem facilitado sobremaneira a vida do turista internacional e do imigrante. Sistemas
cada vez mais abrangentes de roaming internacional tem permitido que smartphones funcionem com
internet em diversos locais desde a chegada no país destino. Caso não funcione a compra de um chip de
telefone local normalmente resolve o problema. A internet cada vez mais rápida permite que o turista consiga
ter certa segurança sobre o que está fazendo quando está no exterior. Os smartphones cada vez com mais
aplicabilidades tem ajudado nisso. E por fim as plataformas digitais, especialmente os aplicativos, tem
permitido acesso a informação com usos diversos. Um sistema de localização diz onde está e como pode
chegar aonde se quer, direcionando o turista, e se não souber a língua local e nem tiver fluência numa língua
universal (ou essa for pouco praticada no local) já existem aplicativos que fazem tradução simultânea.
Embora não sejam aplicativos ideais para todas as funções profissionais ou de estudo, ao menos para
comunicações simples do dia a dia de um turista ajudam sobremaneira. Se o viajante precisar saber qual o
próximo trem, onde tem um restaurante ou hotel mais próximo, quais os pontos turísticos que ainda faltam
visitar, onde encontrar o posto da polícia de fronteira para encaminhar documentos, tudo ele consegue fazer
via TDICs. Boa parte dos procedimentos podem ser realizados por meio de computadores e celulares. Pode
até fazer tour virtual pelos locais antes de estar fisicamente neles graças a tais recursos digitais. Tudo isso



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serve para evidenciar como o estrangeiro, o turista internacional, o imigrante, está mais seguro e mais
empoderado depois que passou a contar com as TDICs como ferramentas de suporte. A cultura digital abriu
portas para o acesso mais fácil e rápido para as outras culturas. A cultura digital e as tecnologias
democratizaram o acesso ao mundo, ao menos para quem tem acesso a elas.

3.2 Cultura Digital e o Imigrante que não Planejou a Viagem

Todavia tudo que evidenciamos na seção anterior leva em conta um estrangeiro que, minimamente, se
planejou para ir e estar no exterior. Mas temos uma outra categoria de imigrante que vai ao exterior de forma
não planejada e nem sempre minimamente estruturado para tal. São casos de refugiados e exilados, por
exemplo. Imigrantes ilegais que chegam por conta de que fogem da crise econômica e política de seu país
também podem ser enquadrados nesse público. São os chamados refúgios humanitários (embora não tenha
uma previsão jurídica para concessão de visto de permanência por questão de catástrofes econômicas e
ambientais). Esse público normalmente veio sem condições adequadas, muitos foram explorados durante
a viagem por coiotes, alguns saíram fugidos e escondidos de seu país para não serem mortos, muitos
fugiram da guerra, outros da fome. Se a vida não é fácil para os imigrantes que se planejaram e fizeram o
processo de forma legal, imagine então como é a vida desse outro público que fica vulnerável aos mais
diferentes tipos de violência: fome, discriminação, exploração, assédio, preconceito, maus tratos, violência
física, indiferença, etc.
Há de se ter o cuidado de que ao defender os direitos dos imigrantes dizendo que eles são vítimas não se
dê aos gestores públicos e ao Estado o argumento que normalmente eles mais desejam que é o de mandar
o imigrante “de volta para casa”. Como afirma Mainwaring (2016, p. 300), muitas vezes, o uso inadequado
do argumento de “[…] migrants-as-victims reinforces state narratives that migrants arrive in states
‘accidently’, that they do not wish to remain, or that they belong and are safer at ‘home’.” Ou seja, de certa
forma, interessa ao estado alguns tipos de discursos que isenta o Estado a responsabilidade do cuidar das
pessoas e, em nome de um falso bem-estar, dá um destino a aquele ser humano que tira do Estado a
obrigação com ele, independente de como como ficará tal pessoa com aquela decisão e providência tomada.
E muitas vezes essa “devolução” ao país de origem fere o “princípio do direito internacional de non-
refoulement (não-devolução), segundo o qual nenhuma pessoa podia ser obrigada a retornar a um país em
que sua vida ou liberdade estivessem ameaçadas.” (DECKER, 2017, p. 40)
Esses “imigrantes” nem sempre escolheram estar nessa condição e naquele local onde não conhecem a
cultura, não sabem falar a língua, e nem sequer tem disponível às TDICs para lhes ajudar a orientar
minimamente. São grupos que ficam totalmente dependentes da boa vontade de governos locais, de
assistência de igrejas e Organizações Não Governamentais (ONGs) que tem ações solidárias nesse sentido.
Esses refugiados, muitas vezes chegam aos milhares num único momento indo para o mesmo local
(exemplo: fugindo de guerras) e acabam gerando determinado “tumulto” em comunidades locais até então
pacatas e gerando alguma resistência local a sua presença.
As informações constantes na rede mundial de computadores, os aplicativos de localização e de tradução
e outros, podem ajudar os imigrantes no seu desafio de se reencontrar e dar um novo rumo para a sua vida
e de sua família. Mas o desconhecimento, a língua desconhecida, a dificuldade de acesso e de uso de tais
ferramentas normalmente são o principal empecilho. Entram em cena novamente as casas de acolhimento
de instituições religiosas, de ONGs e as doações de pessoas, empresas ou entidades, bem como ações de
voluntários. Nesses locais, às vezes, são disponibilizados alguns computadores com internet que permitem
que os imigrantes busquem por mais informações e tentem entender onde estão e o que podem fazer.



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Quando já acolhidos e com os filhos na escola, o fato de alguns governos disponibilizarem chips com internet
e computadores, tablets ou smartphones para os alunos também tem ajudado nessa inclusão digital da
família do imigrante. Todavia toda essa providência, nem sempre acontece e não raramente, quando
acontece, é precária.
Black e Medenhall (1990), recomendam que o imigrante, para não ficar tão exposto em terras estrangeiras
durante o período inicial e no segundo momento durante a fase do choque cultural e de aculturação sugere-
se que ele passe, sempre que possível, por treinamento intercultural. Isso envolve assistência adequada
munindo este de acesso as informações, despertar para a conscientização cultural e sua diversidade;
desenvolver novo mapa cognitivo sobre as novidades; e treinamento experimental, onde é convidado a
experimentar o novo cultural. Segundo Miura e Gonçalves (2012, p. 252), é sempre interessante que se faça
“um treinamento envolvendo simulações e práticas para desenvolver as habilidades interpessoais e de
comunicação”.
Como mencionado previamente, as TDICs e a cultura digital, se bem usada, pode ser parceira de todas
essas etapas, sem exceção.


4. Considerações finais

As relações humanas precisam ser humanizadas. O ato de servir ao próximo precisa resgatar valores
antigos como o do ajudar ao próximo sem esperar nada em troca, simplesmente por que se deseja fazer o
bem para o outro, da mesma forma que gostaríamos de ser tratados se estivéssemos naquela condição.
As tecnologias são meios mais fáceis e rápidos de levar a informação a quem precisa. Para isso precisa-se
basicamente de três condições: dar a essas pessoas a possibilidade de ter acesso a tais tecnologias, ensiná-
las como buscar as informações em tais plataformas e, por fim, disponibilizar as informações de modo
didático que as pessoas possam compreender estas e se guiar por elas. Para isso é importante ter reunido
num único ambiente a informação necessária, no momento apropriado e no linguajar que quem dela precisa
possa compreendê-la. Isso envolve inclusive que esteja num idioma que a pessoa possa compreender.
Acredita-se que as TDICs podem não apenas ajudar os turistas, os intercambistas e os imigrantes que foram
para outros ambientes interculturais de modo planejado, mas que pode ajudar também a quem teve que
imigrar forçosamente fugindo de guerras, catástrofes, crises e perseguições. Para isso precisa-se preparar
as plataformas para que estas informem o que essas pessoas precisam saber sobre os locais para onde
estão indo e criar formas de que estas informações cheguem até elas.


Referências:

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