CONSIDERAÇÕES SOBRE A METÁFORA ANTROPOFÁGICA EM “O SOM DO RUGIDO DA ONÇA”, DE MICHELINY VERUNSCHK
Abstract
O presente artigo busca analisar a simbologia da fera como elemento que dialoga com a antropofagia oswaldiana no romance O som do rugido da onça, da escritora pernambucana Micheliny Verunschk. Buscaremos demonstrar como a figura do animal opera uma profícua simbiose com a protagonista, a criança indígena Iñe-e, e representa a busca por apropriação e vingança diante da violência colonialista, ao longo da re(a)presentação literária da formação nacional proposta pela autora. A deglutição da língua, da cultura, da historiografia do colonizador são o ponto de partida, portanto, para a “vingança” estabelecida pelos autores, que devoram o outro para denunciar o apagamento imposto aos sujeitos marginalizados pelos discursos oficiais. Nesse sentido, recorremos a pesquisadores como Ailton Krenak (2019), Eduardo Viveiros de Castro (2002) e Heloísa Toller Gomes (2011) para pensarmos as possibilidades de revitalização da metáfora antropofágica a partir da leitura crítica de nossa historiografia, destacando a onça como chave de leitura para a valorização da importância dos povos originários. Buscaremos comprovar, assim, como a literatura brasileira contemporânea confirma-se, sobretudo, como iniciativa de reelaboração antropofágica, visto que, além de subverter a centralidade do elemento europeu, propõe a concepção crítica de uma identidade nacional que não é fechada em si mesma.