Mente e natureza: O caráter distintivo da ação humana

Autores

  • Ana Margarete Barbosa de Freitas

Resumo

O debate contemporâneo em Filosofia da Mente, impulsionado
pelos avanços das pesquisas advindas das Neurociências e da
Inteligência Artificial, tem sido bastante diversificado e divide opiniões
a respeito do projeto científico para o estudo da mente, de uma
psicologia científica capaz de estabelecer leis estritas que expliquem e
predigam a ação humana.
De um lado, as investigações nas áreas da Neurociência e da
Inteligência Artificial concentram esforços na tentativa de reduzir a
mente ao cérebro. Esse projeto reducionista tem sido estimulado por
pesquisas que procuram compreender a base do comportamento e do
pensamento humano através de estudos da estrutura e funcionamento
do sistema nervoso. Essas pesquisas tentam correlacionar estados
mentais com atividades cerebrais e consistem em saber se o mental
pode ser descrito em termos totalmente não-intencionais, colocando
os humanos e todos os seres biológicos inteligentes como casos
particulares dos fenômenos físicos.
Por outro lado, sabemos por experiência própria que temos crenças,
sensações, pensamentos, sentimentos, emoções, desejos, intenções,
etc. e que estes estados caracterizam a nossa vida mental. Normalmente
nos referimos a estes estados internos para descrever e explicar os
nossos comportamentos, afirmamos que nossas ações foram causadas
por estes estados mentais subjetivos, em outras palavras, justificamos e
racionalizamos as nossas condutas utilizando um vocabulário psicológico
que designa entidades mentais – chamado de Psicologia Popular.
Será que um conhecimento completo das interações físico-químicas
do nosso sistema nervoso fará com que abandonemos as explicações
psicológicas das ações humanas? Um vocabulário fisicalista seria
capaz de abarcar toda a complexidade do comportamento humano?
Uma explicação física é suficiente para que possamos compreender as
nossas próprias ações e as dos outros indivíduos com quem interagimos
na nossa vida ordinária?
Parece que não há um acordo legítimo quanto à resposta a essas
questões, entretanto as pesquisas científicas direcionadas à análise do
cérebro corroboram cada vez mais a crença de que as atividades mentais
devem estar relacionadas com as operações de certos mecanismos
corporais, esses estudos empíricos comprovam que a mente é de fato
um fenômeno que faz parte do mundo natural.
A despeito da sua natureza material, este trabalho tem como
objetivo defender que os eventos mentais, na medida em que são
utilizados para descrever e explicar as ações humanas, não podem ser
reduzidos aos seus constituintes físicos, visto que o comportamento
dos seres humanos não pode ser explicado da mesma maneira que
explicamos o comportamento dos outros sistemas físicos. Há algo na
ação humana – o seu caráter intencional – que a distingue da conduta
dos outros artefatos materiais, isso impede qualquer tipo de redução
dos conceitos psicológicos aos conceitos das ciências naturais.
Assim, a primeira parte desse trabalho versará sobre o significado
do naturalismo, esclarecendo os seus principais conceitos e teses que
influenciaram a perspectiva fisicalista no estudo da mente. Logo em
seguida, será apresentada uma versão fisicalista não-reducionista dos
eventos mentais, mais especificamente, a tese do Monismo Anômalo de
Donald Davidson, segundo a qual os eventos mentais estão relacionados
causalmente aos eventos físicos, entretanto não podem ser explicados
pelas ciências físicas, pois a sua explicação perpassa pela interpretação
linguística e abrange uma relação complexa com outros eventos e
condições mentais, cuja descrição física não consegue abarcar.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BENNETT, M. R. & HACKER, P. M. S. Fundamentos Filosóficos da

Neurociência. Trad. Rui Alberto Pacheco. Lisboa: Instituto Piaget,

BAKER, Lynne R. Saving Belief: A critique of physicalism. New Jersey:

Princeton University Press, 1987.

CHURCHLAND, Paul. Eliminative Materialism and the Propositional

Attitudes. In: The Journal of Philosophy, (78) 2, 1981, p. 67-90.

___. Folk Psychology and the Explanation of Human Behavior. In:

Philosophical Perspectives, vol. 3, Philosophy of Mind and Action

Theory. Blackwell Publishing, 1989, p. 225-241.

DARDIS, Anthony. Mental Causation: the mind-body problem. New

York: Columbia University Press, 2008.

DAVIDSON, Donald. Essays on Actions and Events. 2ª Ed. Oxford:

Oxford Clarendon Press, 2001.

___. Psychology as Philosophy. In: Essays on Actions and Events. 2ª Ed.

Oxford: Oxford Clarendon Press, 2001a.

___. Mental Events. In: Essays on Actions and Events. 2ª Ed. Oxford:

Oxford Clarendon Press, 2001b.

___. The Material Mind. In: Essays on Actions and Events. 2ª Ed.

Oxford: Oxford Clarendon Press, 2001c.

DE CARO, Mario & MACARTHUR, David. Naturalism in Question.

Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2004.

HORGAN, Terence. Physicalism. In GUTTENPLAN, S. (Ed.). A

Companion to the philosophy of mind. Oxford: Blackwell, 1995, p. 471-479.

INWAGEN, Peter van. What is naturalism? What is analytical philosophy?

In: CORRADINI, A.; GALVAN, S.; LOWE, E. J. (Eds.). Analytic Philosophy

without Naturalism. London and New York: Routledge, 2006.

MASLIN, K. T. Introdução à Filosofia da Mente. Porto Alegre: Artmed, 2009.

MELNYK, Andrew. Physicalism. In: STICH, Stephen; WARFIELD,

Ted. The Blackwell Guide to Philosophy of Mind. Oxford: Blackwell

Publishing. 2003, p. 65-84.

ROSENTHAL, D. M. Identity Theories. In: GUTTENPLAN, S.

(Ed.). A Companion to the philosophy of mind. Oxford: Blackwell,

, p. 348-355.

PAPINEAU, David. The rise of physicalism. In: GILLETT, C.;

LOEWER, B. (Eds.). Physicalismand Its Discontents. Cambridge:

Cambridge University Press. 2001, p. 3–36.

PETTIT, Philip. A definition of physicalism. In: Analysis, v. 53, n. 4, Out.

p. 213-223.

PLACE, Ullin T. (1956) É a consciência um processo cerebral? In:

British Journal of Psychology, XLVII: 44-50. Trad. Saulo de Freitas

Araujo. Disponível em: <http://www.filosofiadamente.org/images/

stories/textos/utplace.doc> Acesso em: 28 março 2008.

PUTNAM, Hilary. Corda Tripla: mente, corpo e mundo. Trad. Adail

Sobral. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2008.

SEARLE, John. Mente, Cérebro e Ciência. Trad. Artur Morão. Lisboa:

Edições 70, 1984.

SMART, John J. C. Sensations and brains processes. In: HEIL, John

(Ed.). Philosophy of Mind: a guide and anthology. Oxford and New York:

Oxford University Press, 2004, p. 116-127.

STICH, Stephen. From Folk Psychology to Cognitive Science: The Case

Against Belief. Cambridge, Mass.:MIT, Bradford, 1983.

STOLJAR, Daniel. Physicalism. In ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford

Encyclopedia of Philosophy. 2009. Disponível em: <http://plato.stanford.

edu/archives/fall2009/entries/physicalism/> Acesso em: Jan. 2011.

Downloads

Publicado

2022-04-12

Como Citar

Barbosa de Freitas, A. M. (2022). Mente e natureza: O caráter distintivo da ação humana. Argumento, (11), 33–48. Recuperado de https://periodicos.ufba.br/index.php/argum/article/view/29382

Edição

Seção

Artigos