@article{Barbosa de Freitas_2022, title={Mente e natureza: O caráter distintivo da ação humana}, url={https://periodicos.ufba.br/index.php/argum/article/view/29382}, abstractNote={<p>O debate contemporâneo em Filosofia da Mente, impulsionado<br />pelos avanços das pesquisas advindas das Neurociências e da<br />Inteligência Artificial, tem sido bastante diversificado e divide opiniões<br />a respeito do projeto científico para o estudo da mente, de uma<br />psicologia científica capaz de estabelecer leis estritas que expliquem e<br />predigam a ação humana.<br />De um lado, as investigações nas áreas da Neurociência e da<br />Inteligência Artificial concentram esforços na tentativa de reduzir a<br />mente ao cérebro. Esse projeto reducionista tem sido estimulado por<br />pesquisas que procuram compreender a base do comportamento e do<br />pensamento humano através de estudos da estrutura e funcionamento<br />do sistema nervoso. Essas pesquisas tentam correlacionar estados<br />mentais com atividades cerebrais e consistem em saber se o mental<br />pode ser descrito em termos totalmente não-intencionais, colocando<br />os humanos e todos os seres biológicos inteligentes como casos<br />particulares dos fenômenos físicos.<br />Por outro lado, sabemos por experiência própria que temos crenças,<br />sensações, pensamentos, sentimentos, emoções, desejos, intenções,<br />etc. e que estes estados caracterizam a nossa vida mental. Normalmente<br />nos referimos a estes estados internos para descrever e explicar os<br />nossos comportamentos, afirmamos que nossas ações foram causadas<br />por estes estados mentais subjetivos, em outras palavras, justificamos e<br />racionalizamos as nossas condutas utilizando um vocabulário psicológico<br />que designa entidades mentais – chamado de Psicologia Popular.<br />Será que um conhecimento completo das interações físico-químicas<br />do nosso sistema nervoso fará com que abandonemos as explicações<br />psicológicas das ações humanas? Um vocabulário fisicalista seria<br />capaz de abarcar toda a complexidade do comportamento humano?<br />Uma explicação física é suficiente para que possamos compreender as<br />nossas próprias ações e as dos outros indivíduos com quem interagimos<br />na nossa vida ordinária?<br />Parece que não há um acordo legítimo quanto à resposta a essas<br />questões, entretanto as pesquisas científicas direcionadas à análise do<br />cérebro corroboram cada vez mais a crença de que as atividades mentais<br />devem estar relacionadas com as operações de certos mecanismos<br />corporais, esses estudos empíricos comprovam que a mente é de fato<br />um fenômeno que faz parte do mundo natural.<br />A despeito da sua natureza material, este trabalho tem como<br />objetivo defender que os eventos mentais, na medida em que são<br />utilizados para descrever e explicar as ações humanas, não podem ser<br />reduzidos aos seus constituintes físicos, visto que o comportamento<br />dos seres humanos não pode ser explicado da mesma maneira que<br />explicamos o comportamento dos outros sistemas físicos. Há algo na<br />ação humana – o seu caráter intencional – que a distingue da conduta<br />dos outros artefatos materiais, isso impede qualquer tipo de redução<br />dos conceitos psicológicos aos conceitos das ciências naturais.<br />Assim, a primeira parte desse trabalho versará sobre o significado<br />do naturalismo, esclarecendo os seus principais conceitos e teses que<br />influenciaram a perspectiva fisicalista no estudo da mente. Logo em<br />seguida, será apresentada uma versão fisicalista não-reducionista dos<br />eventos mentais, mais especificamente, a tese do Monismo Anômalo de<br />Donald Davidson, segundo a qual os eventos mentais estão relacionados<br />causalmente aos eventos físicos, entretanto não podem ser explicados<br />pelas ciências físicas, pois a sua explicação perpassa pela interpretação<br />linguística e abrange uma relação complexa com outros eventos e<br />condições mentais, cuja descrição física não consegue abarcar.</p>}, number={11}, journal={Argumento}, author={Barbosa de Freitas, Ana Margarete}, year={2022}, month={abr.}, pages={33–48} }